Desfile cívico de 7 de setembro em São José de Mipibu, no ano de 1970

Cristóvão Cavalcante – Mipibuense residente no Rio de Janeiro Na década de 30 e início dos anos 40, existia uma escola primária (‘particular’), da professora ‘dona Finfinha’, localizada na rua Cônego Lustosa, na época, conhecida por Ladeira do Japão.

Cristóvão Cavalcante - Mipibuense residente no Rio de Janeiro

Na década de 30 e início dos anos 40, existia uma escola primária ('particular'), da professora 'dona Finfinha', localizada na rua Cônego Lustosa, na época, conhecida por Ladeira do Japão. Havia uma rivalidade entre os alunos do Grupo Escolar 'Barão de Mipibu'. Estes últimos, zombavam o que àqueles estudavam na Escola de 'dona Fifinha', chamando-os de "Cambada de Finfinha".

Grupo Escolar Barão de Mipibu

Havia uma trova, que recitavam, como provocação:

O morcego bateu asas  
da cidade pra redinha,  
minha gente lá vem  
a 'Cambada de Finfinha'. 

Em 1948, o atuante padre Antonio Barros, da Paróquia de Sant'Ana e São Joaquim, transforma um velho casarão, existente na Rua 15 de Novembro e com apoio de paroquianos funda o Instituto Pio Xll, que funcionava, também, como internato, para crianças e jovens mais humildes e que residiam nas comunidades rurais.

Padre Antonio Barros

O novo estabelecimento educacional logo atraiu alunos que, antes, estudavam na 'Escola de dona Finfinha', que terminou fechando.

A rivalidade dos alunos do Grupo Escolar Barão de Mipibu passou a ser, a partir de então, com os alunos do Instituto Pio XII. Quem estudava na Escola Barão de Mipibu era provocado pelo nome 'Barrão'. Estes, ridicularizavam os que estudavam no Instituto Pio Xll, de 'Pio-Pio' .

Alunas do Grupo Escola Barão de Mipibu
Alunos do Instituto Pio XII - Arquivo Luiz Olinto
Alunos(as) do Instituto Pio XII - Arquivo Luiz Olinto

Até no mês Mariano (Maio) havia concorrência entre as duas escolas. Havia a noite dedicada à Escola Barão de Mipibu, noite do Instituto Pio XII, noite dos Motoristas… Nem aí havia trégua. A rivalidade era para apresentar a noite mais bonita, com mais fogos, etc.

Dia 7 de Setembro, em comemoração à Independência do Brasil, era um feriado nacional, celebrado com desfile na cidade. O desfile era obrigatório, na época, para todos estudantes. A população prestigiava em peso.

Era um orgulho poder representar a escola no desfile. Os ensaios a coreografia para a apresentação, começavam dois meses antes. Na data cívica, os alunos de uniformes novos, bandeirinha do Brasil, com laços de fita, nas camisas e blusas, nas cores verde e amarelo, por ocasião do hasteamento da Bandeira do Brasil, seus estabelecimentos, cantavam os hinos Nacional, da Independência, e o hino da Bandeira.

Nessa data, as duas instituições eram estimuladas pelas direções, na disputa, para melhor se apresentar em público Cada qual querendo mostrar que era melhor que a outra.

Os desfiles, implicitamente, externavam qual classe social os alunos pertenciam. Os alunos do Pio XII  pertenciam a uma classe 'elitizada' por ser uma escola particular. Enquanto o Grupo Escolar Barão de Mipibu, mesmo sendo um educandário público, não queria ficar atrás, já que isso não era motivo de tornar o aprendizado inferior, pelo contrário, lá estudaram muitas personalidades da sociedade e política de São José de Mipibu.

Concluintes de 1968 do Curso Ginasial de São José de Mipibu

Nos anos 60, a Banda de Música da Aeronáutica foi convidada, para desfilar com os alunos do Grupo Escolar Barão de Mipibu. "Deu pano pras mangas!"(quando se conclui que uma situação, discussão, etc, irá se estender excessivamente). A bronca foi grande.

Dez anos depois, ou seja, em 1970, a professora Elita Palhano, foi nomeada diretora da Escola Barão de Mipibu. Na mesma época, sua irmã, professora Euza Palhano, tinha sido convidada para assumir a direção do Instituto Pio XII. Com as irmãs, na direção dos estabelecimentos escolares, houve uma trégua e uma união entre as escola.s

O desfile de 7 de Setembro de 1970, ficou na história. houve uma união nunca vista. No prédio da Escola Barão de Mipibu, no curso noturno, a noite funcionava o Ginásio Estadual de São José de Mipibu.

Alunos do Ginásio Estadual Barão de Mipibu

Vou narrar um fato ocorrido, por ocasião desse desfile.

Um garoto, conhecido na cidade por Luiz de França, havia estudado no Instituto Pio XII, onde fez o Curso Primário. Concluindo, continuou os estudos no Ginásio Estadual Barão de Mipibu. Inteligente e bastante comunicativo, Luiz de França convidou os amigos, Lourival Bezerra Cavalcanti e e Antônio Lourenço e planejaram algo fantástico pra o desfile alegórico, no 7 de Setembro de 1970.

Nessa época, ocorreram dois grandes acontecimentos que teve repercussão em todos os meios de comunicação: a chegada do homem à lua, no dia 20 de Julho de 1969 e a vitória da Seleção Brasileira de que sagrou-se Tri-Campeã de Futebol, no dia 21 de Julho de 1970, no México.

O jovem Lourival Bezerra, muito habilidoso, construiu uma réplica da cápsula da nave espacial Apolo 11 que levou uma missão espacial, realizada pela Nasa e que resultou na chegada do homem à Lua. Era uma réplica perfeita.

Contando com a ajuda do marceneiro José Corcino (in memória) foi construída a armação com madeiramento leve, revestindo com papelão. Os trabalhos dessa cápsula espacial foi montada numa sala da Escola Barão de Mipibu. Já o modelo da taça Jules Rimet, ganha pela Seleção Brasileira, no México, foi confeccionada por alunos e professores do Instituto Pio Xll. Os macacões dos 'Astronautas', Luiz manteve contato e orientou uma costureira, que confeccionou os macacões dos três astronautas.

Os astronautas eram representados por José Américo, Vavá Marques ( conhecido por 'Pombinho') e o próprio Luiz de França. Por outro lado, Lourival, construiu uma réplica de um avião, criando admiração e embelezando e recebendo aplausos da multidão que se postava nas calçadas para vê o desfile cívico.

Quem desfilou com a réplica da Taça Jules Rimet, foi uma linda garota de nome Laíka Amaral, irmã da professora e pesquisadora Lúcia Amaral. A garota ficou durante todo o desfile com os braços erguendo a taça. A réplica do avião, construído por Lourival, era empurradas por dois rapazes, sobre uma estrutura montada sobre pneus.

A cápsula espacial foi transportada na caminhoneta, toda decorada, de propriedade de Manoel Golinha, O equipamento espacial sobressaia, tendo os dois astronautas perfilado, um em cada lado. No interior da cabine permanecia o jovem Luiz de França (idealizador do projeto). O veículo para diante do palco principal, onde estavam as autoridades, A De repente, abre-se uma portinhola e surge Luiz de França - o terceiro astronauta com duas bandeirinhas: uma do Brasil e a outra dos Estados Unidos, sendo calorosamente aplaudido por todos que estavam prestigiando o desfile.

Esse carro alegórico da nave Apolo 11, foi um maior sucesso do desfile. Teve tanta repercussão, que cidades vizinhas convidaram para desfilar em seus municípios. Em Pedro Avelino (região central), por ocasião da apresentação, Luiz de França colocou um pisca-pisca e uns artefatos que soltava rolos de fumaça. Grande parte da pessoas que prestigiavam o desfile, correu com medo, achando que a nave espacial iria decolar.

Foi um trabalho de equipe, mas quem realmente ficou 'famoso' foi Luiz de França. Teve até convite para fazer uma filmagem, o que não foi aceito por ser muito trabalhoso. A união das três escolas, antes rivais, revolucionou o desfile de 7 de Setembro de 1970Até hoje, os contemporâneos mipibuenses, que vivenciaram essa época, relembram o desfile de 1970, que ficou na história de São José de Mipibu.

2 respostas para “Desfile cívico de 7 de setembro em São José de Mipibu, no ano de 1970”

  1. Valeu amigo Dedé!
    O passado nos direciona para um futuro melhor.
    Obrigadooooooo.

  2. Francisco Eilson da Silva disse:

    Parabéns para o blog pela importante reportagem… Conheci seu José Corcino (In memoriam)que ajudou na construção da réplica da Apolo 11 Em 1982 fomos pra uma festa em São José de Mipibu e não tinha um ponto de apoio… Seu José Corcino nem nos conhecia e ofereceu sua casa para tomarmos banho e jantar,(Um banquete)e depois fomos pra festa com um dos seus filhos. Observação fiz uma síntese do fato. Depois se for possível quero contar na íntegra. Tenho dito.