Jornalismo com ética e coragem para mostrar a verdade.

junho 26, 2022

Casas e casarões de São José de Mipibu (19)

O agricultor Francisco de Sales e Silva, foi  patriarca da tradicional e numerosa prole que, com as famílias Ribeiro Dantas e Duarte, juntas, dominaram por muitas décadas a política e a economia rural do município de São José de Mipibu, assumindo altas funções nos poderes Executivo Legislativo e Judiciário, na cidade e na capital do […].

O agricultor Francisco de Sales e Silva, foi  patriarca da tradicional e numerosa prole que, com as famílias Ribeiro Dantas e Duarte, juntas, dominaram por muitas décadas a política e a economia rural do município de São José de Mipibu, assumindo altas funções nos poderes Executivo Legislativo e Judiciário, na cidade e na capital do Estado.

Cerca de doze descendentes das citadas famílias ingressaram em seminário e se ordenaram padres, sendo que três deles atingiram o alto escalão da hierarquia eclesiástica do país. O então cardeal emérito do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales, o então Arcebispo Metropolitano de Natal, Dom Heitor Sales e Dom Manoel Tavares, bispo emérito de Caicó, por muito tempo.

Pelo relato que se tem daqueles que pesquisaram sobre o movimento em prol da independência do Brasil e que culminou com a eclosão da revolução de 1817, as reuniões para a divulgação das ideias liberais e adesão do maior número de simpatizantes, eram realizadas em pontos afastados da capital, inclusive, na cômoda e espaçosa Casa Grande do Sítio Ribeiro. Ali o Coronel de Milícias, André de Albuquerque, mentor do movimento na província do Rio Grande, conferenciava com os homens de influência de Natal e vilas do interior, ocasião em que era oferecido aos convivas um farto banquete, servido em baixelas de prata.

A mencionada Casa Grande foi construída entre o final do século XVIII e o início do século seguinte.

Na mesma época, foi erguida uma capela em estilo colonial barroco, em homenagem a São João e também montada em separado uma primitiva engenhoca movida à tração animal e destinada a fabricação de açúcar bruto e seus derivados e, por conseguinte, aquele local passou a ser a primeira sede da Fazenda Ribeiro.

Francisco Sales e Silva que deu início a formação do sólido patrimônio a ser legado a seus dependentes e descendentes, faleceu em 1781, deixando a herança para seus cinco filhos, entre eles o Major Alexandre Francisco de Sales Silva, na época, com 58 anos de idade, o qual passou a  gestor de todos os bens da família.

Foi casado com Cândida Lucia da Encarnação com quem teve nove filhos. Faleceu em 1883 e sua esposa também veio a falecer 6 anos depois. O filho mais velho – Horácio Cândido Sales e Silva, assumiu a direção dos negócios deixados pelo pai. Comprou as partes herdadas por seus irmãos, tornando-se o único proprietário da Fazenda Ribeiro.

Com larga experiência e visão administrativa, pois, além de ser formado em Direito, exerceu os cargos de Promotor Público e Presidente da Intendência (correspondente a prefeito) do município de São José de Mipibu, de 1883 a 1884.

Sua primeira providência foi a transferência da sede da Fazenda para um local mais apropriado, onde foi construída nova Casa Grande, a capela cujos padroeiros são Sant´Ana e São Joaquim e ainda a casa destinada ao engenho.

Importou da Europa o maquinário e acessórios necessários a montagem da moenda do engenho a ser impulsionada a vapor de caldeira, em substituição a primitiva engenhoca movida à tração animal.

O Doutor Horácio casou-se duas vezes. Em primeiras núpcias em 1866 com Ana Vivina da Silva, que faleceu em 1877, deixando oito filhos e, em segunda, em 1878 com Joaquina Marcolina Ribeiro Dantas. Desse casal nasceram cinco filhos dentre os quais o desembargador Celso Dantas Sales, pai saudoso Cardeal Eugênio Sales e do Arcebispo Heitor Sales e de José Henrique Dantas Sales ('Major Dedé').

A cidade de São José de Mipibu vista do alto da Fazenda Ribeiro.

Faleceu em 27 de setembro de 1903, deixando sete bens para a sua segunda esposa e filhos. D. Joaquina Marcolina, que faleceu no dia 27 de fevereiro de 1941. Os seus restos mortais e do falecido esposo Doutor Horácio foram sepultados ao lado do altar da capela ainda hoje existente na sede da Fazenda Ribeiro, conforme dados gravados na lápide dos túmulos.

O Major Dedé, após adquirir as partes dos outros herdeiros, do patrimônio deixado por seu pai, passou a ser, a partir da primeira metade do século passado, o legítimo proprietário da Fazenda e Engenho Ribeiro. Para acompanhar o constante crescimento da indústria açucareira e da pecuária nas várzeas férteis do município, aumentou o plantio de cana em suas terras e adquiriu matrizes para aperfeiçoar o rebanho de gado bovino criado nos pastos da fazenda.

Com essa providência fez duplicar a fabricação de açúcar mascavo e seus derivados, chegando a produzir cerca de 1200 sacas por safra. No pasto durante o dia e a tarde na bagaceira do engenho e no curral, podia ser visto e admirado o grande plantel de animais de raça e comum pertencentes aquela fazenda.

Na mesma época seu filho Jose Sales, coadjuvante nos negócios e administração da fazenda, adquiriu e montou nas dependências do engenho o equipamento necessário para destilação de aguardente de cana, o qual entrou em funcionamento imediatamente. A cachaça ali destilada passou a chamar-se Trairi. Tornou-se bastante apreciada pelos usuários do precioso liquido.

Depois de engarrafada e rotulada era distribuída no comércio local e outros distritos, para a devida revenda. O Engenho Ribeiro foi desativado na década de 70, do século passado e por consequência encerrou a produção do açúcar mascavo e seus derivados, inclusive, da apreciada cachaça Trairi.

O Major Dedé faleceu, em 21 de março de 1972, deixando a herança para D. Maria Adélia de Araujo Sales, com quem foi casado e para os três filhos. A partir dai todo o acervo patrimonial e serviço afeto a uma fazenda de médio porte passou a ser administrado por José Sales. Dona Adélia faleceu em 29 de novembro de 1991.

Já na década de 90, do século passado, seu filho José Eduardo Sales, passou a ser responsável pelos serviços relacionados a pecuária e distribuição das tarefas diárias aos trabalhadores da fazenda, inclusive, ficou com a incumbência de indenizar todos os trabalhadores antigos da propriedade, amparados pela legislação trabalhista em vigor no país.

José Sales faleceu em 1999, deixando viúva a Sra. Paula Frassinete Sobral Sales, com quem se casou em 1956 e teve quatro filhos, todos adultos. Realizado o espólio dos bens móveis e imóveis deixados pelo falecido, por ocasião da partilha entre os agraciados, Dona Nina, como é conhecida se tornou meeira de todo o patrimônio e a seu filho José Eduardo Sales, coube o quinhão da fazenda onde,, até hoje se encontra as ruínas da Capela São João.

Texto e fotos de autoria jornalista mipibuense Daltro Emerenciano e publicado em "Pedaços do nosso Rio Grande do Norte", o qual agradecemos.

Os comentários estão desativados.