Rita Lee – A Rainha do Rock; vá em paz
Gerson de Castro – É Jornalista Na inesquecível “Sampa”, Caetano a imortalizou como a melhor tradução da megalópole em plena formação.

Gerson de Castro - É Jornalista
Na inesquecível "Sampa", Caetano a imortalizou como a melhor tradução da megalópole em plena formação.
E ninguém melhor do que ela soube traduzir e expor a sede de liberdade de gerações inteiras, a minha em particular.
Rita, que em sua deliciosa autobiografia, confessou ter nascido "bipolar com o pé no trifásico", pautou com músicas inesquecíveis o movimento de jovens - meninas e meninos - em busca de libertação, liberação e autoafirmação.
A menina de "Ovelha Negra" se transformou em porta-voz dos sonhos de milhões.
Deboche, irreverência, ironia e vontade permanente de romper com tabus. Tudo isso está nas mais de 300 músicas que gravou.
Sem Rita, o rock não teria sido rock nem muito menos pop.
"Mania de Você" ensinou sedução; "Miss Brasil 2000", deboche; "Mutante", desejo de vingança.
E em "Baila Comigo", cravou os versos "Se Deus quiser, um dia eu morro bem velha/ Na hora H quando a bomba H estourar/ quero ver da janela/ entrar no pacote/ de camarote"
Seu desejo se concretizou, Rita.
A bomba H não estourou, mas outras andam pipocando neste País faz tempo.
E no pacote você está e vai continuar para sempre, enquanto houver corações jovens e mentes ávidas por liberdade.
Milhões gostariam de estar na sua Sampa para se despedir de você. E em pleno Planetário, ali no Ibirapuera de sua infância e da memória afetiva de legiões de nós.
Você nunca quis ser, mas seus súditos a fizeram rainha do rock.
Vá em paz, Rita Lee.
E não ligue se questionarem a vida louca que você viveu. Sabemos que ela foi plena e sua música fez "um monte de gente feliz".
Vá em paz, minha rainha.
E deixe que "os acomodados que se incomodem".