Olha “Fafá de Belém”

março 11, 2023

José Alves – É Jornalista e historiador Era um domingo qualquer, da década de 70.

José Alves - É Jornalista e historiador

Era um domingo qualquer, da década de 70. Década que passou a se chamar "Geração 70".

Numa ampla residência, no bairro de Petrópolis, em Natal, ouvia-se uma algazarra, de dar dor de cabeça em cuidadora de criança em creche. Eram adolescentes, se preparando para irem tomar banho na Praia do Forte, na capital potiguar.

- Onde está meu biquini? gritava Maria, a mais nova, das quatro filhas do casal paraibano, que veio residir em Natal.

Num canto do quarto, Zenaide, a mais velha se olhava no espelho da penteadeira, ajeitando o cabelo, talvez memorizando a famosa frase atribuída à rainha má da fábula da Branca de Neve: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?”

As outras duas, Neide e Mariana, colocavam numa bolsa, comprada na Mesbra, em uma das viagens que fizeram a Recife/PE, toalhas, outras roupas, etc. Maria, já de biquini, lembrou que não esquecessem os bronzeadores, feitos de óleo de beterraba. Tudo isso para pegar uma cor de 'jambo'.

O escritor e empresário, Elísio Augusto de M. e Silva, escreveu: "Novos costumes foram sendo incorporados à cidade, que começava a perder sua função provinciana. Natal era, na boca de todos, uma Rio de Janeiro pequena, com todas as modas e trejeitos de cidade pequena, metida à grande, não tenhamos a menor dúvida. Então, como dizia Jair Rodrigues em Disparada: “Prepare o seu coração para as coisas que eu vou contar…”

Na rua, sob a sombra de um pé de castanhola, o Opala, dirigido pela vizinha do casal paraibano já buzinava, para levá-las, à praia, conforme havia sido combinado, no dia anterior, com os pais das garotas. O veículo já vinha com mais cinco crianças e adolescentes. Imagine, dez pessoas dentro desse veículo. Umas no colo das outras e até no colo da motorista (na época, não havia blitz da Polícia Rodoviária).

E lá se vai o Opala, com o quebra vento, trazendo uma brisa para o interior do veículo. O som do toca fita era abafado pela barulho das conversas, onde todos queriam se fazer ouvir, aos mesmo tempo. "Loucura, loucura", como diria o apresentador Luciano Hucker.

Finalmente chegaram a Praia do Forte. O carro estacionou junto a calçada, coberta do areia das dunas, trazidas pelo vento. As jovens desciam em direção as águas da praia. Nas areias alvas faziam o cerimonial: um montinho de areia, estendiam as toalhas e começavam a passar o bronzeador, umas ajudando as outras. Depois de tudo isso ficavam deitadas com o bumbum empinados, atraindo os olhares dos marmanjos, que acabavam de bater uma peladas e passeavam entre aqueles corpos deitados, como sereias.

Era comum cochilar ao sol de propósito, achando que iria acordar com aquele bronzeado maravilhoso. Nas décadas de 70 e 80, as pessoas chegaram a passar Coca-Cola e até óleo de avião no corpo para se bronzear.  Já visualizou a cena? Se essas substâncias, em contato com altas temperaturas, são capazes de fritar alimentos, imagina o que podem fazer com a pele? Manchas irreversíveis e até mesmo queimaduras graves.

O sol a pino começa a esquentar. Os vendedores fazem a festa: vendem Didim, Dadá, tapioca, ginga, além de redes, chapéus, etc. Um senhorzinho,de uns 60 e pouco anos, empurra uma carroça, carregadas de coco e grita a pleno pulmão:

- Olha o coco verde.

Ao passar próximo as garotas, principalmente, de Mariana que tinha um belo par de peitos, de fazer inveja a Jojo Todynho. Gritava ainda mais alto:

- Olha Fafá de Belém.

Na época, o Fusquinha - como era chamado carinhosamente - recebeu o apelido de "Fafá de Belém" em homenagem a cantora paraense, que fazia sucesso com suas músicas e seus avantajados par de seios.

E sempre que o senhorzinho se aproximava na Praia do Forte, gritava, quase como uma provocação:

- Olha Fafá de Belém.

Nem adianta comentar a raiva que Mariana tinha ao avistar de longe a vinda do senhorzinho, , que não compreendia da vergonha que ela tinha dos seios Esse era o grande problema dela que, no futuro, veio a fazer uma cirurgia de redução de mama e hoje, não tem qualquer trauma sobre o assunto, apenas dar boas gargalhadas, quando lembra do episódio.

Uma resposta para “Olha “Fafá de Belém””

  1. Ana disse:

    Amei kkkk