O Sínodo e a Diocesaneidade

junho 5, 2024

Pe.

Pe. Matias Soares - Pároco da paróquia de Santo Afonso M. de Ligório - Natal-RN

A Igreja particular de Natal terá a oportunidade de fortalecer o sentido e a importância da Diocesaneidade com a celebração de um Sínodo. Quando pensamos em Diocesaneidade, ainda como um neologismo, estamos a tratar dos meios pelos quais são fortalecidos os organismos da Igreja Local, tendo em vista o seu processo de comunhão, participação e missão.

A Igreja no Brasil tem buscado o aprofundamento da relação entre a Diocesaneidade e a Sinodalidade, atenta em recepcionar os ensinamentos do Papa Francisco. Esse estilo da Igreja para o terceiro milênio, tão sonhado por ele, é uma urgência a ser levada a sério enquanto proposta teológica e revitalização de um ordenamento eclesiológico para os nossos tempos.

Num mundo marcado pelas concepções ideológicas, que nos levam à crise de relações profundas, a Igreja precisa fomentar a pastoral de conjunto, o fortalecimento da espiritualidade de comunhão, com uma catolicidade consciente de estar no mundo, aberta ao diálogo e à amizade social.

Segundo o Código de Direito Canônico, “o Sínodo diocesano é uma assembleia de sacerdotes e de outros fiéis da Igreja Particular escolhidos, que auxiliam o Bispo diocesano para o bem de toda a comunidade diocesana” (cf. cân. 460). De acordo com Gianfranco Ghirlanda, o Sínodo “é órgão de ‘participação’, que pode ser considerado o lugar da manifestação da ‘comunhão’ entre todas as categorias de fiéis, que operam na Diocese de acordo com sua condição e, consequentemente, suas diversas funções e ministérios.

O auxílio que o Sínodo presta ao Bispo não se limita à sua atividade legislativa, mas abrange ‘toda a área da atividade pastoral, doutrinal e administrativa’ (cf. “O Direito na Igreja, Mistério de Comunhão”. Pág. 629). O Sínodo será um instrumento que favorecerá a adequação, a atualização e a reordenação das estruturas eclesiais, tendo em vista o bem dos fiéis.

Desta forma, a Igreja de Natal assume o espírito conciliar de estar em constante reforma, atenta aos sinais dos tempos e aberta à ação do Espírito Santo que rege a sinfonia das palavras, pensamentos e anseios desta Porção do Povo de Deus.

No desenvolvimento do evento sinodal, a nossa Igreja Particular será chamada a pensar e visualizar as possibilidades de fortalecimento da Diocesaneidade. Há muitos meios e formas de avançarmos nesse processo de ordenamento e progresso a fim de que as ações se tornem visíveis e experienciáveis, enquanto concretização da universalidade da Igreja, aqui em nosso território.

É tempo de chamarmos todos para a ciranda. O movimento é pericorético: quem está na jurisdição canônica, que tem clareza do que é a Igreja e assume a proposta do ‘estilo sinodal’, tem que abraçar os projetos e orientações pastorais da nossa Igreja diocesana. É uma questão de fé e amor à Igreja. “Somos o Ícone da Trindade” (cf. B. Forte). Temos que ter atenção não ao ‘proselitismo tribal’, como tem acontecido em muitas formas de pensar e agir de algumas comunidades eclesiais.

Somos um Corpo Místico de Cristo. Rezamos um único Credo e estamos na mesma Barca de Pedro. O Sínodo será um momento favorável para fazermos uma caminhada de conversão e de proposições para uma ação missionária, pastoral e administrativa: ousada, corajosa e dócil ao Espírito que gera harmonia nas diferenças e jamais a divisão (cf. 1 Cor 12-14).

Quando escrevi sobre a Sinodalidade e a Diocesaneidade, afirmei que “com a vivência da Diocesaneidade se quer fortalecer as estruturas das Igrejas Particulares, pela via da sinodalidade, que é o ‘caminhar juntos’ de todos os agentes eclesiais, tendo por meta o anúncio permanente da Alegria do Evangelho, ou, como nos ensinou a V Conferência de Aparecida (2007), a vivência do Estado Permanente de Missão.

Com o aprofundamento do sentido da Diocesaneidade, o que se almeja é fazer com que, em meios as sombras de um mundo fechado (cf. FT, cap. I), as comunidades eclesiais não esqueçam as Dioceses como ‘lugares teológicos’, a partir dos quais e nos quais acontece a Igreja Universal/Católica” (cf. IHU-Unisinos – consulta: 04/06/24).

Com a realização do Sínodo também seremos interpelados a pensar o nosso lugar no mundo contemporâneo, especialmente enquanto pertencentes a um povo, com sua história e uma cultura. O elemento dialógico não pode ficar ofuscado das nossas intenções sinodais. Não esqueçamos de que tudo o que tem a ver com o humano nos diz respeito, enquanto Igreja. E agora, fica também a nossa atenção ao cuidado com a nossa casa comum, tendo em vista a consideração da “ecologia integral” (cf. LS. Cap. IV).

Enfim, a nossa abertura de coração para viver esse evento já deve ser contagiante. As nossas comunidades já podem colocar como intenção em cada missa celebrada, encontros e outras atividades eclesiais, o Sínodo como uma oportunidade de caminhada conjunta de nossa Igreja Local. Todos os sujeitos eclesiais devem ser inseridos na dinâmica e no desenvolvimento das várias etapas que são exigidas para a consecução dos objetivos propostos no decreto de convocação.

A responsabilidade é de todos nós. A Igreja de Natal tem uma história de protagonismo e de inserção na vida dos potiguares. A sua credibilidade transcende as referências personalistas, sem desconsiderar nenhuma delas. O profícuo êxito deste acontecimento, sem dúvida, tem na oração o seu elemento impulsionador. Em sintonia com toda a catolicidade, que foi convocada pelo Papa Francisco a se preparar para o Jubileu de dois mil e vinte cinco, nós também estaremos unidos em oração para celebrar e testemunhar uma Igreja diocesana com rosto e estilo sinodal. Assim o seja!

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