O SANTO E O CANALHA
Dodora Silva Maia – Escritora, pesquisadora e poeta de Apodi/RN Hoje li um artigo do Patriarca Davi Marroque, pastor da Igreja de Cristo, de Apodi e que na sua Palavra Pastoral escreveu um texto muito bonito, denominado ‘O SANTO E O CÍNICO”, numa alusão ao artigo do padre José Luiz Silva, um dos grandes intelectuais […].
Dodora Silva Maia - Escritora, pesquisadora e poeta de Apodi/RN
Hoje li um artigo do Patriarca Davi Marroque, pastor da Igreja de Cristo, de Apodi e que na sua Palavra Pastoral escreveu um texto muito bonito, denominado ‘O SANTO E O CÍNICO”, numa alusão ao artigo do padre José Luiz Silva, um dos grandes intelectuais que o RN conheceu.
Eu tive o prazer de conhecer o padre José Luiz, na Cooperativa do Pastor Diomédio, e o ouvi contar muitas histórias vividas nas suas andanças pelo mundo, que ele conhecia como a palma da sua mão; ele andou e viveu em Paris, Lisboa, Berlim, Amsterdam, Madri, Praga, Damasco, Beirute, Roma, Budapeste, Bruxelas, Cairo, Jerusalém, Atenas, São Paulo e falava disso com a simplicidade dum nordestino em Natal, Macau, principalmente em Pendências/RN, onde foi sacerdote.
Zé Luiz achava que viver era um privilégio e que o mundo foi feito para todos, por isso considerava todos iguais. Para ele o ser humano era UM e ponto final. Zé Luiz era tão apaixonante que sobre ele Dom Marcolino escreveu o seguinte: “Quando o direito canônico prescrevia normas preestabelecidas no recato dos eclesiásticos, ele gargalhava gostosamente como se o mundo precisasse de sua felicidade.”
Padre Zé Luiz abdicou dos votos sacerdotais e casou com Maria Helena, com quem teve os filhos chamados Cefas, Sulamita (nomes bíblicos) e Rosa. Sua vida não foi fácil fora do sacerdócio, naquela época da ditadura militar onde a discordância era um crime grave.
Eu conheci aquele homem barbudo e dono de uma intelectualidade vibrante e logo me apaixonei por sua humildade e inteligência. Eu adorava conversar com ele, ao lado do também ex-padre Manoel Barbosa de Lucena, um cooperativista nato.
Padre Zé Luiz era um conhecedor profundo de Filosofia, Latim, Grego, Teologia, Apologética, Exegese, Direito Canônico, Metafísica, Lógica, e que em nome do amor preferiu viver do que escrevia, imaginem!
Tenho seus livros e gosto de lê-los e fico muito emocionada com aquelas histórias dosadas de humanidade ou hilaridade, falando de deputados, camelôs, bêbados, prostitutas, futebol, vereadores, prefeitos, governadores, ou fazendo comparações e rindo muito da vida e do esforço que muitos faziam para aparecer. Ele escreveu muitas coisas bonitas e emocionantes e hoje cito apenas as frases do padre Zé Luiz (que não gostava de ser chamado de ex-padre), da crônica citada pelo pastor Davi Marroque: “O canalha ou cínico é um sertanejo às avessas. Ele é antes de tudo um fraco.”“O canalha pode ser tratado por EXCELÊNCIA, mas jamais será EXCELENTE.”
“Um país está em decadência quando não consegue distinguir quem não é canalha.”“O canalha é aquele que não concorda com você, mas diz que você está certo”“Quem disse que o canalha dorme? Ele é um eterno vigilante; com ele os bons não conseguem sobreviver.”
Voltarei com outras crônicas do meu dia a dia.