O QUE VEM POR AÍ

junho 23, 2024

NILO Emerenciano – Arquiteto e escritor Apesar de tudo isso haver ocorrido há muito tempo, alguns aí devem lembrar: nas cidades do interior havia uma estranha e maliciosa prática.


NILO Emerenciano - Arquiteto e escritor

Apesar de tudo isso haver ocorrido há muito tempo, alguns aí devem lembrar: nas cidades do interior havia uma estranha e maliciosa prática. Consistia em serem distribuídas durante a madrugada, enfiadas por debaixo de portas ou janelas, folhas de papel ou cadernos escolares escritos à mão, em bela caligrafia, levando acusações e calúnias verdadeiras ou não, vá saber, contra alguns políticos ou pessoas
importantes, ou mesmo pais e maridos que tinham a família coberta de aleivosias.

Adultérios ou insinuações de viadagem eram brandidos a torto e a direito. Lembro meu avô, seu Manuel Araújo, lendo um desses folhetins e falando entre dentes (ele sempre falava baixo): - Ou mentira cachorra da molesta…!

Em ano eleitoral a coisa se intensificava. As pessoas tentavam adivinhar a autoria a partir da letra ou do estilo. Lembrem que isso era antes da televisão, internet, redes sociais, celulares e outros bichos modernos que facilitaram a disseminação de fofocas, fake news e mentiras outras.

Há até um programa de TV assumido no besteirol, chama-se Fofocalizando, imaginem só. Tudo bem quando são só fofocas. Pior, bem pior, quando se trata de acusações inventadas, acompanhadas de montagens feitas por mestres da manipulação. Talvez por isso a rádio Cabugi brandisse o slogan: “- Se a Cabugi não deu, a notícia não aconteceu!”

Há algum tempo o ator Mário Gomes teve a carreira destruída porque um marido ciumento plantou na imprensa a mentira que ele havia sido conduzido ao hospital com uma cenoura enfiada no ânus. Há alguns meses o ator americano Kevin Spacey foi inocentado de acusações de assédio sexual que o mantiveram longe das telas.

Aqui na terrinha, o governador Cortez Pereira foi destruído pelo ridículo, ao enfrentar fakes de todos os tipos, inclusive o escândalo das calcinhas, alguém lembra disso? O humorista Marcius Melhem da rede Globo foi literalmente massacrado por um grupo de mulheres que o paparicavam e depois se uniram em acusações que ao pouco vão se desmanchando no ar. O caso Ana Hickman X Alexandre é somente o
mais novo a ocupar o noticiário. Acusações pra lá e pra cá e no meio disso tudo, revelações de intimidades dos famosos. Há quem goste.

O ex-prefeito de Natal Agnelo Alves (1932-2015) carregou durante toda a sua vida a pecha de ser o responsável pelo incêndio do velho mercado da Cidade Alta, um dos eventos mais dramáticos da nossa história. Justificativa? Abrir caminho para o surgimento dos grandes supermercados. Faz sentido? Claro que não, mas quem precisa disso?

Incêndio do Mercado da Cidade Alta, em Natal/RN - Foto: Fatos e Fotos de Natal Antiga

Agora, as árvores que sombreavam nossas ruas, os belos Ficus, essas, sim, foram dizimadas na sua administração sob o pretexto de acabar com a praga dos famigerados “lacerdinhas”, bichinhos que caiam nos olhos das pessoas e ardiam como seiscentos diabos. Algo como jogar fora o sofá por ter encontrado a mulher em flagrante delito usando o dito cujo. Perdemos as árvores e ganhamos um calor infernal

O Diário de Natal e a Tribuna do Norte, há alguns anos, travavam uma luta pela tiragem, e essa luta se refletia nas páginas ditas policiais. Chefes de redação criavam notícias em busca da vendagem. A mais escabrosa foi sobre o vampiro – sim, vampiro, com capa preta, olhos vermelhos e tudo mais - que passou a atacar mocinhas incautas nas noites natalenses, ali pelos lados do bairro de Petrópolis e adjacências.


Estamos em ano eleitoral e acho que passado os festejos de São João a baixaria vai começar. Aí não se trata mais de simples fofocas, mas de planos de poder, onde vale tudo, tudo é permitido, os incomodados que lutem ou se retirem. O buraco é sem fundo. O nível do debate político é baixíssimo. Não se discute economia, saúde, educação, urbanismo. Prevalecem as acusações mútuas, verdadeiras ou não.

Lula foi claramente prejudicado em seu debate com Fernando Collor. A Globo colaborou com isso. Collor tinha em sua frente um calhamaço de papel que não continha absolutamente nada, mas que manteve Lula tenso durante todo o debate. E em seguida, a edição claramente favorável ao "caçador de marajás", depois ele próprio caçado e deposto do poder, fez o resto.

Debate da Rede Globo entre Collor e Lula, no 2º turno de 1989 - Foto X.com

Vamos ver o que vai rolar. Está em jogo a nossa qualidade de vida e a vida da nossa cidade. Serão esses futuros vereadores e prefeitos que vão gerir nossos destinos. Transportes urbanos, postos de saúde, segurança, escolas, participação popular, áreas verdes, arte, cultura, enfim, o dia a dia da Cidade do Sol.

Olho no olho desse povo. E não venham me dizer que não gostam de política. Isso é uma declaração de ignorância. É em cima da ignorância das pessoas que essa gente desprezível trabalha. Não acreditem em tudo que rola nas redes. Nesse meio tem de tudo e para todos os gostos. Alguns afirmam conversar
com ETs ou já ter dado rolés em discos voadores. Há até uma atriz global que afirma – como se isso fosse do nosso interesse – transar dez vezes por dia. E gostar de usar caminhos alternativos para tal feito.

Fazer o que? Só dizer como o mestre Quirino quando não aguentava mais a pabulagem de alguém: - Aí mente…!


Uma resposta para “O QUE VEM POR AÍ”

  1. Carllim d'Bee disse:

    Ah se o nosso bom Deus, abrisse as “oiças” e juízo do eleitor, especialmente do eleitorperiférico do municipio! Pois, o eleito, sempre governa em favor das regiões mais ricas da cidade, atuando no eixo Centro, Petrópolis, Tirol, Lagoa Nova, Capim Macio,Ponta Negra (ate onde o turista vai). O resto é mato e buraco tomando conta das vias.