No silêncio da solidão
Jeanne Araujo – Professora e Membro na empresa da Academia Cearamirinense de Letras e Artes – ACLA Esse candeeiro iluminou as noites sertanejas de solidão do meu avô, José Sisenando.
Jeanne Araujo - Professora e Membro na empresa da Academia Cearamirinense de Letras e Artes – ACLA
Esse candeeiro iluminou as noites sertanejas de solidão do meu avô, José Sisenando. Vovô era pedreiro de profissão, mas adorava um sítio. Talvez por sua ligação com a terra e com a solidão. Era um homem de poucas palavras. Talvez eu tenha mais de vovô em mim do que imagino.
Já idoso e não trabalhando mais na profissão que o sustentou a vida inteira, vovô se tornou agricultor. Amava plantar. Não sei dizer quantas vezes ele veio do sítio, a pé, trazendo no bisaco, feijão verde, jerimum, batata doce, melancia. Sua ligação com a terra era uma coisa linda de se ver.
Mas eu quero mesmo falar da solidão em que meu avô viveu. Da solitude. Aquela solidão que a gente encontra na alma, se apega e não solta mais por nada nesse mundo. Não é a solidão por se encontrar sozinho, mas a solidão de se encontrar consigo mesmo e entender que é você com você mesmo. E está tudo bem.
Quando criança, tive a alegria de passar um fim de semana com vovô no sítio. Eu, meu pai, meu tio e meu irmão. À noite, vovô fez uma pequena fogueira e nos sentamos ao seu redor. Ele então começou a nos contar histórias, falou da onça preta que existia na cabeceira das serras e que, na escuridão da noite, ele ouvia rosnar.
Contou histórias que remontavam à outras eras, coisas que ele ouvia quando criança e que o fazia se cobrir inteiro dentro da rede quando ia dormir. O silêncio da noite, a escuridão, a beleza daquele momento ficaram na minha memória como fotografia.
Imaginei como deveriam ser as noites de vovô naquele lugar, sozinho. Quando não tinha a companhia dos netos, nem do genro e nem do filho ao lado. Com quem vovô conversaria? No que ele pensava naquelas noites de escuridão e silêncio? Não sei. Mas entendo que, às vezes, esse silêncio, esse estar só, não é assim tão ruim. É um encontro conosco, um momento de autoconhecimento indescritível, maravilhoso.
Eu trouxe o candeeiro de vovô pra ficar comigo. É uma forma de estar com ele nas minhas noites de solitude. Sento-me na espreguiçadeira que tenho no jardim e olho pro céu. Parece-me ouvir sua voz rouca e cadente contando as histórias daquela noite.
Bença, Vô!
carlodcilclo@gmail.com
Parabéns pela criatividade
“Deus te abençoe, minha netinha” Assim vovô te abençoa, atendendo teu pedido…👏👏👏👏👏👏👏
Obrigada, Carlos!
Amém, tenho certeza que ele me abençoa do outro lado 🥰