Nada é o que parece
Alex Medeiros – [Instagram @alexmedeiros1959] – Publicado na Tribuna do Norte Sei que carrego na minha composição genética algumas células que definem o temperamento dos chatos, o perfil psicológico dos rebeldes, o tirocínio dos contestadores.
Alex Medeiros - [Instagram @alexmedeiros1959] - Publicado na Tribuna do Norte
Sei que carrego na minha composição genética algumas células que definem o temperamento dos chatos, o perfil psicológico dos rebeldes, o tirocínio dos contestadores. Percebo isso desde muito antes do Armstrong meter o pé na Lua e do Icário fazer nas cobranças de falta o que tantos fazem hoje. Pra quem não sabe, Icário era um atacante do Alecrim F. C. nos idos dos 60.
Aprendi, e hoje ensino quando posso, que tudo na vida há de ser visto e analisado com os olhos da contestação, do senso crítico, de uma desconfiança que deve servir como sinal de alerta. Tudo que nós lemos tem lá suas falhas contextuais, suas imprecisões históricas, e muita, mas muita mesmo, manipulação política ou midiática.
É preciso, como navegar antes de viver para os argonautas lusos, fazer do senso crítico, da incredulidade prévia, uma espécie de sexto sentido pedagógico. A História, assim como as notícias, é escrita sob circunstâncias geopolíticas e econômicas onde imperam elementos cruciais de interesses e conveniências. Não há verdade completa na literatura das guerras, posto que foi escrita pelos vencedores.
Cada parágrafo redigido nos livros, nos jornais, nas escrituras, tem a marca imperfeita do gênero humano. Para cada cabeça, uma sentença; para cada processo histórico, uma farsa bem montada. Uma das características dos adultos conformados com a vida e com o “status quo” é combater as teses de conspiração na cabeça dos jovens. Depois dos quarenta e do saldo positivo no banco, os adultos tendem a buscar a rima harmonia/mordomia. Eu disse aos meus filhos e a jovens que convivi que conspirações e mentiras premeditadas hão de ser como as bruxas para os espanhóis: você pode não acreditar que existam, mas existem. É como os jogos acumulados da Mega-Sena, que a Caixa jura que são sadios, mas eu desconfio que são arrumadinhos com a mesma carga genética das capitanias partidárias. Desconfiar. Essa é a palavra mágica para a nossa boa existência no planeta e na História. Mas para acionar o mecanismo do senso crítico só é possível com muita leitura. É preciso, é urgente, que cada jovem comece agora a ler tudo que vier na telha. Leiam com um ar de São Tomé, o Thomas do quinto evangelho, ancestral da minha amiga Emma Thomas, agora uma orácula do zodíaco. É lendo muito, contestando aqui e acolá, que a gente descobre as farsas e os deslizes narrativos que nos empurram na escola, no trabalho e na mídia.
Desconfiem do que eu acabo de escrever nessa quinta-feira sem graça. Desconfiem, mas reflitam. Contestem tudo, desde os deuses das religiões aos âncoras dos telejornais, dos líderes políticos aos pregadores da salvação, dos influencers das redes sociais aos algarismos da informática.