MINHA TIA NASTÁCIA

março 5, 2023

Por Roberto Patriota- Jornalista e escritor Todos já tivemos um dia em nosso imaginário infantil uma “Tia Nastácia”, criação de Monteiro Lobato, no livro “O Sítio do Pica Pau Amarelo”.

Foto: Ilustrativa

Por Roberto Patriota- Jornalista e escritor

Todos já tivemos um dia em nosso imaginário infantil uma “Tia Nastácia”, criação de Monteiro Lobato, no livro “O Sítio do Pica Pau Amarelo”. Eu tive uma, de carne e osso, literalmente. As primeiras lembranças que tenho dela remetem a primeira infância. Era uma mulata de estatura mediana, corpulenta de sorriso fácil e nervos de demônio. Chamava-se Maria Anselmo.

Quando chegou para trabalhar na casa dos meus pais, na Cidade Alta, em Natal, eu ainda dormia no berço. Cozinhava divinamente, era uma cozinheira afamada, de forno e fogão como se costumava dizer. Tinha duas paixões na vida: Aluízio Alves e o ABC-FC. Politicamente meu pai Nilson Patriota e meu avô materno Adalto Carvalho sempre foram ligados ao senador Dinarte Mariz, opositor de Aluízio. 

Certa feita meu avô realizou um almoço político para Dinarte Mariz,em seu casarão, em Nova Cruz no intuito de atrair novos correligionários para sua agremiação política partidária. Resolveu convidar Maria Anselmo para ser a cozinheira do evento. No final do almoço, Dinarte ciente do fato de que a cozinheira do seu correligionário político era “aluizista”, foi até a cozinha para cumprimentá-la pessoalmente. Elogiou sua comida e lhe deu um afetuoso abraço. O gesto magnânimo do senador de nada adiantou, Maria continuou seguindo e votando em Aluízio durante toda a vida, e ai de quem achasse ruim. 

Aluizio Alves sendo recepcionado por eleitores - Foto: Brechando

Maria era torcedora fervorosa do ABC. Seu time do coração estava acima de quase tudo em sua vida. Se o ABC jogava e ganhava a partida, tudo estava perfeito nessa vida, Maria estava vivendo no melhor dos mundos. Quando acontecia o contrário, todos lá em casa ao adentrar na cozinha, o fazia pisando em ovos. Qualquer que fosse o “pio”, Maria descarregava toda a sua ira no pobre infeliz que, ao menos, lhe desse um bom dia.

Tanto eu, como meu saudoso irmão Ricardo e os primos Eduardo e Wagner nos tornamos abcedistas por influência de Maria Anselmo. Em domingo de clássico ABC x América ela nos carregava para a torcida da “Frasqueira” e atiçava com fervor nossa vibração juvenil. 

Frasqueirão - Foto: Tribuna de Notícias

Recentemente fui informado do seu falecimento, perto de completar um século de vida. Era natural de Monte Alegre/RN. Com a notícia de sua passagem todo um filme me veio a mente. Maria Anselmo era uma daquelas mulheres vibrantes e autênticas que estão se tornando extintas.

Tinha um sorriso aberto e nervos e aço. Foi durante toda a vida uma mulher de posições firmes e claras, não era adepta de fofocas e não perdoava quem não costumava “lustrar” e honrar o caráter. Hoje uma forte nostalgia me visitou sem querer ir embora.

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