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fevereiro 16, 2024

Fraternidade e Amizade Social: conversão quaresmal

Dom João Santos Cardoso – Arcebispo de Natal Neste ano de 2024, a Campanha da Fraternidade no Brasil traz como tema central a “Fraternidade e Amizade Social”, inspirada na Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti.

Dom João Santos Cardoso - Arcebispo de Natal

Neste ano de 2024, a Campanha da Fraternidade no Brasil traz como tema central a “Fraternidade e Amizade Social”, inspirada na Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti. Sob o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs…” (Mt 23,8), esta iniciativa da Igreja Católica visa conduzir os fiéis a uma reflexão profunda sobre os valores da fraternidade, solidariedade e amor ao próximo, não apenas durante o período quaresmal, mas como atitude a ser cultivada durante toda a nossa vida.


Desde a sua origem há 60 anos, quando surgiu a partir do Movimento de Natal, na Arquidiocese de Natal (RN), a Campanha da Fraternidade tem sido uma expressão muito importante da Pastoral de Conjunto da Igreja no Brasil. Ela não é apenas uma ação isolada de uma pastoral específica, mas sim um convite à toda comunidade católica para uma vivência mais profunda da fé, em suas dimensões pessoal, comunitária, eclesial e social.

A mensagem central da Campanha da Fraternidade é clara: a penitência quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social. Ela nos chama a testemunhar um profundo arrependimento e uma verdadeira conversão em todos os aspectos de nossas vidas, especialmente em relação às questões sociais que afetam nossa comunidade e nosso país.

A amizade social, como destaca o Papa Francisco em sua Encíclica “Fratelli Tutti”, é um amor que ultrapassa as barreiras geográficas e do espaço. É um convite para reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente de sua origem ou condição social. É um chamado para construir pontes, promover o diálogo e trabalhar juntos pela construção de um mundo mais justo e fraterno.

Podemos definir a amizade social como o amor que permeia as relações sociais, sendo a base essencial das interações entre indivíduos e comunidades. É um sentimento que transcende as diferenças individuais, inspirando-nos a buscar uma comunhão universal, onde a dignidade e o valor de cada ser humano são reconhecidos e respeitados.

Este conceito, resgatado pelo Papa Francisco e enraizado na tradição aristotélico-tomista, destaca a importância de valorizar a vida em todas as suas manifestações, superando o egoísmo e promovendo o bem-estar coletivo. Ao combater o individualismo utilitarista, a amizade social se torna um poderoso antídoto contra a cultura do descarte e a indiferença em relação aos mais vulneráveis.

Ao longo da história, grandes pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles refletiram sobre o valor da amizade na vida humana. Para eles, a amizade não é apenas um sentimento, mas sim uma virtude que nos impulsiona a buscar o bem do outro e a construir relações de confiança e solidariedade.

Assim, a amizade social nos convoca a construir uma sociedade mais solidária e inclusiva, onde cada pessoa seja vista e tratada com dignidade, independentemente de sua posição na sociedade. É um convite para colaborar na edificação de um mundo onde a compaixão, o respeito mútuo e a justiça prevaleçam, permitindo que todos alcancem sua plenitude de vida.

No contexto atual, marcado por desafios sociais e políticos, a mensagem da amizade social é mais relevante do que nunca. Ela nos convida a superar nossas diferenças e a trabalhar juntos pela promoção do bem comum e pela inclusão dos mais vulneráveis em nossa sociedade.

Como cristãos, somos chamados a viver a Quaresma à luz da Campanha da Fraternidade, renovando nosso compromisso com a justiça, a solidariedade e o amor ao próximo. Que este tempo de reflexão e conversão nos inspire a ser verdadeiros agentes de transformação em nosso mundo, promovendo a cultura do encontro e da fraternidade universal.

Neste mundo de crescente divisão e desigualdade, a Campanha da Fraternidade nos desafia a questionar as razões por trás da agressão e das ameaças que permeiam as relações humanas. Diante da síndrome de Caim, onde a diferença é vista como inimizade e até mesmo ameaça, somos chamados a resistir à tentação do afastamento e da destruição mútua. Em vez disso, devemos buscar a reconciliação e a construção de pontes que unam, em vez de dividir. Que a mensagem da amizade social nos inspire a agir em prol de uma sociedade mais justa, solidária e inclusiva, onde cada indivíduo seja valorizado e respeitado como irmão e irmã em Cristo.

Fonte: Tribuna do Norte

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