DIFICULDADE EXTREMA Encontrar onde fazer xixi em Brasília

março 5, 2023

Nadja Lira Eu sempre conservei uma péssima impressão de Brasília, cidade a qual visitei nos anos 80, quando ela contava com cerca de 20 anos de construção.

Nadja Lira

Eu sempre conservei uma péssima impressão de Brasília, cidade a qual visitei nos anos 80, quando ela contava com cerca de 20 anos de construção. A Brasília gravada na minha memória era a de uma cidade extremamente fria, parecendo uma maquete para venda de imóveis. Meus olhos exigentes só conseguiam enxergar concreto nas mais diversas construções idealizadas pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer. Apaixonada por fotografias, nenhum cenário era belo o suficiente para um registro fotográfico. Tudo era cimento armado em cores cinzentas, sem nenhuma florzinha ou árvore que valesse uma boa fotografia.

Fui conhecer Brasília com a intenção de passar uns 15 dias por lá, mas a decepção foi tão grande, que depois de uma semana parti para o Rio de Janeiro, para encher os olhos com suas paisagens maravilhosamente deslumbrantes. Retornar a capital do Brasil saiu definitivamente dos meus planos.

No início deste ano, porém, aproveitando o período de folgas, fui a Palmas na companhia de Irmã Aurélia Sotero Angelo, para visitar a caçula da família, Angélica Angelo, seguindo um ritual que estende desde que conheci a família. Angélica ainda recebeu a visita de um amigo dela de longas datas: Imis Uchôa – um sujeito aventureiro que adora viajar por este País a fora, fato que o tornou um profundo conhecedor das estradas brasileiras, bem como de sua fauna e sua flora.

Imis, então, propôs que fóssemos até Brasília para ver as festividades de final e início de ano. Como ele já havia morado na cidade por muito anos, queria nos mostrar os encantos que Capital do Brasil. Convite feito e aceito, partimos numa aventura maravilhosa. Afinal, são mais de 800 Km separando Palmas de Brasília, um percurso feito em mais de 12 horas de viagem.

Partimos sem pressa, admirando a paisagem maravilhosa que se descortina ao longo do percurso. Paramos no Paralelo 14 – lugar místico onde as pessoas acreditam que existe um portal para outras dimensões. Também existe a crença de que, seres de outros planetas visitam este lugar, encravado na Chapada dos Veadeiros.

A beleza da paisagem aliada às explicações de Imis acerca da fauna, flora e características especiais de cada lugar visitado, tornaram a viagem não apenas prazerosa, mas um passeio de profundo conhecimento acerca da vida naquela região brasileira. Tivemos uma verdadeira aula de história, geografia, ecologia, sociologia e turismo, tudo junto num mesmo pacote.

Chegamos à noite em Brasília e tão exauridos pelo cansaço da viagem, de forma que ninguém teve ânimo para sair e ver o espocar dos fogos na virada do ano. Todos exaustos, caímos na cama para um sono reparador, ouvindo muito distante a vibração das pessoas pela chegada no ano novo.

Ficamos uma semana em Brasília e batemos perna a valer. A cidade em nada lembra aquela imagem que eu havia guardado na lembrança. A Brasília que eu conheci desta vez, é uma cidade maravilhosa. Cheia de árvores e flores formando um cenário apropriado para um belo ensaio fotográfico. O cinza e os prédios sisudos feitos em cimento armado do qual eu lembrava, nada disto existe mais. Tudo se transformou com o crescimento das árvores e das flores que ornam as ruas, dando aos lugares um colorido fantástico, que acabou por mudar minhas impressões negativas sobre a cidade.

Passeamos muito pela cidade visitando os pontos turísticos mais famosos do lugar, entre os quais a Praça dos Três Poderes, Catedral de Brasília, Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada, Palácio do Itamaraty, Torre da TV, Santuário e Ermida Dom Bosco, Parque da Cidade, Pontão do Lago Sul e o Templo Ecumênico da Legião da Boa Vontade. Ainda visitamos a famosa feira do Paraguai, Feira do Guará, e o Shopping Conjunto Nacional, entre outros lugares.

Uma coisa, porém, chamou a minha atenção de maneira particular. Brasília é uma cidade muito bem planejada e organizada, mas conserva um problema comum às grandes cidades: Fora de um Shopping não existe um lugar onde se possa fazer xixi.

Estávamos nos preparando para retornar a Palmas depois de andar bastante conhecendo as belezas de Brasília, comendo besteiras pela rua e bebendo muita água para suportar o calor da região, até que bateu aquela vontade de ir ao banheiro para esvaziar o excesso de água acumulada no organismo. Imis era o mais necessitado naquele momento, em que estávamos numa autoestrada onde não havia shopping.

“Vamos ao aeroporto”, ele sugeriu. Mas havia um entrave no caminho e não conseguimos entrar. Feriado em Brasília, portanto, a maior parte das lojas estavam fechadas e o desespero começou a bater. Paramos em um posto de gasolina, mas o frentista informou com cara de poucos amigos, que ali não havia banheiros. A afirmativa nos fez imaginar que as pessoas que trabalham naquele lugar devem ter fundilhos de boneca uma vez que não fazem xixi.

A necessidade de fazer xixi era tão grande, que Imis já não falava e mal respirava. Estava ficando pálido, suando em bicas e sem forças, quando surgiu uma lanchonete à nossa frente e para felicidade geral, o lugar tinha banheiro.

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