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fevereiro 25, 2024

Deu saudade de ser repórter

Val da Costa – Jornalista e escritora Das tantas vezes que saí de uma redação de jornal impresso, foi para ouvir histórias e reportá-las aos leitores.

Val da Costa - Jornalista e escritora

Das tantas vezes que saí de uma redação de jornal impresso, foi para ouvir histórias e reportá-las aos leitores. Coisa do século passado que ainda perdura em alguns exemplares como o tradicional jornal A União, na Paraíba.

Atualmente, sou repórter fotográfica desse preservado jornal. Antes, era repórter de escrita e atuei nos extintos três jornais de Campina Grande. Apurava todos os dias histórias, a maior parte, policiais ou culturais. E é sim puro saudosismo essas lembranças, pois ontem foi o “nosso dia”(16 de fevereiro - Dia do Repórter)

A escrita. Eita que nessa parte, eu penei! No início, porque era uma escrita incipiente, afinal eu era uma foca no jornalismo diário da cidade. Foca era o profissional iniciante, um apelido que era pra reforçar a ideia de um jovem aprendiz. Mas que nada! Na área policial mesmo, se eu não aprendesse os códigos (grande parte, masculinos), não transitava, nem arrumava boas fontes, nem conseguia furo.

O duro furo de reportagem. Como era difícil conseguir uma boa matéria! Daquelas que ajudam a exercermos um ativo papel cidadão, ao denunciarmos as injustiças, desigualdades e ausências de alguns pontuais poderes públicos. Afinal, já sabíamos de alguns limites comerciais, então ninguém trabalhava em jornal diário pelo romantismo de ser a “fodona”. Pelo contrário. Tinha muito colega sacana, dos que atrapalhavam o trabalho em equipe mais do que elevavam, reconheciam algum esforço.

Falo isto porque esses dias comemorativos da nossa profissão me remetem à memórias afetivas da melhor equipe de reportagem que participei. Éramos unidos, disciplinados e competentes, modéstia lá no fundo(ha ha ha) com Fernanda na chefia de reportagem, Antônio Ronaldo e Chico Martins no fotojornalismo, eu, Paula Brito e Katiúscia na reportagem e por último, Mônica Donato, ex-miss Paraíba, como colunista engajada em causas e conhecimentos diversos, mas atuante, principalmente, no social mais cultural da cidade.

Val (esquerda) com colegas da área de jornalismo

De Val Costa: "Essa matéria foi um marco na minha carreira e acredito que na de Antônio Ronaldo. Com ela, conseguida com muito tato e coragem mais pela maestria profissional do fotojornalista, em poucos dias, o abusador foi preso. Há muito era acusado por ex-mulher e quatro filhas, que afirmavam ter sido vítimas de violências sexuais dele.

O momento certo do click. Como amo também fotojornalismo, aproveitei o momento para aprender. Demoramos horas nesta conversa. O acusado demorou a aceitar a entrevista, recusou foto, escondeu a filha de 13 anos, a última que ele engravidou. Mas com a sensibilidade de um homem negro para outro, que acabou se desarmando, se descuidando e colocando a menina ao seu lado, Ronaldo fez esse click fantástico. Só essa foto e os dizeres dessa capa dão um soco na gente, né?

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A expressão de poder no seu rosto sobre a filha, que, a foto não mostra, mais chorava desalentada por ter que mentir e não poder denunciar, é explícita! Isso era o jornal impresso. Uma vida de encontros e desencontros. Um instante de revolta que no outro dia virava papel de embrulhar peixe na feira, como diziam maldosamente alguns editores. Um momento de sensações de “dever cumprido” e poder de explicitar gritos abafados como o desta menina, que teve a ajuda da mãe e das irmãs para criar um filho-irmão e seguir como deu".

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