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dezembro 10, 2023

Ceará-Mirim: Minha história

Ricardo M.

Foto: Blog Ceará-Mirim Livre e Metropolitano

Ricardo M. Sobral - Advogado e Sócio da ACLA-PSN e do IHGRN

Partindo do tronco fundador, estou na quarta geração familiar. Depois de mim, duas outras gerações; mas tem galhos da mesma árvore genealógica com três, quatro gerações além, plasmando uma presença que caminha para fechar os duzentos anos.

De modo que aqui nada aconteceu sem que tivesse pelo menos um de nós como protagonista.

No passado mais remoto, Ceará-Mirim foi visitada pelos fenícios, que adentraram pela Barra do Rio. Aqui, quando Extremoz nos pertencia, nasceu no Guagiru, Felipe Camarão, nosso maior guerreiro.

Fui menino do Engenho Laranjeiras. Estudei no Barão, no Imaculada, no Estadual, frequentei a Cruzadinha.

Engenho Laranjeiras

Andei por suas ruas íngremes e silenciosas nas noites indormidas e boêmias. Vi o trem na estação conduzindo pessoas para o sertão.

Nos tempos áureos, Ceará-Mirim contava com duas Usinas (Ilha Bela e São Francisco)

Vi os engenhos moendo, produzindo mel de furo, açúcar mascavo, rapadura e aguardente. Andei nas  marias-fumaças puxando vagões carregados de cana. Vi as usinas transformando o canavial em açúcar branco, com seus apitos estridentes. Tomei banho no Rio dos Homens, no velho Olheiro, no Rio D'água Azul, e nas praias de Muriú e Jacumã. Corri em cavalhadas feito um Mouro e derrubei boi na faixa nas, vaquejadas. Assisti as missões de Frei Damião e tomei muita carraspana com caju nas barracas da festa da Padroeira.

Dancei nas famosas festas e bailes do Centro Esportivo e Cultural.

Joguei sinuca no bar de Seu Cleto e tomei cerveja na Flor do Meu Bairro.

Destampei os barris de Seu Egídio e abri as torneiras dos carros pipas de Seu Graciano.

Escutei à exaustão na Sorveteria Bacana, as músicas de Jerry Adriani,  Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Wanderléia, Nelson Ned, Agnaldo Timótio, Waldick Soriano, nas tardes de domingo, após a missa na Matriz.

Assisti filmes faroestes no Cine Paroquial, com Giuliano Gema e Fernando Sancho. Tomei caldo de cana com pão doce ao coco, no Mercado Central. Apartei briga de bêbado no cabaré, onde Sueli tirou a inocência do adolescente.

Os blocos carnavalescos eram imperdíveis. A morte do caçador, que tinha no cabeceiro Zé do Mundo o ator principal, era um espetáculo teatral à céu aberto que impressionava. Tirei à terreiro as figuras populares da cidade, como Antônio Domingos, enlouquecido por um amor não realizado, que perambulava pelas ruas imitando o trem, usando chapéu e tamancos de madeira por ele mesmo fabricados.

O ciclo se fechou. Nada disso mais existe, senão na memória do menino que teima existir no adulto.

Advogado e escritor Ricardo Sobral, autor deste texto

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