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julho 11, 2021

Aurora da nossa vida!

Rosemilton Silva- Jornalista e escritor.

Rosemilton Silva- Jornalista e escritor. Natural de Santa Cruz/RN

Menino de tudo, como diria mãe Quininha, corria solto na buraqueira juntamente com seus amigos depois de meio dia de aula na escola primária onde professoras acariciam seus alunos, mas levantam a palmatória quando se faz necessário e ninguém, nem mesmo os pais, reclamam porque acreditam que assim se ajuda a formar homens.

Na rua grande ou num beco estreito, uma bola de meia faz a festa enquanto carrinhos de rolimã descem ladeira abaixo sem qualquer tipo de freio a não ser a alpercata geralmente de solado feito de pneu de caminhão para durar uma eternidade. Mas há aqueles que preferem um carrinho de lata, uma baratinha toda mole nos feixes de mola feitos de um fino pedaço de flandre.

Meninas se divertem brincando com suas bonecas de pano, de louça ou de palha de milho com seus cabelos dourados em tempos de bom inverno. Na calçada, assumem papel de mães aprendendo, mesmo que não se dêem conta, como lidar com as mais diversas situações de suas “filhas” inertes em seus braços, mas muito vivas em seus pensamentos que voam como se fossem maravilhosas jornadas de um dia a dia de mães atarefadas em cozinhas, lavagem e passagem de roupas para a escola do dia seguinte.

Quando se misturam a noite na calçada, a brincadeira é sadia, sem segundas intenções. Nadam em braçadas de risos fartos e francos nas brincadeiras sadias que mais servem de lição de como perder sem ser incomodado por isso porque faz parte do jogo e da vida futura que se avizinha correndo por fora celeremente embora pareça uma eternidade.

As brincadeiras são coletivas e ensinam que na vida cada um depende do outro e é isso que assumindo no consciente de cada um para formar a personalidade que será mostrada anos depois na vida que cada um encarar para a sobrevivência no meio de uma floresta de pensamentos que vão se somando ao passo que os ensinamentos forem se mostrando ao longo da vida.

E tudo sob a vigilância dos pais que pretendem se orgulhar ao pronunciar o nome dos filhos quando estes forem adultos e assumirem suas vidas. Na adolescência nem sentem a revolta contra o mundo e contra todos. Acham-se donos da verdade que certamente será desmentida quando forem adultos e entenderem a máquina que move a vida mostrando uma realidade quase sempre diferente do que pensava há vinte, trinta anos antes. Livros, teorias, experiências acabam sendo fator que conduzem a quebrar a cara mais na frente e aprender com a vida a lição que um dia professores deram nas salas de aulas e que parecia ser uma utopia, sem sentido pra vida, coisa de gente ultrapassada.

E tudo isso nos lembra aquela pequena cidade de onde vimos e para onde nunca deixamos de ir levados pela saudade dos velhos e bons tempos, dos ensinamentos das nossas professoras, dos nossos pais e, porque não dizer, dos nossos amigos nas noitadas de conversa sob a luz fraca e tremulante de uma lamparina que solta a fumaça que nem acreditamos que nos faça mal enquanto os olhos trafegam pelas linhas de um livro que nos foi emprestado pela biblioteca itinerante que passa uma vez por mês, montada em um ônibus, trazendo a cultura que nos é negada dada as poucas condições do lugar de biblioteca sem muitos títulos. O estudo vem sempre agregado aos amigos, em conjunto e a cola faz parte do aprendizado garante os ditos mais espertos.

É essa geração que está se indo levando consigo a saudade de um tempo bonito, de cidades pequenas, brincadeiras na calçada, seriedade nos estudos, respeitos aos pais, aos professores, aos mais velhos. Que aprendeu na escola pública com professoras que a tinha como filhos muito amados e que teriam muito orgulho de dizer que aquele menino ou menina fora seu aluno, com ela aprendera as primeiras letras... E entre lágrimas recordo Casimiro de Abreu: “Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida,/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais!”

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