A casa da Santa

janeiro 22, 2023

Eduardo Gois – Morador de Ceará Mirim/RN Casei-me, no ano de 1983, com uma moça de Ceará Mirim, terra de minha família Fonseca/Varela.

Eduardo Gois - Morador de Ceará Mirim/RN

Casei-me, no ano de 1983, com uma moça de Ceará Mirim, terra de minha família Fonseca/Varela. Para satisfazer a minha esposa, nos finais de semana, ficava hospedado na casa dos meus sogros.

Enjoado que sou, decidi comprar uma casa na cidade, para não perturbar os outros.

Fui ao cartório, e ao transferir o imóvel para meu nome, fui informado que faltava um documento da Igreja local. Sem ele, a escritura não poderia ser registrada.

Na hora eu ri, pois pensei: "Que diabo a igreja tem a ver com isso?

Dirigi-me a igreja e surpreso fiquei, ao tomar conhecimento da beata (secretária da igreja) que teria que pagar pelo documento. "Tudo bem". Achei que seria uma pequena contribuição. Não, o valor era bem elevado. Perguntei o porquê do exorbitante valor. Sorrindo, a beata me disse "que o imóvel fora construído nas terras de propriedade da "Santa". Diante disso, teria que pagar pela liberação do documento.

Indaguei: "Terra da Santa, como assim? Eu comprei o imóvel da sra. Lídia Brejeiro. Não foi da santa não, e mais: esse valor cobrado é uma exploração. Se fosse uma pequena contribuição não teria problema".

A beata, intrigada sem saber responder, chama o padre Ruy Miranda, pároco da paróquia. 

Saudoso Padre Ruy Miranda

- Seu padre, essa senhora diz que o imóvel pertence a Santa e que eu tenho que pagar para liberar a transferência... Comecei a falar.

-É verdade. Todas as terras da cidade ao redor da igreja pertencem à Santa.

Olhando firme nos olhos do padre Ruy, perguntei:

- Seu padre me desculpe pela ignorância, mas acho que não devo pagar pelo documento. Pelo que eu saiba, conforme escritura, comprei a casa a dona Lídia e não à Santa, portanto, não devo nada. Entretanto, posso negociar direto com a Santa, uma vez que o valor é uma exploração e não sou obrigado a pagar.

Nossa Senhora da Conceição - Padroeira de Ceará-Mirim

Vermelho de raiva, vendo que a confusão seria inevitável, o padre Ruy Miranda, chama a beata e diz: "libere o documento, a Santa perdoa a dívida".

Isso aconteceu comigo. Até hoje, quando conto para outros, rio da situação.

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