UM PROCESSO DE ADOECIMENTO

agosto 28, 2022

Nadja Lira – Jornalista – Pedagoga – Filósofa É muito difícil adoecer.

Nadja Lira - Jornalista – Pedagoga – Filósofa

É muito difícil adoecer. Especialmente para uma pessoa ativa, que trabalha, estuda e, de forma determinada soluciona todas as dificuldades que a vida lhe impõe. Afinal, ao ficar doente, a criatura torna-se frágil, desanimada e completamente dependente de outros. A situação fica ainda mais complicada, quando mesmo tendo acompanhamento médico, o diagnóstico demora a se confirmar. Mil coisas passam pela cabeça da pessoa, principalmente a ideia de que a morte está à espreita e que a pessoa ainda não está preparada para a inevitável partida.

Foi desta maneira que me senti nestes últimos meses, depois de ter sido vítima da Covid-19. Mesmo depois de curada, passei a me sentir extremamente mal, convivendo com um cansaço que nenhum remédio era capaz de diminuir. A tal Covid é uma doença cruel e deixa muitas sequelas nas suas vítimas. Eu, portanto, passei a ter gripes e bronquites com frequência, e por fim, passei também a sentir febre, dor de cabeça e uma moleza no corpo que me tirava as forças completamente.

Depois de vários exames, minha médica deu o veredicto: além da gripe muito forte, eu também estava com Dengue. Curioso é que a doença só foi diagnosticada depois da realização de um exame de sangue. Minhas plaquetas estavam muito baixas – 22 mil, quando o normal em uma pessoa saudável, são 450 mil plaquetas. Se a quantidade de plaquetas diminuísse ainda mais, eu corria o risco de sofrer hemorragia.

Minha médica recomendou tomar soro na veia, bem como ingerir bastante líquido. Se tal providência não surtisse efeito, o jeito seria internação. A palavra internação me remeteu à memória, a situação precária dos hospitais de Natal, onde falta tudo e onde os profissionais da área da saúde são obrigados a trabalhar com o mínimo possível. O medo do hospital me dominou e eu tratei de beber água e suco até ficar entalada, enquanto o soro era introduzido nas minhas veias.

Depois de 12 horas com uma agulha enfiada no braço e o soro extravasando de vez em quando, as plaquetas subiram para 88 mil. Mas ainda estavam muito abaixo do mínimo aceitável, que é de 150 mil. Mais algumas horas bebendo água, suco e soro oral até que finalmente as benditas plaquetas chegaram a 181 mil. Pense num alívio grande! O resultado do tratamento ainda pode ser visto através dos meus braços e mãos tudo colorido de roxo escuro.

Sinceramente cheguei a pensar que Deus estava precisando muito de uma jornalista no Céu e a hora da minha viagem para o Paraíso havia chegado. Afinal, nestes últimos dois anos, muitos dos meus amigos jornalistas foram chamados. Deus poderia estar precisando de mim, para cumprir alguma pauta. Por fim, percebi que ainda não era a minha vez, porque ainda tenho uma grande missão a ser concluída por aqui: Cuidar da minha mãe.

O processo de adoecimento é profundamente cruel. A pessoa doente sente, não apenas os incômodos provocados pela doença, mas uma sensação de inutilidade e de solidão terrível. A vida corre lá fora, enquanto o doente precisa ficar preso à uma cama, e ainda precisa de ajuda de outros para tudo. Para tomar os medicamentos, para mudar de posição e até para ir ao banheiro. A dengue foi especialmente cruel comigo, porque não me permitia, sequer, ficar em pé sozinha, porque desmaiava.

Aliado ao desconforto provocado pela doença, eu ainda precisei conviver com o medo do deus Thanatos – o deus da morte, o aspecto perecível e destruidor da vida, que nos leva à uma nova forma de vida. Mas, Thanatos não é o fim em si, apenas uma passagem, visto que a morte é a porta para uma nova etapa de vida.

Os estudiosos da Mitologia Grega afirmam, que por ser irmão de Hipnos – deus do sono, Thanatos tem um toque sutil, leve e quase carinhoso ao vir buscar suas vítimas. Confesso que isto não me deixa menos confortável, porém, estou certa de que, pelo menos por enquanto, estou livre do meu processo de adoecimento. O Céu pode me esperar um pouco mais.

Thanatos: O Deus Grego da morte

Resta-me, portanto, agradecer a Deus por me dar uma terceira chance para viver e a minha médica Dra. Suzanne Edith Gagliuffi Peralta, pela paciência e pelos cuidados com a minha saúde. Mais que uma médica, Dra. Suzanne é um anjo bom que Deus colocou no meu caminho. Sem os cuidados dela, tenho certeza de que teria ido para o brejo, rapidinho.

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