A casa Tupy em Nova Cruz

junho 29, 2025

Flaminio Oliveira – Jornalista Fundada em 1930 pelo meu avô paterno, Fenelon D’Oliveira, em Nova Cruz, foi na Casa Tupy, onde passei o período entre 1964 e 1967 ajudando como “officie boy”, datilógrafo, balconista e já viajava para compras, com 15 anos.

Flaminio Oliveira - Jornalista

Fundada em 1930 pelo meu avô paterno, Fenelon D’Oliveira, em Nova Cruz, foi na Casa Tupy, onde passei o período entre 1964 e 1967 ajudando como “officie boy”, datilógrafo, balconista e já viajava para compras, com 15 anos. A experiência vinha gradual em várias áreas. Tinha entre as incumbências os pagamentos das duplicatas, nos correspondentes dos bancos do Povo e do Brasil, até a chegada do BB na cidade.

Datilografava as cartas com os pedidos de compras para indústrias de São Paulo, como a Fábrica de Artefatos de Aço Tupy, fabricante de enxadas, foices, machados e facões, bem como para as indústrias Celite e Pozzani, que produziam, respectivamente, louças para banheiros e cozinha, como vasos sanitários, xícaras e pratos de porcelana.

No Rio Grande do Sul, a Casa Tupy comprava prego e arame farpado na poderosa Indústria Gerdau e calçados, em Novo Hamburgo. Esses pedidos, em sua maioria, chegavam até Natal através de navio e eram transportados para Nova Cruz por Nicandro Dantas, em seu equipado caminhão Chevrolet.

O movimento no comércio era intenso nos dias de feira. No balcão eu despachava sapatos, loucas, papelaria, ferragens e material agrícola. A diversidade era grande e a loja dividida em seções. Fui muito até Natal para fazer compras em Gurgel Amaral, na Rua Chile, quando as mercadorias compradas no Sudeste e Sul ainda não haviam chegado.

Acompanhei uma vez meu avô em viagem ao Recife, para fazer compras na Mesbla e em Comercial Pedrosa da Fonseca, duas potências, em Pernambuco. Nessa ocasião usei uma escada rolante pela primeira vez.

Fenelon era decidido e meticuloso, não deixava faltar o que vendia. Foi um período de muita aprendizagem. Lembro bem do cuidado que eu tinha ao vender navalhas, para não levar um corte nas afiadas lâminas e das conversas com os agricultores, com quem eu despachava ferramentas e tentava vender também o inseticida e o pulverizador, à época uma novidade na região.

A loja encerrou atividades poucos anos depois da morte do fundador, que ocorreu em 1985. Ali tive uma escola sociológica, convivendo com pessoas diferentes, sempre tratando-as com igualdade. No balcão, no olho a olho com o cliente, testando meus argumentos, tive a certeza que não existe ninguém “besta”. A gente é que imagina ser “sabido”!

Uma resposta para “A casa Tupy em Nova Cruz”

  1. José Olavo Ribeiro disse:

    Morei em Nova Cruz, de 1977 a 1992. Conheci os personagens e a loja.
    Terra de gente boa!