Vicente e a lei do retorno

março 5, 2023

Colaboração Cristóvão (Mipibuense que reside no RJ) Em 1970, conheci um senhor muito vivido e bom de papo, ficava horas conversando com ele.

Foto Ilustrativa

Colaboração Cristóvão (Mipibuense que reside no RJ)

Em 1970, conheci um senhor muito vivido e bom de papo, ficava horas conversando com ele. Ele não sei porque se amarrava conversar comigo. Ria com todas minhas brincadeiras. E eu também gostava de conversar com ele, eu aprendi muita coisa com ele. O nome dele era Vicente, calmo, tranquilo, paciente. Ele era meu confidente. Ele tinha uma experiência grande de vida. Ele foi amigo íntimo do presidente Getúlio Vargas. 

No cassino da Urca, foram frequentador assíduo. Getúlio tornou-se presidente. Vicente  recém formado em Psicologia, naquela época, era difícil o mercado de trabalho. Certo dia pensou: Getúlio e eu somos tão amigos de noitadas, vou pedir a ele um emprego, não um emprego. Um trabalho. Dirigiu-se numa segunda-feira ao Palácio do Catete.

Chegando lá foi abordado por um segurança mau educado, que perguntou: - O que queres aqui? Quero falar com Getúlio. A intimidade não obrigou a chamar Sua Excelência Presidente. Certo que seria atendido. O segurança perguntou: - Você marcou audiência com o presidente? Vivente respondeu: - Não, somos muito amigos. Fala pra ele que eu sou Vicente Santana, do Cassino da Urca. Ele certamente, se tiver disponível uns minutinhos, me atenderá.

O ordenança foi até o gabinete do Getúlio e anunciou, que tinha uma pessoa se dizendo amigo do senhor e deu nome, Vicente. Getúlio, falou pro ordenança,  que  perguntasse, qual seria o assunto. Vicente falou pro ordenança que queria um trabalho. Volta o segurança e fala pro Presidente. Aí Getúlio, faz um memorando, a mão, e manda entregar a Vicente.

Vicente leu o memorando e ficou furioso, coisa rara de se ver em Vicente. Ele ficou transtornado. Dizia o memorando: pra ele ir até o Correio Aéreo Nacional -CAN e marcar uma passagem para Manaus, em Manaus, para trabalhar no seringal.

Vicente falou para o segurança: - Fala pro Getúlio, que quem tira leite-de-pau é buceta.  Deu meia volta e foi embora com o memorando. Sentou-se no banco em frete a praia desolado. Foi para casa e esfriou a cabeça. Pensou.....

No dia seguinte arrumou a maleta foi para o CAN e marcaram a hora e dia do embarque. Lá  se foi Vicente. Chegando na Amazônia foi designado a uma região de selva fechada. Como tinha nível universitário ficou fazendo relatório e distribuindo equipamentos aos peões.

Pensando que a selva era moleza, aconteceu um imprevisto. Vicente saiu pra uma pequena caminhada. Pensando que estava voltando para o acampamento, adentrou mais e mais, perdendo-se na floresta. Andou o dia todo e, chegando a noite, bateu o desespero. Procurou uma árvore pra pernoitar num galho grosso. Dormiu...

Pela manhã encontrou umas frutas silvestres e saciou a fome e a sede. Nisso passaram-se 30 dias e ele manteve a calma. Mais trinta dias e ele, na esperança de alguém o encontrá-lo. Que nada!

Certo dia, encontrado por nativos selvagens o prenderam, amarraram e o levaram para uma aldeia indígena distante. Caminharam o dia todo. Chegando na aldeia, o levaram a presença do pagé. Todos da aldeia, o cercou e, curiosos, olhavam muito admirados. Queriam até tocá-lo. Vicente muito assustado, pensou que iria morrer. Colocaram ele numa jaula feita de cipó. Trouxeram comida e água e deram,  por uma portinhola.

Ficou enjaulado igual um animal. Passaram-se muitos dias e, aos poucos,  um cacique começou a conversar com ele, sinalizando e ensinando sua língua. Foram ficando amigos íntimos, apesar das diferenças. O cacique o levou a presença do pagé. Vicente já sabia algumas palavras da linguagem deles.

O pagé deu ordem para soltá-lo e ficassem sempre o vigiado. E disse para ele, que não podia 'transar' com as índia, que ele via passarem nuas em sua frente.

Certo dia o pagé viu Vicente de pau duro. Aí chamou um indiozinho de nome 'Cobra Coral'. Meteu a mão espalmada no peito e gritou: -  Índio Cobra Coral,  aliviar Branco. O índio pegou Vicente pela mão e foi para trás de uma moita, e Vicente comeu Cobra Coral. 

Foto ilustrativa : BBC News Brasil

Voltaram, e tudo normal, porque eles só podia transar com as índias se, depois, casasse. Havia na aldeia um ritual tradicional.

No dia seguinte, Vicente acordou estufado novamente. O pagé gritou do mesmo jeito, chamou outro índio: - 'Cascavel' aliviar branco. Lá se foram...

E, todo dia era um indiozinho diferente. Aí um dia deu ruim. Amanheceu o índio 'Cavalo Manco' com a 'anaconda' esticada. O pagé gritou: - Branco aliviar índio 'Cavalo Manco. Pouco tempo depois Vicente retornou de pernas abertas cambaleando.

Pense na lei do retorno.

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