Vestidas de azul e branco
Rosemilton Silva – É jornalista e escritor.
Rosemilton Silva - É jornalista e escritor. Natural de Santa Cruz/RN
Bom dia, meus povo. Tava eu sentado na calçada de dona Noca, chupando um poli de umbu cajá, quando chegam Márcio Marques e Wellington Ribeiro com poemas de Letácio AtaÃde nas mãos e admirados com o que eles chamavam de mestre além, é claro, do poeta Cosme Marques, pai de Márcio. Alias, estávamos ali na rua que levaria o nome do grande poeta de então. E aÃ, aquela hora, coisa de uma da tarde, vinha chegando o pessoal do Ginásio Comercial, cujas aulas eram a noite porque funcionava no Quintino Bocayuva, ali parede e meia com dona Noca, e pela manhã e tarde era a vez do primário.
Sentados, degustando o poli de dona Noca, da fruta tirada do pé do seu quintal, todos nos deliciávamos com a passagem das meninas da Escola Normal, que funcionava a tarde no Instituto Cônego Monte. As normalistas, vestidas de azul e branco, como diz a canção eram o colÃrio Lavolho que refrescava os olhos de todos nós e davam combustÃvel para os poemas de Márcio e Wellington. Elas vinham em turma, saiam de todas as ruas que davam no Bar Savoy. Aqui e acolá, alguma se "descuidava" quando deixava a proteção da parede do bar e o vento subia a saia. Era uma festa!
Poemas e mais poemas e promessa de serenata a noite. Ali também se encontravam os professores do Quintino e do Instituto. Maroquinha diretora do primeiro e monsenhor Emerson do segundo. E cada vez mais, a calçada era habitada. Por isso mesmo, minha cumade Maria Gorda, sabedora de que aquela hora estaria ali acompanhado de João Bosco, Manu, Dinarte, Hildebrando, Danilo, Zé Domingos, Antonio Aleixo e, mais tarde, Geraldo Moura e Breno, mandou nos chamar.
As meninas da Escola Normal já estavam em sala de aula recebendo ensinamentos de professoras como Júlia e Neném Galdino, Terezinha e Alda Cury, Margarida Queiroz, Deusa, Garota, Terezinha de Jesus, Doutor Jonas Leite, seo Cocó...
E lá vamos nós no rumo do mercado, beirando a Ferreira Itajubá, descendo pro cheba da minha cumade. Lá, uma enorme mesa, celebrava o inÃcio da tarde com recados para a seresta da noite. Do ParaÃso, desceu João de Luiz Passo e seu violão. Dinarte e José Domingos. Danilo, Hildebrando e Breno. Antonio Aleixo e Geraldo Moura. Eu, João Bosco e Manu com João de Luiz Passo esperando Maria José Cesário que não viria, claro.
Encerrada a cervejada e as encomendas da minha cumade para a noite, voltamos pra casa já com o motor da luz funcionando e a gente se preparando para o Ginásio Comercial porque dona Marluce chegava cedo, mesmo tendo um dia duro na Cooperativa.
O danado era ter que ouvir o barulho do motor da luz em todas as classes do Quintino e ainda ter que se concentrar nas aulas de inglês do professor Acácio, de Manoel Macedo e vai por aÃ.
Terminada a aula, dia de lua cheia e daà a pouco era dado o primeiro sinal para desligar o motor. Todos na praça, como sempre, cada um com seu grupo. A luz some e a silhueta do Bar do Ponto vai se destacando na luz da lua. Debaixo de um dos caramanchões, estão Antonio Aleixo e seu violão junto com Geraldo Moura olhando para o hotel de Ze Dobico, e vendo do outro lado as casas de Zé João, Chico de Juca, seo Furtado e Miguel Cury. Mas abaixo, no coreto ali em frente as casas de Balelê, Ezequiel Mergelino, seo AnÃsio, seo Zé Dadá, se reúnem Dinarte e o violão de Zé Domingos.
Do outro lado, onde fica a fonte com seus caminhos indicados por pequenas árvores desenhadas pela poda, estão Danilo, o clarinete de Hildebrando e o acordeon Breno, com os olhos voltados para as casas de Culete, Eponina, Jonas Leite, Zé Nunes e Zé de Brito. E ali, próximo aquele poste que dá choque quando chove, estão eu, João Bosco e Manu tendo a infelicidade de ouvir os roncos de João Lucas, mas de vez em quando era divertido, bastava olhar para a casa de Manoel Macedo. Na entrada da Eloy de Souza surgem João de Luiz Passo com seu violão trazendo Maria José debaixo do braço. E aÃ, cada um dos grupos escolhia o seu caminho em conformidade com os pedidos da minha cumade.