Uma praia para Artistas
Roberto Patriota – É jornalista e escritor A “Praia dos Artistas” teve um período de ouro e que marcou a vida de muitas gerações.

Roberto Patriota - É jornalista e escritor
A “Praia dos Artistas” teve um período de ouro e que marcou a vida de muitas gerações. Em suas águas ensaiei um dia ser surfista ainda na adolescência. Quase toda a juventude natalense frequentava a Praia dos Artistas na efervescente década de 1970. Nesse período o Caravela Bar reinava absoluto, ficava localizado embaixo do salva vidas com mesas espalhadas pela areia da praia. O empresário e promoter, Francisco das Chagas Bezerra, o “Chico Miséria”, frequentador assíduo do bar, costumava levar artistas famosos que estavam de passagem por Natal, além da prata da casa, para conhecer o local, daí a origem do nome da praia. Nesse mesmo período, muitos jovens começaram a descer a Ladeira do Sol para curtir aquela faixa de areia no final da década de 60. Por conta desse fato, a praia adquiriu rápida notabilidade e um codinome hollywoodiano. O salva-vidas estava ali desde 1946, quando foi construído na gestão do prefeito Sílvio Pizza Pedroza. Depois, as barracas foram ocupando aquele trecho da areia e todos começaram a descer a ladeira para também curtir aquele novo espaço jovem de Natal.

Uma das principais opções em bares depois do Caravela, eram o Castanhola e o Asfarn, depois surgiu “A Tenda do Cigano” e dezenas de outros bares e boates. Até a tradicional Peixada da Comadre saiu das Rocas e passou a ocupar espaço nesse novo point natalense. O carro chefe do cardápio desses bares, por muitos anos foi à requisitada isca de peixe acompanhada com molho rose. Aos poucos outros bares foram se incorporando a orla, como o Katikero, Castalhola, Chapéu de Couro, Reizinho Chopp, Postinho, Bar do Bolívia, Qualquer Coisa, Muralha, Sovaco da Cobra, Mykonos entre outros. Depois surgiram à Casa da MPB, o Clube do Bandern, Restaurante Saravá e o Chaplin, que marcou época e deu um toque de sofisticação a orla. Em seguida foi inaugurada a boate Royal Salute, que funcionava nas dependências do Hotel Reis Magos. Na Casa da MPB, muitos artistas renomados, de fama nacional se apresentavam com regularidade.

Nesse período de euforia, o jovem que saia de casa no fim de semana tinha endereço certo: Praia dos Artistas, point da paquera e do “quem me quer” de Natal das décadas 70/80 e início dos anos 90. Por aqueles tempos já existiam as barracas a beira mar, dezenas delas localizadas no pé da Ladeira do Sol, e se estendiam até as proximidades do então famoso Hotel Reis Magos na Praia do Meio. Apesar de haverem muitas barracas, nenhuma delas superava a da “Marlene”, era a que tinha a cerveja mais gelada e o melhor peixe frito. Banheiro público? Nem sonhar. Todos tinham que se virar à beira mar. Durante o dia além das barracas, o surf o vôlei e o frescobol eram a atração da praia, já à noite os bares eram repletos de jovens e raríssimos turistas. Tinha ainda o festejado “Boy da Praia”, figura emblemática que se ocupava em azarar as meninas. Os carros ficavam todos estacionados em cima das calçadas e grupos se formavam para o bate-papo e a paquera. Esse período assinalou o auge da agitação noturna da juventude natalense na orla. Aos poucos a Praia dos Artistas foi perdendo espaço para Ponta Negra, principalmente depois da construção da Via Costeira no início dos anos 80. A Praia dos Artistas, no entanto conseguiu resistir até o seu apogeu noturno no início da década de noventa. Logo depois começou a sofrer um processo de decadência e abandono, enquanto Ponta Negra vivia um rápido período de expansão com grande proliferação de bares, restaurantes, boates, pousadas e hotéis.
