Tocar sanfona nas praias, pros turistas
Dorgival Dantas – Cantor Poeta Por um bom tempo, diria até, eu tive que conviver apenas com bons sonhos de ter uma sanfona.
Dorgival Dantas - Cantor Poeta
Por um bom tempo, diria até, eu tive que conviver apenas com bons sonhos de ter uma sanfona. Depois de muito sonhar, Deus permitiu que eu conseguisse, e isso foi sim com certeza, uma das maiores alegrias que tive na vida. Tinha de 14 para 15 anos, e me senti a pessoa mais sortuda, digamos assim, abençoada demais, por conseguir uma sanfona tão jovem, alegria sem igual, momento divino que só Deus pode dar para alguém nessa vida.
Aconteceu que, com poucos dias, minha mãe adoeceu, problema de vesícula, e tinha que se operar. Meu pai correu como pode, seguindo para Natal, 300 e poucos quilômetros da minha querida cidade Olho Dágua dos Borges. No período que ficou por Natal, ele rapidinho dá uma espécie de sacada em tudo, e numa brechinha pequena, porém muito boa, enxerga o que com certeza, abaixo de Deus, mudou nossas vidas na época, e até hoje claro.
Ele ligou para um telefone que havia em Olho Dágua dos Borges. O mensageiro do posto telefônico foi me chamar em minha casa, e quando atendi ele me disse mais ou menos assim:
-"Você diz que quer vencer na vida como sanfoneiro... ser artista não é isso?"
Respondi: -"sim, senhor".
-"Pois bem, acho que vi um jeito. Sua mãe já se operou, e se você aceitar, podemos tentar por aqui."
Aí falei: -"como, pai?"
E foi então que ele disse: -"Vendemos sua sanfona, compramos uns troços pra nossa casa, e uma sanfoninha mais fraca, pra gente tocar por aqui, nas praias, pros turistas. Assim vamos recomeçando nossas vidas por aqui, onde talvez possamos ter mais sorte, e passar menos fome."
Com certeza foi também uma super alegria na hora que ele falou tudo, vi ali outro grande sonho na minha frente, dependendo somente do meu concordar, mas o baque da tristeza, por ter que se desfazer da minha sanfona, que a tão pouco tempo eu tinha ganhado, do filho de um irmão do meu avô. Ah, isso foi demais também. E eu tinha que decidir. E foi então que eu disse:
- "Sim, pai, faça como o senhor achar melhor para nós."
Assim foi tudo mais ou menos, graças a Deus e a meu pai deu tudo certo. Só tenho a agradecer a Deus e ao meu pai, por tudo nessa vida.