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junho 2, 2024

Teocracia Cristã Fundamentalista do Brasilistão

Cefas Carvalho – Jornalista e Escritor (Texto publicado na Agência Saiba Mais) Escrevi e publiquei na semana passada nas redes sociais duas histórias que me pareceram divertidas.

Cefas Carvalho - Jornalista e Escritor (Texto publicado na Agência Saiba Mais)

Escrevi e publiquei na semana passada nas redes sociais duas histórias que me pareceram divertidas. Uma sobre tarde chuvosa que, muito gentil a princípio, resolveu falar de Alexandre de Morais e diante da minha mudança de assunto, soltou uma enigmática frase, se referindo ao ministro do STF: "Tem gente que se acha dona do mundo. Deus vai mostrar a essas pessoas o lugar delas".

Dias depois, para escapar de outra chuva, parei em um bar e pedi um suco de limão. O senhor que serviu era bem taciturno, e para descontrair, comentei olhando o toró: "Haja água né amigo?". O homem respondeu: "Isso é bom. É de Deus!". Perguntei inocentemente: "Mas atrapalha o movimento do bar, não?". Ele me olhou com raiva: "Se Deus quer assim, que caia chuva. Seja feita a vontade Dele". E saiu dando uma rabissaca.

Um amigo observou o que eu já sabia: são histórias engraçadas sim, mas escondem algo mais complexo e de certa forma perigoso. Eu já havia notado que há tempos o nome e/ou a ideia de Deus acaba entrando em pautas, conversas, ações, enfim atividades das mais corriqueiras do dia a dia. Que tragédia essa das chuvas no Rio Grande Sul, né? Ah, é porque Deus está castigando os gaúchos pelos seu pecados! O Brasil perdeu mais uma Copa do Mundo. É porque os jogadores da seleção se afastaram de Deus! O carro da escola de samba quebrou na avenida! É Deus punindo os pagãos!

Enfim, para uma parcela cada vez maior da população, Deus é, literalmente, o responsável por absolutamente tudo, pelos desastres naturais, pelo gol que seu time fez, pela cratera que se abre na rua sem manutenção. Se aconteceu é porque Deus quis e fim de papo.

Claro que é um direito constitucional ter fé e acreditar no que se quer, inclusive no Deus que tudo vê e tudo faz, da tradição judaico-cristã. O problema acontece quando essa crença passa a ser imposta como regra e lei para a coletividade, ou seja, na linha do "eu acredito, então você também tem que acreditar". O Estado é laico, crianças. Ou deveria ser.

Mas ainda pior que a imposição da fé é o uso dela como ferramenta e estratégia políticas. Que é o "filão" descoberto pela extrema-direita atualmente. Não por acaso, muito pelo contrário, a extrema-direita se uniu ao que há de mais conservador nas igrejas cristãs para ocupar espaços de poder econômico e, principalmente, político.

Manipular a fé é um truque velho - mas que sempre funciona - dos movimentos autoritários. Afinal, religião e extrema-direita têm algo em comum que os une umbilicalmente: a imposição da fé que dita regras rígidas à população baseada na palavra de Deus. Do Deus deles e da leitura conveniente deles para o livro sagrado (deles), a Bíblia, claro.

Foto: Uol

Desta maneira, para esse pessoal a Constituição poderia ser tranquilamente substituída pela Bíblia. Debater o aborto legal como questão de saúde da mulher? Não, pois a Bíblia diz que a vida pertence a Deus e só ele pode tirá-la! Ampliar os direitos da população LGBTQIA+? Claro que não, pois o Velho Testamento condena a homossexualidade! E por aí vai. Na prática, nem os políticos de extrema-direita acreditam nisso, tanto que volta e meia são pegos em hipocrisias, apenas sabem que esse modus operandi funciona politicamente.

No andar na carruagem, com Deus no comando e o mantra Pátria e família (seja lá o que for exatamente isso) o Brasil periga virar uma teocracia, sistema de governo em que o poder político se encontra fundamentado no poder religioso, pela encarnação da divindade no governante, inclusive, que é onde mora o maior perigo. Claro que estou exagerando, pois o Brasil mostrou na eleição passada e nos acontecimentos pós 8 de janeiro de 2023 que ainda tem instituições funcionando.

Mas cautela e caldo de galinha não fazem mal para ninguém. Principalmente para a Democracia e o Estado laico.

3 respostas para “Teocracia Cristã Fundamentalista do Brasilistão”

  1. João Maria Pereira disse:

    Não concordo com o envolvimento de política e religião. Isso não acaba bem. A história prova sobejamente que é uma mostra perigosa.

    Da mesma forma, é perigoso o querer extirpar a religião da vida das pessoas como o fizeram alguma líderes políticos socialistas ao.longo da história. Por exemplo, a França o fez na após o início de sua revolução de 1789; Mao Tse-tung, na China, bem como seu partido; na Rússia depois de sua revolução de 1917; Albânia, Cuba após a revolução de 1959 restringiu a religião; hoje na Nicarágua religiosos são presos.

    Ou seja, parte dos socialistas erram em querer extirpar a religião enquanto alguma extremistas da direita exageram nas suas crenças querendo fazer delas política de Estado

    Que ambos os lados deixem a política para os políticos e a religião para os religiosos. Se quiserem imiscuir as duas coisas ambos os lados vão errar.

    O que creio ou deixo de crer não é algo que deve ser ditado pelo Estado. Ele deve garantir o meu direito de crer ou não crer e pronto!

    De igual modo, não podemos achar que todo socialista é antirreligioso e que todo religioso é um extremista da direita. Eu, por exemplo, sou religioso e discordo das posturas extremista de ambas. Nenhum lado me representa. O meio termo, o bom senso, fugiu da mente de ambos os lados, e alguns acham que todos religiosos são fundamentalistas (deturpada também foi a ideia de fundamentalismo). Se alguém crê firmemente em alguma coisa, nem sempre isso deve ser encarado como fundamentalismo no sentido pejorativo que encaram esse termo. Crer é um direito e não fundamentalismo. Mas defender absurdos em nome de uma fé, aí sim, seria agir como fundamentalista.

    Dentro de um Estado democrático de direito creio que o direito de crer ou não crer se venda ser respeitado. Mas todo exagero de qualquer lado deve ser coibido

  2. João Maria Pereira disse:

    Não concordo com o envolvimento de política e religião. Isso não acaba bem. A história prova sobejamente que é uma mistura perigosa.

    Da mesma forma, é perigoso o querer extirpar a religião da vida das pessoas como o fizeram alguma líderes políticos socialistas ao.longo da história. Por exemplo, a França o fez na após o início de sua revolução de 1789; Mao Tse-tung, na China, bem como seu partido; na Rússia depois de sua revolução de 1917; Albânia, Cuba após a revolução de 1959 restringiu a religião; hoje na Nicarágua religiosos são presos.

    Ou seja, parte dos socialistas erram em querer extirpar a religião enquanto alguma extremistas da direita exageram nas suas crenças querendo fazer delas política de Estado

    Que ambos os lados deixem a política para os políticos e a religião para os religiosos. Se quiserem imiscuir as duas coisas ambos os lados vão errar.

    O que creio ou deixo de crer não é algo que deve ser ditado pelo Estado. Ele deve garantir o meu direito de crer ou não crer e pronto!

    De igual modo, não podemos achar que todo socialista é antirreligioso e que todo religioso é um extremista da direita. Eu, por exemplo, sou religioso e discordo das posturas extremista de ambas. Nenhum lado me representa. O meio termo, o bom senso, fugiu da mente de ambos os lados, e alguns acham que todos religiosos são fundamentalistas (deturpada também foi a ideia de fundamentalismo). Se alguém crê firmemente em alguma coisa, nem sempre isso deve ser encarado como fundamentalismo no sentido pejorativo que encaram esse termo. Crer é um direito e não fundamentalismo. Mas defender absurdos em nome de uma fé, aí sim, seria agir como fundamentalista.

    Dentro de um Estado democrático de direito creio que o direito de crer ou não crer deva ser respeitado. Mas todo exagero de qualquer lado deve ser coibido

  3. Solrac Seraos disse:

    👏👏👏👏👏👏👏👏