Roubo e recuperação das imagens da Matriz de São José de Mipibu
Para conhecimento do público, em especial da comunidade católica desta cidade e comunidades pertencentes à Paróquia de Santana e são Joaquim inclusive das pessoas que na época do ocorrido sequer haviam nascido, tentarei descrever de modo sucinto, sobre os acontecimentos relacionados ao roubo e recuperação das imagens e outros objetos sacros dos altares da Igreja […].
Para conhecimento do público, em especial da comunidade católica desta cidade e comunidades pertencentes à Paróquia de Santana e são Joaquim inclusive das pessoas que na época do ocorrido sequer haviam nascido, tentarei descrever de modo sucinto, sobre os acontecimentos relacionados ao roubo e recuperação das imagens e outros objetos sacros dos altares da Igreja Matriz de São José de Mipibu, fato acontecido há 47 anos.
Era noite do dia 11 de junho de 1977. Parte da população se divertia em um baile promovido por um colégio local e o centro da cidade se encontrava quase deserto. Os ladrões entraram na igreja e sem serem percebidos, retiraram de seus nichos quatro valiosas e centenárias imagens barrocas do século XVIII, entalhadas em madeira e policromadas.
Foram furtadas a Santana Mestra, com 1,10m de altura; São Joaquim, 1,10m; Nossa Senhora da Conceição, 0,95m (considerada a mais valiosa); e Nossa Senhora do Rosário 0,71m de altura. Todas elas eram tombadas pelo Patrimônio Histórico do Estado. Fora essas imagens os ladrões ainda levaram: quatro castiçais de prata trabalhada, um crucifixo e um resplendor do sacrário.
No domingo (dia 12) ao serem abertas as portas da Matriz para inicio dos atos litúrgicos daquela manhã, foi dada pela falta das imagens e conseqüentemente à constatação do roubo. A noticia logo se espalhou por toda a cidade e os fiéis que chegavam a igreja para assistirem a missa dominical, ao tomarem ciência do nefasto ato criminoso, entravam em crise nervosa. Alguns chegaram ao choro e todos passaram a elevar suas preces pedindo o retorno dos veneráveis padroeiros desta cidade e demais imagens.
A partir de então, todos os dias à tarde, a igreja ficava repleta de fiéis devotos e sobre a orientação do então padre Canindé Palhano entoava hinos de louvor e com muita fé, rezavam coletivamente com a mesma finalidade.
Enquanto isso, jornais da capital e mesmo, alguns do Sul do país, passaram a divulgar o ocorrido, com riqueza de detalhes, inclusive, com as estampas das imagens roubadas. Por sua vez, as autoridades locais: monsenhor Antônio Barros, prefeito Janilson Ferreira e o delegado Tenente Belmiro entraram em contato com o Secretário de Segurança Pública do Estado, Coronel João José da Veiga Pinheiro e com o Superintendente da Polícia Federal, Hugo Povoa, comunicando-lhes todo o ocorrido. Estes se dirigiram a São José e reunidos combinaram que as diligências seriam de caráter sigiloso.
Uma das primeiras providências do Coronel Veiga foi o envio para todas as Secretarias de Segurança Públicas do País, das fotos daquelas imagens e dados complementares que permitissem identificá-las caso fossem encontradas ou apreendidas. Uma pista passada à polícia pelo então vice-prefeito, José Honório que viu duas pessoas estranhas, sentadas na calçada lateral da Matriz e soube depois que os mesmos foram vistos no interior da igreja na tarde daquele dia fatídico, por ocasião da celebração de uma missa vespertina. Provavelmente estavam ali para escolher as peças que pretendiam roubar pela madrugada. AÇÃO POLICIAL – As diligências foram se processando em caráter sigiloso e com grande intensidade por cerca de dois meses consecutivos para que as autoridades obtivessem informações precisas para a prisão dos acusados e a recuperação do acervo roubado.
Seguindo uma pista não revelada, o tenente Belmiro foi a Recife para apurar e conferir a veracidade das informações que lhe foram passadas. A partir daquela diligência, o mistério do roubo começou a ser desvendado. O primeiro integrante da quadrilha foi preso em Natal e ao ser interrogado, alem de confessar o crime, apontou os demais componentes. Todos residiam na Capital Pernambucana.
De posse daquele depoimento o Superintendente da Policia Federal, Hugo Povoa, viajou a Recife com sua equipe de auxiliares e lá efetuou a prisão de mais três elementos, conduzindo-os escoltados para Natal, passando antes por São Jose de Mipibu onde, no interior da Matriz foi feita a reconstituição do delito pelos delinqüentes.
Em Natal, foi instaurado processo crime e após depoimentos dos implicados, estes permaneceram presos preventivamente à disposição da Justiça Federal. Concluídas as investigações, os ladrões foram entregues à Justiça pernambucana, que recebeu um relatório minucioso, esclarecendo a atuação de cada um dos réus.
BUSCA E APREENSAO DAS IMAGENS – Os Agentes encarregados das buscas apreenderam em Recife os objetos sacros roubados. Um colecionador de objetos antigos daquela capital, após ouvir apelo das autoridades do Rio Grande do Norte, divulgado pelo rádio e televisão local, devolveu as imagens de São Joaquim, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Rosário.
Quanto à imagem de Santana Mestra, apurou-se que a mesma foi vendida a um colecionador de antiguidades residente no Rio de Janeiro. De posse daquelas informações, o superintendente Hugo Povoa viajou a capital carioca e, depois de outras diligencias, encontrou a padroeira em um deposito de objetos roubados, situado na estrada Rio-Santos, tendo efetuado a apreensão da imagem obedecendo às formalidades legais, trazendo-a de volta ao nosso Estado.
Estava assim concluída a missão confiada às autoridades do Estado e as da nossa cidade e que durante todo o tempo se empenharam em solucionar tão doloso episodio e assim cumprirem suas tarefas com pleno êxito.
A CHEGADA E ENTREGA DAS IMAGENS – O prefeito da época, Janilson Ferreira e o titular da paróquia, monsenhor Antonio Barros, iniciaram os preparativos para a solenidade da chegada e entrega das imagens, prevista para o dia 13 de novembro de 1977 e posterior, reentronização em seus nichos.
Naquela data uma multidão de fiéis se concentrou na via de acesso ao centro da Cidade, à espera das imagens procedentes de Natal e que ali chegaram em carro do Corpo de Bombeiros. Um cortejo composto por irmandades e associações católicas da paróquia e uma grande multidão acompanharam aquela viatura em procissão até a frente da Matriz, onde outra multidão de paroquianos vindas de comunidades rurais e municípios vizinhos, alem de autoridades eclesiásticas, civis e militares já se achavam concentradas em torno do altar armado para a celebração da missa em ação de graças.
Durante a Santa Missa os presentes entoavam hinos de louvores e outras manifestações de júbilo pelo retorno de suas veneráveis imagens. O evento solene constituiu-se em verdadeira apoteose. O povo se congratulava em público, uns aplaudia, outros choravam de emoção e a maioria apenas orava em agradecimento.
Após a missa, a Câmara de Vereadores local promoveu uma sessão solene para conceder e fazer entrega do Titulo Honorífico de Cidadão Mipibuense, ao Coronel João Jose Pinheiro da Veiga e ao Superintendente da Policia Federal, Hugo Povoa, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados a comunidade de São Jose de Mipibu, elucidando em definitivo e com competência, esse episódio.
PEDRO FREIRE
FONTE DE PESQUISA
- Relatório detalhado sobre a ocorrência fornecido pelo Coronel Veiga
- Jornais de Natal editados na época em que ocorreram os fatos.
Março de 2005 - nº 331 - Pedro Freire