Desculpe, querida, o príncipe não vem

fevereiro 23, 2025

Bruna Torres – Jornalista e escritora Casas de bonecas, cozinha com as panelinhas, inúmeros outros brinquedos, quase todos, na cor de rosa.

Bruna Torres - Jornalista e escritora

Casas de bonecas, cozinha com as panelinhas, inúmeros outros brinquedos, quase todos, na cor de rosa. Era o faz de conta da infância, que se permeava pela criação do conceito social de ser mulher.

As comédias românticas, típicas do fim da tarde e dignas da Netflix – minhas favoritas – nos entregam o romance como o maior objetivo da vida de uma mulher. Mas, como a sociedade tenta moldar o sexo feminino a vida inteira para o papel de esposa e mãe, se não moldam os homens para executar de forma mínima seu papel como homem?!

Volto a minha realidade...

Depois de um dia exaustivo caminhando em direção ao ponto de ônibus, fiquei pensando nos rumos que pretendo tomar para a minha vida, ainda, este ano. Fiquei reflexiva de como sempre fui uma criança hiper vigilante e uma adolescente que estudava Psicologia para compreender a si mesma e ao outro.

Essa e muitas outras questões passavam pela minha cabeça, enquanto caminhava solitária, no meio daqueles que, também, se dirigiam ao mesmo ponto do ônibus.

Sempre tive que ser forte. Sempre tive que engolir o choro ou, quando já não cabia mais no peito, deixava ele transbordar. Mas, a maior parte da minha vida, eu sempre 'lambi minhas feridas'. Buscava transcrever meus sentimentos em diários, cartinhas e bilhetes que, também, já foram recíprocos (inclusive, tenho um acervo de 'tranqueira' que vai dar trabalho para jogar no lixo quando eu partir, rsrsrs).

Na minha cabeça, sempre vinha uma frase que pareceu dançar ciranda na minha foi: "Desculpe, querida, o príncipe não vem". Me coloquei sob a perspectiva de analisar os relacionamentos e suas construções atuais. O que nos é imposto desde a infância para termos o amor como objetivo principal de vida? Por que a companhia de um homem sempre parece ser uma máxima?

Uma vez, ouvi uma frase que vai me marcar para sempre: "Homem gosta de ser cuidado". Aí, me pergunto: e quanto a nós? Por que o papel do cuidado é sempre nosso? Por que um homem não pode ter a desenvoltura de tomar à frente, executar a resolução de um problema e dizer, "eu estou aqui com você". Por que esse papel exaustivo se estende mais uma vez para a nossa função de mulher?

Me desculpe, querida, se um homem gosta de ser cuidado e amado, que ele faça o máximo para ter de uma mulher as melhores partes do que ela tem a oferecer. Estou cansada dessa prerrogativa de deixamos os homens confortáveis demais para ficarem "confusos" e "indecisos".

Querida, desculpe, pare de beijar sapos chamando-os de 'príncipe encantado' nesse castelo de mentiras.

Você é trabalhadora, cheirosa, gostosa, inteligente, tem um acervo de figurinhas de teor questionável e escuta músicas que infringem pelo menos uns três códigos penais. Você merece alguém que não te ofereça apenas beijinhos, como num final de um conto: " E foram felizes para sempre".

Você deve ser alguém que enfrente dragões, masmorras, maçãs envenenadas e tenha uma espada, nas mãos, para te defender. E digo mais, se necessário, calce os 'sapatinhos de cristal' permitindo que você possa baixar a guarda e dançar descalça.

Mas, honestamente, vire essa página e levante a bandeira branca para um conto de fadas que é escrito de forma unilateral. Comece a reescrever uma história cujo protagonismo é inteiramente seu, com reviravoltas impressionantes no enredo ideal com os personagens que você quiser.

Desculpe, querida, o príncipe não vem, está na hora de empunhar a espada e lutar por si mesma.

3 respostas para “Desculpe, querida, o príncipe não vem”

  1. Wânia Pereira Nunes Abrantes disse:

    Texto incrível, me vejo nele, principalmente no final: estou com a espada na mão e o conto é *A Espada, Eu & A Lei que Eu Acredito & Confio*.

  2. Alyene Cruz disse:

    Excelente reflexão através de uma crônica jovial.

  3. Maiara Francielly disse:

    Uau que texto belo🤩amei