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março 17, 2024

Rio Seridó; meu encanto de infância

Gilberto Costa – Poeta e servidor do INSS Hoje, presencio meu encanto de infância de barreira a barreira.

Gilberto Costa - Poeta e servidor do INSS

Hoje, presencio meu encanto de infância de barreira a barreira. As águas me fazem recordar que já fui o menino do Rio Seridó. Que o calor do sol me causava arrepios, conforme exalta Caetano Veloso na canção.

Nas recordações evito direcionar meus olhos para as margens do rio. Lá não mais se encontram os juazeiros com pingentes bailando em seus galhos. Lá inexistem os juremais albergadores de casacas-de-couro. As oiticicas de acolher piqueniques não mais compõem a paisagem. Rasgaram os bordados dos mofumbais com seus cheiros de almíscar. Os marizeiros... onde estão os marizeiros?

Corro meu olhar pelo leito do rio no hiato que vai do estreito até a ponte velha. À esquerda estão as pedras que desafiaram nossos pulos como se estivéssemos praticando modalidades esportivas. Imagino que lá estamos a molecada desafiando a correnteza a nado num misto de felicidade.

Vislumbro as manhãs de domingos recebendo todos os estratos sociais vigentes na cidade juntos e misturados nas areias do rio após as cheias. Os corpos expostos ao sol. As partidas de futebol e voleibol. Demoro-me até promover cochilos. O rio era nossa praia.

Desperto-me das imagens pretéritas. Fixo meus olhos na presente cheia do rio que há muito não via. As águas barrentas transportam os mais diversos resíduos orgânicos ao longo de seu curso. Energizo-me. O rio é como a vida quando nasce.

Se não fosse uma surra de picadas de mutucas, espiaria por mais tempo o rio do meu tempo de criança. Dói saber que não deixamos rios de herança para outras gerações.

No retorno à casa, um aceno à serpente do Poço de Sant'Ana.

Imagens: Gilberto Costa

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