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maio 14, 2023

Procura-se a autoestima d’ela

Bruna Torres – É jornalista @autorabrunatorres  Aquela tinha tudo para ser uma sexta-feira qualquer, para uma mulher que tinha perdido seu brilho, andava opaca, capenga e até anêmica, beirando ao colapso de autoestima e sentindo-se uma estranha no próprio corpo.

Bruna Torres - É jornalista @autorabrunatorres

 Aquela tinha tudo para ser uma sexta-feira qualquer, para uma mulher que tinha perdido seu brilho, andava opaca, capenga e até anêmica, beirando ao colapso de autoestima e sentindo-se uma estranha no próprio corpo. Este, ela o conhecia bem há quase 27 anos, mas após a maternidade, ninguém havia lhe contado que depois da saída do bebê de seu ventre, aquela linda barrigona se transformaria numa bolinha murcha, que levaria alguns meses para voltar ao “normal”, se é que isso ainda existia em seu novo capítulo.

Tudo tinha mudado, ela jamais imaginou tal reviravolta em sua vida, tudo tinha saído do lugar, os seios, a barriga, o umbigo, minha nossa, sobrou até para o coitado! Estrias aqui, outras ali, a falta de libido, a falta de uma noite proveitosa de sono, de sexo, de conversas adultas, da presença de adultos em sua nova fase. Não que ela ainda estivesse alheia ao bebê, ela o amou desde antes de ver a carinha inchada e de ouvir o chorinho baixo, mas naquela nova existência depois de trazer um ser humano à vida, também era repleta de altos e baixos e constantes despedidas de sua vida anterior. 

Era como dar adeus dia após dia, uma nova mulher, com novos desafios, o peito vazando leite, correria para o trabalho, correria para a faculdade, o cara que ela amava se transformando num completo estranho depois de quase uma década juntos, uma nova vida, aí veio a separação, um novo caos, mas mesmo que inúmeras vezes tenha chorado nas proximidades da faculdade antes de acionar o Uber Moto e retornar para casa depois de um dia difícil, ou até mesmo depois de passar mal por comer porcarias ao longo do dia para economizar tempo, ela não tinha vontade de voltar para a antiga vida, mesmo que pudesse.

Esta mulher, jamais poderia ser diminuída por sua estética que deixara a jovialidade aos poucos para trás, o corpo de uma jovem-adulta, que outrora sem marcas, agora possuía cicatrizes e ela ainda não tinha aprendido a amá-las, embora estivesse no processo, que não era fácil.

Dentre toda essa jornada, um dia, ela que trabalha contando histórias reais enquanto escreve a própria, recebeu o convite de uma empresária do ramo erótico que estava fazendo uma ação de dia das mulheres, um ensaio fotográfico íntimo (apenas sensual, não tinha nudismo), em um lugar podríssimo de chique, quase como um bilhete premiado naquele mês de março repleto de desafios.

Ela não tardou a pegar o endereço do local, ainda no ônibus, no engarrafamento rotineiro e exaustivo na Ponte de Igapó respondeu um formulário sobre seus medos, teceu críticas ao próprio corpo e enviou as informações necessárias para que a fotógrafa pudesse conhecê-la um pouco mais, antes de registrar cada pedacinho de sua alma nas fotografias que seriam tiradas no dia seguinte.

O grande dia tinha chegado, na ocasião, também seria a primeira vez de seu bebê na creche do bairro, quase 1 ano depois, as inseguranças com o próprio corpo ainda eram as mesmas, talvez piores depois da separação, quem sabe… Mas cheia de incertezas, inseguranças e um pouco de medo, ela decidiu aproveitar seu bilhete premiado, fez uma maquiagem básica em casa, raspou as pernas, moldou os cachos com o seu creme favorito, separou algumas peças para as fotos e partiu após chamar um Uber.

 Quando chegou ao local, diante da anfitriã, a empresária que proporcionou uma manhã incrível para diversas mulheres que assim como ela tinham se perdido, nas demandas, nas responsabilidades, nas rotinas, ela se sentiu em um encontro com amigas, pessoas reais, mulheres com histórias reais e similares a sua.

Ela arriscou bebericar uma taça de champanhe, mas não curtiu muito, apesar de achar requintado; o local era perfeito, um loft ideal para um encontro casual com as amigas, um encontro ideal como um parceiro para toda a vida, mesmo após a decepção amorosa, ela ainda acreditava, bem lá no fundo, que um dia poderia estar nos braços de alguém que amasse cada uma de suas cicatrizes e conquistas, mesmo que por muitas vezes, ela se sinta uma mera loba solitária passível apenas de romances literários aos quais ela se debruça sempre que tem oportunidade, num feriadão prolongado ou quando a cria dorme um pouco mais cedo.

Enquanto inúmeros questionamentos traçaram sua mente, as fotos foram sendo feitas por uma fotógrafa que conduzia muito bem o ensaio, que a deixava à vontade em suas próprias cicatrizes, em seu próprio – novo – corpo, ao qual há um ano ela tentava não aceitar, por vezes quis o anterior de volta, mas isso era impossível, pois seu antigo corpo não contava a sua nova história de vida, de gerar outra vida, das batalhas diárias pela vida que sempre sonhou. Seu antigo corpo contava outras histórias de um capítulo que já estava encerrado, agora estava na hora de traçar novas reviravoltas.

 Ela tinha entendido, no fim das contas, a paixão de sua trajetória era contar histórias, mas naquele momento, ela entendeu que sua nova história era ainda mais bonita e precisava de espaço para ganhar forma, que os medos aprisionados em seu coração precisavam ser deixados de lado, não apenas seu corpo tinha mudado, era sua história, com novos capítulos, novos personagens, novos rumos, novos amores e caminhos.

As fotos ficaram ótimas, claro, o dia ao lado daquelas mulheres foi transformador em sua vida, mas a autoestima d’ela foi resgatada quando ela entendeu, de uma vez por todas, que o amor próprio era o único que valia todos os seus esforços, pois ela era a única que permanecia lutando por si quando todos os outros iam embora. Ela jamais se permitiria novamente ser a personagem secundária em sua própria jornada.

Ela era a protagonista de sua própria vida.
Eu sou. Você também é!
Acredite no poder dos seus sonhos.

3 respostas para “Procura-se a autoestima d’ela”

  1. Jaque disse:

    Que lindo, Bruna! Estou aqui emocionada com esse relato, com a sua forças e coragem de contar sobre essa fase que sabemos que é difícil, mas que se torna mais ainda quando provamos. Você é inspiração e é de volta a personagem principal da sua história simmm! Inclusive, que baita história você anda escrevendo.

  2. Milla disse:

    Caramba, que lindo.
    Estou sem palavras.

  3. Bruna Torres disse:

    Muito obrigada pelo carinho, fico feliz que tenham gostado!!!!!