Procissão 

julho 7, 2024

Por Haroldo Varela Cada um com a sua crença.

Por Haroldo Varela

Cada um com a sua crença. Beatas fazem  coro afinado e enfadonho, a música parece  sem fim. Pessoas pedem proteção,  agradecem as graças  alcançadas, pagam promessas e homenageiam a padroeira.

A disputa é grande para carregar o andor, rende prestígio na cidade. Os abonados fazem pose,  mas quem segura o peso são os mais humildes,  que  com uma fé  fervorosa, dão  conta do recado. E  você ? 

Mesmo depois da buchada de bode, daquele caldo de mocotó  que tomou as 6h da manhã no mercado, vestida de longo, cílios  postiços e equilibrada num tamborete, ainda vai à procissão? Claro que sim, tentar garantir um lugar no paraíso.

O trajeto  é  longo e mesmo  cambaleando segue o cortejo até  o final. Véu, terço  na mão, já  nem sente mais os pés  cheios de calo (aquele maldito sapato novo), cansada, com aqueles óculos  do tamanho de um para-brisa de kombi (quase uma Jacqueline Kennedy tupiniquim), tenta  disfarçar  as olheiras  e a cara de ressaca .

As ladeiras são  intermináveis , mas mesmo  cambaleando e com a voz fraca,  ainda tenta perseguir o  hino (mesmo estando com as músicas da festa na cabeça). O  tempo parece que estacionou e tudo  que você  queria era estar em um quarto escuro, com o ar condicionado ligado e no silêncio  total.

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