Valério Mesquita (mesquita.valerio@gmail.com)
01) Dr. Cleodon Carlos de Andrade, médico, clínico geral, ginecologista, atuou na profissão durante quatro décadas, atendendo à população de Pau dos Ferros e cidades da região Oeste. Era muito caridoso, porém altamente irreverente e polêmico. Percebendo que a maioria dos chamados para ele ocorriam à noite, resolveu dormir no quarto de frente de sua casa, armando a rede na parede encostada à janela, pois assim ouviria com mais facilidade, os chamados. Bastaria bater na janela para ele ouvir. Certa noite, Dr. Cleodon acorda com alguém, aflito, batendo na janela: “Dr. Cleodon! Dr. Cleodon!”. “Quem é?”, perguntou ele. “É Zé Pedro, do Riacho do Meio!”. “E o que foi?”. “É minha filha que tá passando mal. Foi comida”. “Então Zé, não é aqui não, é na delegacia”, sentenciou o médico inapelavelmente.
02) O dr. Cleodon tinha o hábito de discordar de tudo e de todos em qualquer bate-papo. Lineu, seu filho – hoje Promotor de Justiça aposentado - gostava de levar colegas para estudar em sua casa. Quando Lineu chegava com os colegas, ele, dr. Cleodon, encostava e iniciava a conversa. Dentro de pouco tempo estava travada a polêmica. O colega de Lineu dizia uma coisa e dr. Cleodon discordava e chamava o pessoal de burro. Enfim, só a opinião dele prevalecia. Consciente disso, Lineu, seguindo conselho de sua mãe, dona Idezite, resolveu, ao convidar um amigo para ir à sua casa, pedir para não discordar do seu pai: “Colega, tudo o que ele disser concorde. Não vá teimar com ele”. Feita a recomendação, lá vai Lineu com um colega para casa. Dr. Cleodon, como de costume, aproxima-se e começa a falar. Tudo o que dizia o amigo de Lineu concordava: “É isso aí, doutor! Muito bem! O senhor está certo”. Todo assunto que o dr. Cleodon falava o amigo concordava. “O senhor está certíssimo! Muito bem doutor!”. Vendo que o rapaz não discordava de nada, não aguentou. “Você não tem personalidade não, rapaz? Tudo que eu digo você concorda. Você é um imbecil”.
03) Numa sonolenta sessão vespertina da Assembleia Legislativa, presidia os trabalhos o irrequieto deputado Tarcísio Ribeiro. O deputado Leonardo Arruda falava no plenário,
quando, ao final do discurso pediu ao presidente licença para se ausentar, posto que iria à cidade de Goianinha assistir ao sepultamento do Sr. Aguinaldo Simonetti. O indecifrável Lara Ribeiro, naquele estilo inconfundível, calmo, reflexivo, como se medisse as palavras, respondeu: “Caro deputado Leonardo Arruda, peço a V.Exa., que transmita à família enlutada as nossas congratulações...”. Quando ouviu os risos difusos e profusos, Lara consertou na hora: “As nossas condolências, melhor dizendo.” Distração natural de quem é guru.
04) O poeta Sanderson Negreiros contou-me essa. Newton Navarro sonhava com uma viagem a Paris. Passou muito tempo economizando. Finalmente, um ano depois, conseguiu. Iria passar dois ou três meses na Cidade Luz. Viajou. Em menos de um mês Navarro abreviou o retorno. Saudade e liseu. Apavorado, sem apoio e sem ninguém foi para o aeroporto de Orly. Mas, estava escrito que estrela de poeta não se apaga, assim facilmente. E lá se encontra com o conterrâneo deputado Djalma Marinho. “Djalma, que sorte a minha, me socorra. Preciso voltar urgente para Natal!!”. Sem precisar conter o susto por ver Newton ali, Djalma, displicente todo, foi logo respondendo: “Não posso fazer nada. Perdi passaporte, carteira, talão de cheque, tudo!!”. Esse, sim, era poeta mesmo.