Valério Mesquita (mesquita.valerio@gmail.com)
Ao longo de mais de vinte anos, mantive com o ex-prefeito de Brejinho Avelino Matias, conhecido como “Meu Pai” – porque assim gostava de tratar a todos - uma permanente convivência de estima e respeito. Os nossos encontros e reencontros na Assembleia ou em reuniões eram marcadas pela cordialidade e expressões de humor. Daí haver escrito inúmeras histórias hilárias sobre ele porque assim era a sua índole, a maneira de ser e o estilo descontraído que alegrava qualquer ambiente. Recordo hoje algumas de suas histórias. Nele elas ficarão gravadas para sempre além do seu espírito disponível de servir a coletividade com dedicação e amor ao Agreste.
01) Comício em Brejinho, terra do folclórico ex-prefeito Avelino Matias, vulgo “Meu Pai” e figura conhecida em todo o Agreste do Rio Grande do Norte. Avelino discursava inflamado no palanque: “Nós vai melhorar a educação do município. Agente vamos melhorar a saúde do povo de Brejinho. Agente vamos trabalhar pelos mais pobres e nós vai ajeitar as estradas”. Nisso, a sua filha, prefeita do município, ao seu ouvido, resolveu corrigir: “Pai, empregue o plural”. Aí Avelino soltou-se todo: “Nós vai arranjar emprego por plural, o pai do plural, a mãe do plural, pra “famia” toda!!”. A emenda foi pior, com toda certeza.
02) Avelino Matias, certa vez, discursava calorosamente na solenidade de formatura dos concluintes do 2º grau, de sua terra, quando num arroubo estatístico, enfatizou: “Isso aqui, Dr. João “Fostino” é que é educação. Minha “fia”, por exemplo, em Natal estuda medicina na faculdade de Direito!”. Foi o contraponto da oração que João não queria ouvir.
03) O prefeito Avelino Matias Xavier, era acima de tudo um escravo do povo. Em suas vindas a Natal, algumas vezes, “Meu Pai” colocava as suas filhas moças em cima da caminhonete e subia junto, para ceder lugar na cabine aos seus eleitores. Em casa, a esposa, com ajuda dos filhos, iam arrumar a casa, e para tal, fechavam portas e janelas. “Meu Pai”, certo dia, queimou ruim. “Abram essas portas”, berrou o prefeito. “Casa de político tem que viver escancarada, de porta, janela e porteira aberta! Vocês fecham tudo, enquanto eu só falto abrir as pernas. Deixa o povo entrar com mala e cuia, trouxa e tudo! Político sem povo é político morto”.
04) Avelino Matias, era um autêntico líder do seu povo. Todo dia, o dia todo, “Meu Pai” estava sempre pronto para servir. Início de mandato do governo José Agripino, ele se postou na porta do palácio. “Que é que há, “Meu Pai”?”, perguntou brincalhão o governador estreante. “Estamos só começando!”. “Pois é”, falou Avelino. “Eu quero uma máquina para perfurar um poço, numa comunidade nossa”. “Calma prefeito, deixe eu sentar, pelo menos...”. O folclórico prefeito foi longe: “Ah! E você se senta? Pois eu me levanto às cinco da manhã e me deito às dez da noite. Não tenho tempo pra me sentar não! Faz tempo que me cobram esse poço. Tenho que fazer. Eleitor a gente cuida com cabresto curto. Voto, Jajá, é como perfume bom: se afrouxar a tampa do vidro o vento carrega o cheiro!”. Depois de tanta filosofia o poço jorrou, para alegria de todos.
Muito legal e realmente folclórico