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Ana Cláudia Trigueiro
Uma mulher perdeu suas vírgulas. A partir de então, ficou com medo das frases difíceis e começou a usar as mais simples. Percebeu que, à medida que suas frases se tornavam simplificadas, seus pensamentos se tornavam simplificados.
A mulher, então, começou a esquecer dos seus pontos de exclamação. Passou a falar mais baixo, quase sem mudar o tom de voz. Já não se zangava, nem se entusiasmava. Não se importava com a chegada das manhãs, ou da chuva.
Depois de um tempo, desapareceram as interrogações e ela parou de fazer perguntas. Nada mais lhe dizia respeito. Já não se importava com o mundo, com o país, com a cidade... nem mesmo com a sua própria vida...
Abandonou os parênteses por não mais querer participar de ajuntamentos de qualquer espécie, pois isso a confundia.
Os dois pontos foram as últimas perdas. A partir de então, recusou-se a explicar as razões do que fazia ou dizia....
No fim da vida, disseram que ela possuía apenas um ponto final para despedir-se. Mas a mulher sabia bem o que ainda guardava... e mostrou as reticências que havia preservado em seu bolso.
Adaptado de A. Kanevsky.