Patronos de ruas de São José de Mipibu (03) Rua Senador João Câmara

dezembro 22, 2024

Por José Alves – Jornalista e editor do Jornal e blog O Alerta A Rua Senador João Câmara é uma das mais extensa de São José de Mipibu.

Por José Alves - Jornalista e editor do Jornal e blog O Alerta

A Rua Senador João Câmara é uma das mais extensa de São José de Mipibu. É lá, que estão localizados os diversos órgãos públicos, como: o Fórum Municipal "Desembargador Túlio Bezerra de Melo", o Cartório Eleitoral"Dr. José Serafim Filho", Escola Municipal Profª Maria Mirtes da Silva Araujo, a Creche de Tempo Integral "Professora Lúcia Lima", Unidade Básica de Saúde (UBS), "Marciano Dias Freire", Igreja Assembleia de Deus - Cong. Senador Câmara, Escola Estadual "Hilton Gurgel de Castro" (Caic), Escola Municipal "Maria Aparecida de Carvalho", entre outros.

Vamos conhecer a história do patrono dessa rua, o Senador João Câmara:

João Severiano da Câmara, natural de Taipu-RN, nasceu no dia 8 de março de 1895, filho de Vicente
Rodrigues da Câmara e de Dona Maria Rodrigues da Câmara. Apenas cursou o Primário em sua terra natal. Casou-se em 18 de junho de 1918, com Maria Rodrigues da Costa. Trabalhou na Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, foi comerciante, prefeito de Taipu e de Baixa Verde, atual João Câmara, industrial, e maior exportador de algodão da década de 1930/40, deputado estadual e chefe de Partido Social no Rio Grande do Norte e Senador da República, no período de 28 de julho de 1947 a 11 de dezembro de 1948. Faleceu em Natal, a 12 de dezembro de 1948.
JOÃO CÂMARA
Ao morrer, aos 52 anos de idade, o empresário e senador João Severiano da Câmara (Vanvão) tinha
consolidado seu poderio econômico no Rio Grande do Norte e se tornara o homem mais rico da sua época, com a implantação de usinas de algodão e fábricas de óleo, em diversas regiões do Estado.

De origem modesta, com apenas o curso primário, construira um verdadeiro império com sua visão de futuro acreditando na sua intuição comercial. Fundou a firma João Câmara & Irmãos juntamente com Alexandre (Xandu) e Jerônimo (Loló). Antônio (Tonho) não quis participar da sociedade apesar do bom relacionamento com o irmão mais velho.

Aos 18 anos surpreendeu o tio-padrinho Vicente Gomes da Costa com quem fora morar na fazenda
Pitombeira, em Taipu. Por sugestão do seu pai, Vicente Rodrigues da Câmara, ao solicitar que fosse seu fiador na aquisição de gêneros alimentícios para instalação de um armazém de “Secos & Molhados” no povoado de “Baixa Verde” que mais tarde ele transformaria em município. O padrinho aprovou a iniciativa e autorizou as compras em Ceará-Mirim.

João Câmara tinha sido empregado da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (hoje DNOCS) e tinha aprendido a arte do comércio nos barracões que forneciam alimentos aos 'cassacos' (trabalhadores durante o período de secas) às margens de açudes e estradas que estavam sendo construídas pelo Governo Federal.

O armazém bem gerenciado correspondeu às expectativas e ele pode quitar seus débitos e adquirir
crédito próprio. Logo em seguida, instalou uma loja de tecidos. Com os lucros obtidos comprou fazendas para o plantio de algodão e agave. Casa-se com a prima, Maria Rodrigues da Costa, filha do tio e fiador Vicente Gomes da Costa, o homem que lhe abriu as portas para a fortuna, na pequena cidade de Baixa Verde, que hoje tem seu nome, em homenagem ao pioneirismo daquele jovem ousado.

Firma João Câmara & Dois Irmãos, no centro da antiga Baixa Verde. Fonte-http://joaocamararn.multiply.com/

João Câmara dedica-se em tempo integral ao seu comércio, mas se interessa também, pela política,
tendo exercido cargos públicos. Filiou-se ao Partido Popular ao lado de José Augusto, Dinarte Mariz, Eloy de Souza, coronel Felinto Elísio e outros. Com a implantação do “Estado Novo”, no Governo Getúlio Vargas, afasta-se, temporariamente e concentra seus esforços na ampliação do seu império econômico.

Retoma o gosto pela política com a redemocratização do país em 1945, filiando-se ao recém criado Partido Social Democrático (PSD) e passa a ser um influente líder do partido no Rio Grande do Norte.
Já tinha sido deputado provincial, prefeito de Baixa Verde e chegara a senador da Republica, em l947.
Exerceu por pouco mais de um ano o mandato, pois faleceu no dia l2/12/1948.

Pouco tempo antes de falecer, já tinha autorizado a mudança do nome da empresa para João Câmara
Indústria e Comércio S/A, que já tinha nove usinas de beneficiamento de algodão em, Nova Cruz, São Tomé Baixa Verde, Pedra Preta, Pedro Avelino, Lages, Assu e Fernando Pedroza ( que na época, se chamava de São Romão). Esta foi a primeira usina adquirida por ele, ao espólio da família de Fernando Pedroza, pai do ex- governador Sylvio Pedroza, por que João Câmara tinha grande admiração.

Constava ainda do seu grupo econômico, três fábricas de óleo, nos municípios de Nova Cruz, Baixa Verde e Fernando Pedroza, além inúmeras fazendas com grandes plantios de algodão e agave. Em Natal, além do escritório geral da empresa, na rua Frei Miguelinho, na Ribeira, existia uma prensa de exportação de algodão e uma fábrica de sabão.

Seu genro, José Arnaud Gomes Neto, que foi primeiro suplente à Assembleia Nacional Constituinte, em
l946, sendo eleito deputado federal por dois mandatos consecutivos (l951 a 1959) e primeiro suplente em l960 todos conquistados pela legenda do PSD. José Arnaud, como era conhecido, assumiu o comando das empresas depois a morte do sogro.

João Câmara não queria sua candidatura a deputado federal após a redemocratização do país em l945. Cedeu às pressões dos e correligionários, porém não se empenhou na sua eleição. Na véspera do pleito mando-o a Paraíba para cumprir uma tarefa da empresa.

O “majó” Theodorico Bezerra que foi o mais importante “ coronel” da vida pública do Rio Grande do
Norte – deputado estadual, deputado federal e vice-governador do Estado – dizia que João Câmara cumpria o que acertava verbalmente e não precisava assinar papel. “Sua palavra era suficiente: tinha fé de
ofício”.

Embora fosse um homem sisudo no trabalho, era uma pessoa generosa e agradável no convívio social. Justamente por isso, seu nome era cotado para ser governador do Estado, em l950, como candidato de
consenso com o apoio do PSD e da UDN, partidos antagônicos que se uniriam em torno dele, esquecendo suas divergências políticas.

O empresário e político João Câmara conseguia, com sua habilidade, conviver em harmonia com
correligionários e adversários. Dizia o ex-deputado Theodorico Bezerra que “não se conhecia, na época, um político de qual partido fosse, que não devesse um favor a João Câmara.” Sua candidatura ao Governo, portanto, era imbatível. Ninguém tinha a coragem de enfrentá-lo nas urnas. O acordo entre o PSD e a UDN já tinha sido costurado com antecedência, antes do pleito de l950, logo após sua eleição para o Senado da Republica, em l946.

Apesar de gostar da política, a grande paixão de João Câmara eram seus empreendimentos. Enquanto
expandia suas usinas de beneficiamento de algodão e óleo pelo interior do Estado, estava projetando a instalação de uma fábrica destinada a industrialização de agave cultivado em larga escala na região do Mato Grande, da qual ele era o maior produtor. Já tinha enviado um emissário ao México, grande produtor internacional, para colher subsídios. Constavam ainda, dos seus planos, a implantação de uma fábrica de tecidos para industrializar aqui o algodão que ele produzia e vendia para os mercados interno e externo.

O empresário João Câmara, o maior exportador do Estado, mantinha relações comerciais com o grupo
paulista Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo – IRFM – o maior conglomerado de empresas do país. O
conde Francisco Matarazzo fazia de questão de financiar seus fornecedores para evitar quaisquer problemas com o fornecimento da matéria prima. O gerente da firma Wharton Pedroza, mister Scott Brusck (inglês), concorrente de João Câmara, resolveu denunciar o empresário do Mato Grande ao conde Francisco Matarazzo com o objetivo de sufocá-lo financeiramente, inclusive, evitando qualquer tipo de adiantamento. Sentindo-se prejudicado, o empresário foi até São Paulo para esclarecer os fatos, embora não soubesse quem o tinha denunciado.

Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, tinha saído um decreto do Governo Federal determinando que
nenhum brasileiro estava obrigado a quitar dívidas com os “súditos do eixo – Itália, Japão e Alemanha –
durante o período da guerra”. O conde Matarazzo o recebeu, mas não o mandou sentar. De pé, João Câmara afirmou com firmeza que, embora existisse o decreto do governo Federal, iria pagar seus débitos no prazo fixado, sem atrasar um dia sequer, o que realmente foi feito com pontualidade britânica.
Quando a dívida estava preste a vencer e com os lucros obtidos com a venda de matéria prima em plena
guerra, João Câmara solicitou nova audiência ao conde em São Paulo, já levando o cheque da quitação no bolso do paletó.

Desta vez, o Conde o mandou sentar, Mas João Câmara fez questão de permanecer de pé. Entregou o cheque ao empresário paulista e pediu que ele mandasse conferir a quantia depositada, no Banco
do Brasil, o que foi feito instantes depois. Cumprira mais uma vez com sua palavra. Ganhou a confiança do Conde Matarazzo que mais tarde visitaria o Rio Grande do Norte, a seu convite, para conhecer suas fazendas e empresas, fazendo o trajeto em trem especial cedido pela Great-Western. Numa conversa informal com João Câmara, o Conde se referiu ao episódio citando nominalmente o autor da denúncia.

Era um empresário moderno e ousado para o seu tempo no relacionamento com seus empregados. No
mês de dezembro de cada ano incluía seus gerentes nas gratificações especiais nos lucros das empresas.
Naquela época, era algo inusitado. Essa participação somente viria ocorrer muitos anos depois da sua morte. Inegavelmente, foi um dos pioneiros nessa iniciativa no país, quando não exista nenhuma legislação sobre o assunto. Já pensava também em incluí-los como sócios cotistas numa homenagem aqueles que o ajudaram a construir seu império econômico no Rio Grande do Norte.

Chegava cedo ao escritório da empresa, à rua Frei Miguelinho, na Ribeira, em Natal e era o último a sair. Fazia questão de conferir diariamente todos os repasses feitos para as filiais no interior do Estado. O jovem Antônio, Gazzaneo Cabral, auxiliar de escritório, filho do seu gerente Genésio Cabral, que ainda era seu parente, respondia pela tarefa diária. ”Ele fazia a conferência dos números apenas por uma questão de rotina. Tinha uma memória privilegiada. Sabia de tudo o que se passava na empresa” recorda Gazzaneo.

Por sugestão de João Câmara, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte reduziu de 35 para 30 a idade mínima para um cidadão assumir o Governo do Estado. A emenda tinha endereço certo: o jovem prefeito de Natal, Sylvio Pisa Pedroza, filho do seu amigo Fernando Gomes Pedroza, por quem João Câmara tinha uma afeição paternal. Sylvio seria vice de Dix-sept Rosado que governou o Estado apenas por seis meses. Com sua morte em desastre aéreo no rio do Sal, em Sergipe, assumiu o Governo do Rio Grande do Norte

Poucos dias antes da sua morte, João Câmara foi acometido por um furunculose (é o aparecimento frequente de furúnculos, que são pequenos caroços vermelhos com pus que podem aparecer na pele devido à infecção pela bactéria Staphylococcus aureu) que o incomodava muito, principalmente, por não poder comparecer ao escritório. Mesmo assim, despachava com os auxiliares mais diretos tomando conhecimento de tudo. O diabetes também se manifestava nesse período. Ficou mais de dez dias sem comparecer ao trabalho.

Isso o incomodava mais ainda, porém, seu medico particular e cunhado, Sérgio Guedes, tranquilizava a todos os auxiliares, amigos e correligionários que o visitavam preocupados. O paciente apresentava melhoras sensíveis e já pensava em retornar ao trabalho, quando às 6h30 do dia l2/12/1948, foi vitimado por um fulminante infarte do miocárdio, em sua residência a av. Hermes da Fonseca, n 780. O médico Sérgio Guedes chamado às pressas chegou rápido, mas já encontrou seu paciente morto.

Enterro de João Câmara, em Natal - Foto: Crônicas taipuenses:
Multidão acompanha o enterro do senador João Câmara, em Natal - Foto: Blog de Assis

Ao morrer inesperadamente, João Câmara deixou elevada quantia em dinheiro nos cofres da empresa,
além de todos os compromissos em dia. Sem sua liderança centralizadora, a empresa começou a enfrentar dificuldades e, dez anos depois, entrou em dificuldades financeiras insanáveis. O funcionário Francisco de Paula Freire, após seis meses de salários atrasados, entrou na justiça com o pedido de falência, o que foi aceito. A decisão judicial determinou que o Banco do Brasil, na condição de maior credor, assumisse o controle da massa falida. Os bens disponíveis foram vendidos em leilão.

O Rio Grande do Norte ainda lamentava a grande perda do empresário que poderia ter sido uma das maiores fortunas do Nordeste e seu “governador escolhido” com dois anos de antecedência, como disse o mestre Câmara Cascudo, no livro “História de um homem” que narra a vida de um vencedor.
O saudoso deputado Olavo Lacerda Montenegro (PSD) apresentou à Assembleia Legislativa, na década de l960, um projeto de lei concedendo uma pensão especial para d. Maria Rodrigues Câmara, viúva de João Câmara, em face dos transtornos financeiros causados pela falência da empresa.

A suntuosa casa da av. Hermes da Fonseca, em Natal, onde morou João Câmara- Foto: Tok de história

A suntuosa casa da av. Hermes da Fonseca foi adquirida pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde funcionou por muitos anos a sede da reitoria da UFRN. Posteriormente, o imóvel foi transferido para a Marinha de Guerra, onde funcionou o 3° Distrito Naval. Posteriormente, negociado por um terreno para a unidade militar no bairro de Santo Reis e o espaço, atualmente ,aguarda um futuro empreendimento residencial.

Em reconhecimento aos seus esforços empresariais em prol do desenvolvimento Estado, João
Severiano da Câmara é nome de município; de estádio de futebol no bairro das Rocas, da principal avenida na cidade do Assu; de praça no bairro da Ribeira e de dezenas de ruas na cidades do interior do Estado, entre elas, São José de Mipibu.

João Câmara foi um homem que viveu acima do seu tempo, transpondo todos os obstáculos que se puseram à sua frente, com trabalho e obstinação.

Jazigo de João Câmara, no cemitério do Alecrim, em Natal, com Hermes sentado entre duas colunas. Foto: Natal das Antigas

Fonte de pesquisa: Livro “Resgate da Memória Política”, de autoria de João Batista Machado, Natal-RN, Departamento Estadual de Imprensa, 2006, 452 ps

Os comentários estão desativados.