Jornalismo com ética e coragem para mostrar a verdade.

dezembro 10, 2023

Origem dos apelidos pitorescos de alguns mipibuenses

Cristóvão Cavalcante – Escritor e pesquisador mipibuense radicado no Rio de Janeiro Paulo Rói Rói (Dr.

Manoel Cancão

Cristóvão Cavalcante – Escritor e pesquisador mipibuense radicado no Rio de Janeiro

Paulo Rói Rói (Dr. Paulo - Advogado criminalista

Foi designado para defender um criminoso mipibuense, conhecido por Passou Camaleão Pombudo (Passou Camaleão porque tinha um andar, idêntico a um camaleão e Pombudo, por ser avantajado). Camaleão ficava furioso, quando alguém o apelidava e, se a pessoa não corresse, poderia haver uma tragédia que, um certo dia, infelizmente, veio a ocorrer. Um senhor vendendo pães, num balaio, gritou: "-Passou Camaleão"

Nem deu tempo de correr, sendo esfaqueado por Passo Camaleão Pombudo, que, foi preso em flagrante. Meses depois, Camaleão foi a júri popular. Seu defensor era o advogado, conhecido por Dr. Paulo Rói Rói (porque parecia com um brinquedo de criança, vendido na feira) considerado como um ótimo jurista, na região.

Iniciou o julgamento de Camaleão. O local, além dos jurados, estava repleto de curiosos. O Meritissimo Juiz deu aberta a sessão. O promotor acusou Camaleão de assassino, psicopata, perverso... Pediu a pena máxima e se dirigindo aos jurados, pediu que considerasse o caso, como se a vítima  fosse um  seu parente e concluiu: 
"- Esse assassino não deve e não pode viver em sociedade".
Em defesa do réu, o  Dr. Paulo Rói Rói, repetiu umas vinte vezes:
"- Meritíssimo senhor Juiz de Direito, excelentíssimo senhor Promotor, senhores Jurados, minhas senhoras e meus  senhores..."
Na vigésima primeira vez, irritou o juiz, que furioso bateu na mesa e gritou: 
"- Senhor defensor, o senhor pare de elogios e passe a defender seu cliente".
Rói Rói na maior calma, voltou-se para os jurados e a platéia:
"-Estão vendo senhores Jurados, em apenas cinco ou seis minutos de elogios, o Meritíssimo se irritou tanto... tanto, que me assustou. Imagino ter assustado os senhores também. Fizemos, apenas elogios, e o que dizer desse pobre homem, que há anos é apelidado por codinome, que o deixava descontrolado.  Por isso peço a absolvição do meu cliente, que há muito tempo sofreu e sofre com esse apelido". 

Camaleão foi absorvido por unanimidade.

Maria do Boi

Maria era vendedora de um delicioso cachorro quente, na calçada do Mercado Público de São José de Mipibu. Ela adorava assistir a dança folclórica do Boi do Reis. Essa peça é muito interessante, e é apresentada por ocasião dos festejos natalinos e dos Reis Magos.

Durante a apresentação do Boi de Reis, Maria ficou na frente, aplaudindo freneticamente o grupo folclórico. O Boi bailou numa velocidade, que Maria, mesmo com seu peso, por ser obesa, subiu e caiu estatalada (deitada por terra; imóvel) no meio da roda. Aí ficou com o apelido de "Maria do Boi".

Tira...tira Moscobilha

Mestre Ivo
Mestre Ivo, era um batalhador. Mesmo deficiente, não era motivo que o impedia de trabalhar. Criou três sobrinhos: Otávio de Ivo, Zé de Ivo e Maria de Ivo, vendendo uvas num tabuleiro. "-Corta o cabelo dele! Corta o cabelo dele!" Ele  disparava  palavrões. O outro apelido o irritava ainda mais. Tira...tira Moscobilha! Ele virava o capeta e, tome palavrões.

Mestre Ivo, gostava de uns carinhos de um rapaz conhecido por Bráulio que, sempre ia pegar uns trocadinhos com ele, em troca de uns toques. Nada mais do que isso. Crocodilo era um homem, que tinha um caminhão que fazia frete, e ficava na Praça de Táxi, em frente a caixa d'água (atualmente a Câmara Municipal). Quando Mestre Ivo apontava na rua, Crocodilo infernizava o coitado.

Eis, que sabendo que  Bráulio iria pegar uma graninha com Ivo, deu uns trocados para não ir comparecer ao encontro. Tudo acertado.  Lá foi Crocodilo  pregar a peça no coitado de Mestre Ivo. Era umas 20h e Crocodilo, pelo fundo do quintal, chamou: 
"- Mestre Ivo! Mestre Ivo! 
Ivo achou a voz diferente, saiu com o candeeiro na mão, perguntando: 
"- Será o meu Braulinho? 

"-Eu, mesmo Mestre Ivo! A seguir Crocodilo apagou o candeeiro e colocou a 'anaconda' no ombro de Ivo. Ele, ficou uma fera e gritou:
"-Pelo tamanho e as informações, só pode ser o tal do Moscobilha.

No dia seguinte, Mestre Ivo ao aparecer na rua, ouviu os gritamos: Tira..Tira Moscobilha. Aí o bicho pegou. Muitos palavrões, até a porta da Igreja. Como era muito religioso, tinha uma cadeira especial na Igreja Matriz. Se chegasse alguém e conversasse amigavelmente ele se mostrava educado e com um português afiado.

Tocador

Outra vítima: um velhinho descansando sentado no velho coreto da Praça Aurélio Pinheiro (atualmente, Praça Desembargador Celso Sales). Ao seu lado, um saco de farinha e raspa de rapadura. O senhor fazia  movimento de misturar a farinha  com a rapadura. Nisso passa um moleque de apelido Babú, olhou pro senhorzinho e gritou: 
"- Tá tocando, tocador?" 
Ele ficava enfurecido e soltava palavrões.

Ciça Taio

Cícera (desconheço o sobrenome) era, vendedora de milho verde assado, na frente do Mercado Público. Ela sentava bem a vontade, com um vestido curto e uma calçola feita de murim, com a boca bem larga. Ela tão entretida e descontraída, abanava as brasas do fogareiro, quando um moleque  de nome Odilon Isaias (vulgo Açúcar) falou: 
"-Ciça tem um taio"... Aí, o apelido pegou geral ('Ciça Taio').

Chico Borrachudo

Por ser portador de duas narinas exageradas, ficou conhecido por Chico Borrachudo. Chico era  segurança noturno e, durante a madrugada, se deitava no velho coreto e colocava o apito no buraco da narina e dormia.  A cada respiro, era um assobio alto, provocado pelo apito, nas narinas, dando impressão de estar fazendo ronda nas ruas centrais de São José de Mipibu

Guiné

Filha de Timbu, morava na Rua Bonfim. Ela tinha um sinal vermelho em volta do pescoço, que lhes deram o apelido de Guiné.
Pense numa mulher braba. Brigava e saia na mão com qualquer pessoa, que à apelidasse.

Mede Vara

Na década trinta e quarenta existia na Cônego Lustosa, conhecida por Ladeira do Japão, uma 'profissional', que exercia a profissão mais antiga do mundo, guardava na bolsa, uma fita métrica para medir a 'ferramenta' dos seus clientes. Para atendê-los tinha uma bitola. Ela ficava uma fera com quem a chamava, pelo apelido Mede Vara.

Papagaio Zebú

Também nessa época, existia uma senhora idosa, que possuía um par de orelhas parecendo dois abanos. Quando chamavam de Papagaio Zebu, ela estirava uma língua tão grande, que parecia a língua de uma vaca. E gritava: "-Merda".

Chico da Macaca

Seu Chico tinha uma macaca, que era o seu ganha pão. Essa macaca era infernal, só atendia ao dono. Quando a levava para, aos sábados, para a feira livre de São José de Mipibu, muita gente se aproximava para vê-la adivinhar o valor que a pessoa havia ofertado. Exemplo: se fosse 2 Cruzeiros, Seu Chico perguntava quanto havia ofertado, e o animalzinho dava duas cambalhotas. Era com isso que Chico arrumava uns bons trocados.

O animal era preso a uma corda, para evitar que atacasse quem se aproximasse. Certa vez soltou-se do dono e atacou as pessoas, começando a mordê-las. Deu um trabalho danado, pois só atendia ao dono. Contam que um gaiato, cochichou no ouvido da macaca, que ela pulou tanto, que caiu desfalecida.

Chico da Macaca, espantado com o que via, perguntou: "-Que diabos você perguntou a macaca?

Ele respondeu: "-Eu, só perguntei quantos chifres, seu xará Chico, já tinha levado???

Surpreso seu Chico, falou: "-Isso é coisa pra perguntar a minha macaca?"

Azougue

Evaldo Justino era conhecido outros nomes, entre eles, Edivaldo, Dedê. Porém, ele ficou conhecido no mundo do crime, por Azogue. Esse apelido lhe caiu como uma luva. Desde criancinha Evaldo era um capeta em forma de gente. Cresceu dando um trabalho aos pais Anita e Luiz Justino (ambos, in memorian).

Zé Rinaldo 'Olho de Boto'

Zé Rinaldo era tabelião de São José de Mipibu. Tinha os olhos grandes e esbugalhados (muito aberto ou muito saliente), pareciam dois faróis de Jeep. Certo dia foi tomar banho na praia, em Natal, mergulhando com os olhos abertos. Quando submergiu, havia uma criança próxima, que ao vê-lo, gritou:"- Socorro! Um boto". Foi um corre corre. E Zé Rinaldo com a fala meio gago, se explicou: "-Não sou um boto, sou tabelião de Mipibu"

João Campossote - Café Filho

Na década de cinquenta, depois da morte do Presidente Getúlio Vargas ( 24 de agosto de1954), assumiu a presidência do Brasil, o vice-presidente - o potiguar João Café Filho (PTB). Como ardoroso eleitor João Campossote, aos tomar umas biritas, acima do normal, descia a "Ladeira do Japão", cambaleando, livrando dos os enormes buraco, gritando a todo pulmão: "-Viva Café Filho".

Bulú

Uma senhorinha, já velhinha e de estatura pequenininha, muito conhecida em Mipibu. Sua filha Maria, era conhecida por "Maria Curinga". Teve dois filhos: Eliza (adotada por meus tios, Gonzaga e Maria de Lourdes) e Carlos Bulú, uma figura folclórica de Mipibu, pela sua irreverência e bom humor. Era muito querido pelos mipibuenses.

Petinga

A mãe de Lourival Justino o chamava de 'Preto', por ser o mais pretinho dos filhos. A galera deu-lhe o apelido de Petinga.

Lula

Rui Justino tinha o rosto vermelho, parecido com um fruto do mar, uma lagosta, deram-lhe o apelido de Lula.

Tá inchado?

Uma das mulheres do cabaré de João Mané, recebeu um cliente. Beberam e, depois pediram um quarto. Pouco tempo depois, outros clientes que se divertiam com outras mulheres, se assustaram com o grito, vindo do quarto: "-Tá inchado?" O fato logo se espalhou entre a galera mipibuense.

Raimundo Totó

Raimundo Isaias de Macedo, usava longos cabelos que fazia um totó ridículo, que lhe caia muito bem. Daí o apelido: Raimundo Totó. De personalidade forte, era muito crítico e debochado. Teve um final macabro.

Existiam outros personagens mipibuenses, com apelidos pitorescos, entre eles: Mucuiu, Chamboquita, Coquita, Cabelo, João Sacristão, Luiz do Padre, Emília Butina, Zome, Piaba, Capim, Antonio Bodinho, Lobisomem, Antônio  Candeia, Carlos de Tião,  Juvenal Cuia, Miro Fureite, Cocão, Valdir Canhão, Chula...

E também: Arame, Coguinha, Antônio  Frandeleiro, Mata Fome, Israel Boi de Barro, Valdo Macaxeira, Badeco, Assis Manga Rosa, Tito, Zé Caxixi, Caneco, Cancão, Tabacão, Manoel de Zezé, Zabé Rodinha, Zefa Coqueiro, Deda Calemba, Sebastião Timbu, Anão, Cururu, Maria Babona, Geraldo Urubu, Nêgo Dumdum, Mané Cassinha, Zola, Pintado, Noca, Zabé Fateira.

Zola residiu por muitos anos na Casa Paroquial

.

Uma resposta para “Origem dos apelidos pitorescos de alguns mipibuenses”

  1. Me cobraram de outros apelidos significantes, mais somos tão ricos nessas gostosas e saudosas lembranças, que vai ficando pra uma próxima crônica se assim o nosso amigo Dedé do Alerta (José Alves) permitir. Conto com o apoio e colaboração dele, que tem nos ajudado. Carlinhos de Zé das Bicicletas, Itamar Gurgel, Lourival Cavalcanti cobraram outro apelidos, mais são tantos, que foge da memória.Alguns foram citados nas crônicas anteriores.