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julho 17, 2023

O QUE TÁ FALTANDO? Pronta desde junho, estação de Nísia Floresta sem data para operar

Entregue durante a primeira quinzena de junho deste ano, a estação de trem de Nísia Floresta, ainda não tem data para começar a operar.

Estação CBTU-Nisia Floresta Foto.Magnus Nascimento

Entregue durante a primeira quinzena de junho deste ano, a estação de trem de Nísia Floresta, ainda não tem data para começar a operar. Apesar do fim das obras – e da estrutura estar pronta para uso – a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) alega que a empresa responsável entregou as estações com problemas de segurança e na catraca.

A empresa responsável não comenta o caso. Já o prefeito da cidade de Nísia Floresta, Daniel Marinho (PL), acusa a CBTU de atrasar o funcionamento da estação por “motivações políticas”. Para além dos motivos para o atraso, a população da cidade reclama da demora e torce pela rápida resolução do caso. 

Nesta semana, a TRIBUNA DO NORTE foi ao local e encontrou uma estrutura bem conservada, com bilheteria, banheiros, catracas e iluminação. No entanto, o calçamento de acesso à estação, apesar de novo, está danificado. Mesmo sem funcionamento, as lixeiras estão tomadas de material como latas de cerveja e itens descartáveis, uma prova de que o local tem sido frequentado diariamente. O prefeito afirma que a preocupação é que a estrutura passe a ser utilizada para consumo de drogas e outras práticas  que danifiquem as instalações. “À noite, mesmo com iluminação, tudo fica às escuras”, comenta Daniel Marinho. 

A CBTU relatou ter identificado, após o recebimento da obra, “inconformidades nas instalações da estação” e que, por isso, “o trem ainda não começou a circular até Nísia Floresta”. De acordo com nota enviada pela Companhia, o consórcio Vipetro/Domo, responsável pela obra, foi notificado no último dia 7 para correção das “inconformidades encontradas nos serviços executados, tais como drenagem, instalações prediais, segurança (porta de emergência) e no controle de entrada e saída de usuários (catraca)”.

Segundo a Companhia, do ponto de vista técnico e operacional, “a empresa está pronta para iniciar as viagens até a Estação Nísia Floresta, as quais já estão incluídas na programação da grade horária”. De acordo com a CBTU, “até momento, o Consórcio não cumpriu a notificação enviada. Tão logo as inconformidades sejam sanadas, a CBTU informará a toda a população a data de início da operação do trecho”.

Procurado, o consórcio Vipetro/Domo confirmou ter entregado a obra, mas alegou não poder responder a nenhum questionamento por conta de questões contratuais junto à CBTU. Enquanto o serviço não chega, os moradores reclamam e se dizem frustrados com a situação. As irmãs Izaíres e Gizelda moram em Nísia Floresta desde criança, em um período onde ainda podiam desfrutar de viagens de trem para a capital potiguar.

“Todo mundo está ansioso para que o trem venha para cá porque é um meio de transporte mais barato, que vai beneficiar a todos. Se a estação estivesse funcionando, ia ser mais fácil se deslocar para Natal ou Parnamirim. O problema é que ninguém sabe quando chega”, reclama a professora Izaíres Freire, de 57 anos. 

A agricultora Gizelda Freire, de 55 anos, se queixa da falta do trem. “O trem vai melhorar porque a passagem para Natal é R$ 8 e para Parnamirim é R$ 5. No VLT, a gente só vai pagar R$ 2,50. Então, é um benefício muito bom. Diziam que a estação e o trem vinham e eu não acreditava. A estação veio, mas cadê o trem?”, questiona. O vendedor Ademilson Torres, de 59 anos, diz esperar ansioso pela chegada da operação. 

“Motivação política”, diz prefeito

Para o prefeito de Nísia Floresta, Daniel Marinho (PSDB), o atraso no início das operações do VLT tem motivação política. Isso porque, na opinião do gestor, a ideia é atrelar a obra ao governo atual. A construção da estação de Nísia integra um projeto encabeçado pelo ex-ministro do Desenvolvimento Regional, o senador Rogério Marinho (PL), que contempla a expansão do serviço no RN. O projeto está dividido em etapas, com investimento de R$ 100 milhões. A CBTU não comentou a declaração do prefeito.

A estação de Nísia faz parte da ampliação da chamada Linha Branca, que abrange cinco outras estruturas, totalizando 23,4 km de linha férrea, com investimento de cerca de R$ 78 milhões, de acordo com a CBTU. Em dezembro do ano passado, foram entregues as estações Bonfim e São José de Mipibu. “Acredito que tem um pouco de questão política. Se a obra for entregue agora, será preciso dar crédito a quem vinha construindo [a estação], mas o que se quer, na verdade, é desmembrá-la para que fique como um trabalho do atual governo”, avalia Daniel Marinho.

“No meu entendimento, estão dando um lapso temporal para que a população esqueça e, mais a frente, eles [o atual governo] cheguem como autores e executores da obra”, complementa Marinho. O prefeito reclama que, apesar das inúmeras tentativas, não consegue retorno algum sobre a questão junto à CBTU. “A população tem me cobrado sobre a chegada do trem, mas eu não sei o que fazer. A previsão inicial [para entrega] era setembro de 2022, depois passou para dezembro e, infelizmente, não cumpriram os prazos”, indica. 

De acordo com Daniel Marinho, a chegada do VLT à cidade irá beneficiar cerca de 8 mil pessoas. “Nísia Floresta tem 32 mil habitantes, dos quais 10 mil vivem na área mais central da cidade. São eles quem devem aproveitar melhor os serviços e aí, a gente coloca a estimativa de 8 mil beneficiários porque são as pessoas que não têm carro particular. Mas o trem é um meio de transporte rápido, confortável e barato, então, outras pessoas vão querer utilizá-lo. Será um benefício muito importante para as pessoas carentes, que ganham um salário mínimo e não conseguem gastar diariamente R$ 16 [valor de ida e volta] para Natal”, destaca.

Fonte: Tribuna do Norte

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