Por Amauri Freire - Pesquisador e Membro do Conselho Norteriograndense de Folclore

O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto foi um dos movimentos messiânicos que surgiu nas terras do Crato/CE. A comunidade era liderada pelo paraibano, de Pilões de Dentro, José Lourenço Gomes da Silva, mais conhecido por" beato José Lourenço".

José Lourenço trabalhava com sua família em latifúndios do sertão da Paraíba. Decidiu migrar para Juazeiro do Norte/CE, onde conheceu o Padre Cícero e ganhou sua simpatia e confiança. 

Em Juazeiro, conseguiu arrendar um lote de terra no sitio Baixa Dantas, no município do Crato/CE. Com bastante esforço, José Lourenço e os demais romeiros, e a terra cultivada prosperou, e eles produziram cereais e frutas. Diferente das fazendas vizinhas, na comunidade, toda a produção era dividida igualmente.

Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero, que falecera em 1934, a fazenda foi invadida e destruída pelas forças do governo do presidente Getúlio Vargas, que acusava a comunidade de "Comunismo". 

Os sertanejos sobreviventes dividiram-se, ressurgindo novamente em uma nova comunidade. Em 11 de maio de 1937, foi invadida novamente. Dessa vez, por terra e pelo ar, quando houve o grande massacre, com o número oficial de 400 mortos (outras estimativas, entanto, chegam a mais de 1000). 

Os familiares e descendentes dos mortos nunca souberam onde encontram-se os corpos, pois o Exército Brasileiro e a Polícia Militar do Ceará nunca informaram o local da vala comum na qual os seguidores do beato foram enterrados. 

Presume-se que a vala coletiva encontra-se no Caldeirão ou na Mata dos Cavalos, na Serra do Cruzeiro (região do Cariri). José Lourenço fugiu para Pernambuco, onde morreu aos 74 anos, de peste bubônica, tendo sido levado por uma multidão para Juazeiro/CE, onde foi enterrado no cemitério do Socorro.