O dia que mudou tudo

setembro 1, 2024

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor @alexmedeiros1959 Texto publicado na Tribuna do Norte A década de 1960 iniciou recheada de narrativas sobre a chegada da Era de Aquário, onde pensamentos e filosofias esotéricas ocuparam a mente de uma juventude nascida nos pós-guerra e dotada de índole libertária.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor @alexmedeiros1959 Texto publicado na Tribuna do Norte

A década de 1960 iniciou recheada de narrativas sobre a chegada da Era de Aquário, onde pensamentos e filosofias esotéricas ocuparam a mente de uma juventude nascida nos pós-guerra e dotada de índole libertária. Em 4 de fevereiro de 1962, um fenômeno raríssimo, chamado “stellium”, alinhou cinco planetas, Júpiter, Marte, Mercúrio, Saturno e Vênus. E mais o Sol e a Lua.

A grande conjunção planetária, com os sete astros orbitando no signo de Aquário, foi interpretada como o esperado sinal apocalíptico da transmutação da vida na Terra, gerando pavor em religiosos tradicionais e esperança nos jovens irrequietos. Some-se ao mapa astral daquele dia um eclipse solar total. A partir dali mudanças profundas deveriam começar a ocorrer na humanidade.

Um mês antes do alinhamento, quatro rapazes saíram de Liverpool para um teste na poderosa gravadora Decca, em Londres. Foram rejeitados. Não demorou e se tornaram um fenômeno musical e comportamental na Inglaterra.

Um mês depois da conjunção astronômica, nos EUA, um jovem poeta de Minnesota lançava seu primeiro disco e antes do fim daquele 1962 ele deixaria de usar seu nome de batismo, Robert Allen Zimmerman, e adotaria Bob Dylan.

Bob Dylan

Entre dezembro de 62 e janeiro de 63, Dylan se apresentou na capital britânica em clubes e pubs, e também cantou durante entrevista na rede de rádio e TV BBC. Soube do sucesso dos Beatles e estes, por sua vez, ouviram a sua voz.

Entre fevereiro de 1962 e agosto de 1964, muitos acontecimentos mexeram com a vida na Terra reforçando o sentimento de que estávamos, de fato, vivendo o alvorecer da Era de Aquário, com revoluções culturais e científicas.

Mas, se houve um alinhamento com força de junção de vários cataclismos, isto ocorreu mesmo no dia 28 de agosto de 1964, precisamente na quadratura cerebral e na sinastria musical na órbita de Nova York, no Delmonico Hotel.

Os Beatles estavam em sua primeira turnê na terra do blues e do rock, os gêneros de primeira necessidade da fase inicial da carreira em Liverpool. Chegaram lá como um furacão de alto grau de impacto na juventude gringa.

Como todo ídolo também tem seus ídolos, Bob Dylan era um dos gurus que faziam a cabeça e a cabeleira dos quatro rapazes ingleses. Por intermédio do jornalista Al Aronowitz, eles foram levados para conhecer o baladeiro do folk.

O grande encontro ficou marcado na fofoca news (naquele tempo já tinha isso, mesmo sem blogs e redes sociais) como o dia em que o rebelde compositor das passeatas apresentou ao quarteto um baseado, mas isso foi coisa pouca.

Porque coisa louca mesmo foram os efeitos musicais, poéticos, acústicos, elétricos, harmônicos, conceituais, discográficos e comportamentais que aquele choque de astros, um big bang humano causaria na trajetória do rock ‘n’ roll.

Numa primeira alteração de rota astral, os Beatles experimentaram a forte influência de Dylan, visível na concepção melódica dos álbuns “Beatles for Sale”, de dezembro de 1964, e “Help”, lançado num mesmo agosto, em 1965.

Na transfusão de estilos e técnicas, Bob Dylan também exibiu em dois discos posteriores ao grande encontro sua adesão à guitarra elétrica e ainda utilizou o auxílio luxuoso de uma banda tipicamente de rock, a antítese do violão caipira.

Hoje, sessenta anos após a conjunção musical de Beatles e Bob Dylan, podemos olhar para trás, contar cada acontecimento no universo da pop music e calcular em escala exponencial a mudança que aquilo produziu no planeta.

Eu me sinto átomo, partícula de pó do alinhamento de cinco astros infinitos.

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