O Camelô de todas as Classes

agosto 25, 2024

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Publicado na Tribuna do Norte Silvio Santos foi uno no ranking dos auditórios.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Publicado na Tribuna do Norte

Silvio Santos foi uno no ranking dos auditórios. Um mito gerado em si mesmo a superar barreiras sociais e culturais que se erguiam no seu caminho. O Senhor Sorriso do SBT foi também a antítese de Roberto Marinho, criador que não foi embaçado pela criatura. Marinho era menor que a Globo, enquanto o SBT nunca ameaçou o brilho próprio do seu dono.

Por mais que se tenha dito que os domingos no Brasil nunca mais seriam os mesmo sem Ayrton Senna, sem Pelé, o tempo tratou de desmentir a tese. O dia do descanso virou sinônimo de Silvio Santos. Por décadas, as cantilenas “Sílvio Santos vem aí” e “É ritmo, ritmo de festa” foram a alegria de milhões de famílias brasileiras. Ninguém vendeu melhor o entretenimento televisivo.

Sílvio conseguiu com atrações como o “Show do Milhão” ou “Qual é a Música”, tirar pontos de audiência até do futebol. Numa emissora que nunca priorizou o jornalismo, ele fez a ocorrência policial ganhar dimensão com o “Aqui Agora”.

Mas se engana quem um dia achou que o apresentador só atraía os públicos situados na metade de baixo da pirâmide social. Sua verve comercial que floresceu na venda de canetas nas ruas do Rio enraizou em ricos e poderosos.

Quem tem grande público também tem grandes parceiros comerciais, como ficou claro em 1972, três anos antes de criar seu próprio canal, ao publicar anúncio nas revistas e jornais com 210 fortes patrocinadores do seu programa.

Sílvio Santos é a mais icônica e emblemática personalidade da comunicação nacional e (por que não?), o mais popular cidadão brasileiro dos últimos 60 anos. E o mais longevo, o mais criativo, o mais competente e o mais popular.

Sempre mantive uma curiosidade sobre qual seria a maior personificação do bem querer da Nação em relação aos seus ídolos, e passei décadas imaginando qual perda teria maior comoção e maior repercussão midiática.

E agora, depois que perdemos Ayrton Senna e Pelé, constato o quão ele teve e tem o carinho e reconhecimento do país numa dimensão incomparável, representada na gigantesca repercussão que presenciamos na imprensa.

Nunca imaginei que as redes abertas de televisão, os canais fechados de notícias, as rádios e os sites e blogs imprimissem um ritmo frenético de plantão 24 horas na cobertura da história, da vida e da morte de Sílvio Santos.

A minha geração é filha da TV. Nada foi mais presente e constante no cotidiano das famílias nas décadas de 1960, 1970 e 1980 do que a programação televisiva. E me limito aqui aos períodos das minhas infância e juventude.

De tudo que se consumiu no conteúdo de entretenimento por décadas, as maiores referências das famílias eram os programas de auditório dos grandes comunicadores, em especial Flávio Cavalcanti, Chacrinha, J. Silvestre e “Ele”.

Silvio Santos é sinônimo de domingo, uma presença que de tão tradicional foi não apenas uma mania e escolha das pessoas, mas também uma experiência de telespectador carregada de uma mistura de afetividade e de religiosidade.

Da minha geração, não há um brasileiro nascido a partir de 1959 que não tenha tido um momento dominical de relação virtual e emotiva com Sílvio. E nenhum brasileiro deixou de sentir a sensação de luto que bate agora no palco particular das emoções que é o coração de cada um de nós.

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