O amor – Um tirano dos Deuses e dos Homens
Nadja Lira Os romances clássicos da literatura universal sempre me chamaram a atenção porque jamais apresentam um final feliz.
Nadja Lira
Os romances clássicos da literatura universal sempre me chamaram a atenção porque jamais apresentam um final feliz. Todos os romances famosos da história, terminam de forma trágica, dramática e com os apaixonados separados: seja pela morte ou por qualquer outra razão. Observando as grandes histórias de amor sejam na ficção quanto na vida real percebemos que elas convergem para um único ponto: a dor, o sofrimento, a amargura e a separação.
Desse modo, é visível que a busca dos apaixonados por um final feliz através de uma história de amor, nada mais é do que uma luta inglória, porque a busca pela felicidade através do amor leva os seres apaixonados à infelicidade, demonstrando que o amor é um tirano dos deuses e dos homens.
Nem mesmo Eros ou Cupido, filho de deuses, escapou das armadilhas do amor. Nem mesmo ele, com incontáveis qualidades e habilidades em seu currículo, conseguiu conquistar o coração da sua amada e acabou por padecer a dor do amor não correspondido como todos os mortais.
MANON – era este o título da primeira história de amor que li na minha vida e que me marcou profundamente. Manon era uma mulher pobre. Uma plebeia, que vivia de praticar pequenos golpes a fim de ganhar dinheiro que lhe permitisse sobreviver. Então, ela conhece o príncipe Pierre, que deixa toda as mordomias do seu castelo para viver uma história de amor com a moça. Mas, no final, os dois morrem.
Meu tio gostava de ler Fotonovelas que traziam histórias de um agente secreto italiano chamado Jacques Douglas. As histórias eram interessantes, o sujeito era bonito e conseguia obter sucesso em todas as aventuras para as quais era indicado. Além de inteligente, ele era charmoso, sedutor e conquistava as mulheres com muita elegância.
Mas ele era frio, distante e reservado. Jamais se apaixonava. Depois de ler várias histórias eu compreendi a razão do seu comportamento. Ele estava saindo da Igreja, onde acabara de casar com a mulher dos seus sonhos, quando um dos seus inimigos infiltrados entre os convidados, dá uma facada mortal nas costas da noiva.
A história do Espião Britânico 007 também não é diferente. Ele acabara de sair da Igreja casado com sua amada e partem para a lua de mel, quando em dado momento, um tiro surge do nada e atinge a testa da moça. O Espião da Rainha fica arrasado. Deixa o Serviço Secreto e se entrega à bebida, mas sua chefe consegue resgatá-lo e ele volta ao trabalho. Porém, se transforma num homem insensível, arrogante e frio no trato com as mulheres.
Filmes com finais infelizes é o que mais existe para quem gosta de chorar, e seguem a mesma rotina de dor e sofrimento. Entre eles podemos destacar: E o vento levou (1939), Dr. Jivago (1965), Ghost – O outro lado da vida (1990), Edward mãos de tesoura (1990), Titanic (1997), Cidade dos Anjos (1998), O Gladiador (2000), A culpa é das estrelas (2014), entre outros filmes cujos finais são tristes e infelizes.
O amor na vida real também não é tão diferente daquilo que vemos através das histórias fictícias, sejam nos livros ou nos filmes. Um dos jornalistas com quem trabalhei, enlouqueceu depois que sua noiva acabou o romance às vésperas do casamento. Depois de ler tantas histórias de amor, assistir a tantos filmes e conhecer histórias reais com finais infelizes, não me restam dúvidas: O amor é realmente um tirano dos deuses e dos homens.
Eros é filho do deus Poros e da deusa Penúria. Do pai, ele herdou o poder da sedução, da astúcia, do envolvimento. Poros é um deus galanteador e Eros herdou seus dons. Da mãe herdou a incompletude, a carência e a incessante busca por alguma coisa. Por isso Eros carrega um fardo: Ora é um galante sedutor apaixonado, ora é carente, incompleto, procurando por algo que não sabe onde encontrar. A incompletude do amor.
Ele se utiliza de arco e flechas para atirar no coração das pessoas e fazê-las se apaixonarem. Foi de forma acidental, que Eros experimentou seu próprio poder. Certo dia, ele se preparava para flechar o coração de Psique, filha da deusa Afrodite, que dormia debaixo de uma árvore.
Encantado com sua beleza ele, acidentalmente, feriu-se com a flecha que deveria enfeitiçar a moça, mas não foi isto que aconteceu. O coração de Psique não bateu forte ao vislumbrar a beleza de Eros, fato que o deixou completamente atordoado. Afinal, suas flechas jamais erraram um alvo.
Para ela de nada valeram suas declarações amorosas, suas palavras sedutoras, enfim, nenhuma de suas qualidades tiveram significado para a jovem que prefere se transformar numa árvore, a entregar-se ao amor de Eros. A ele, só resta, portanto, lamentar sua desdita. Mesmo sendo um deus e conhecedor de todas as plantas curativas, passa a sofrer de uma enfermidade que todos os homens conhecem muito bem e que bálsamo algum pode curar: O amor. A dor de Eros prova, portanto, que o amor é um tirano dos deuses e dos homens. (09/09/2020)
O amor deveria ser um bálsamo, independente e livre. Amar a si mesmo para poder amar o outro. Se transforma em dor porque há dependência, apego (muitas vezes em exagero), sentimento de posse e domínio.