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O ALERTA: Contando nossa História (4)

I Congresso Eucarístico Paroquial realizado em 1936 em São José de Mipibu Há 87 anos, São José de Mipibu viveu um dos grandes momentos de fé e e religiosidade, com a realização do I Congresso Eucarístico Paroquial realizado no período  de 23 a 26 de outubro de 1936.

I Congresso Eucarístico Paroquial realizado em 1936 em São José de Mipibu

Há 87 anos, São José de Mipibu viveu um dos grandes momentos de fé e e religiosidade, com a realização do I Congresso Eucarístico Paroquial realizado no período  de 23 a 26 de outubro de 1936.

Eis o que escreveu o saudoso escritor e historiador, Pedro Freire, no Jornal O Alerta, em novembro mde 2006:

" Descreveremos sobre o I Congresso Eucarístico Paroquial, com fundamento em dados copilados do livro "História de São José de Mipibu", editado em 1960, de autoria do conterrâneo Gilberto Barbalho.

Já adolescente, presenciei e participei de alguns atos litúrgicos daquele apoteótico evento, segundo depoimento de alguns contemporâneos e conterrâneos que ainda vivem entre nós.

O evento constituiu-se num espetáculo de fé cristã que dificilmente se repetirá em nossa cidade. Graças ao dinamismo e abnegação do, então, padre Paulo Herôncio de Melo, vigário da paróquia local, desde 1º de novembro de 1933, contando, também, com a cooperação e ajuda financeira das autoridades municipais e dos paroquianos. Foi através do padre Herôncio que foi planejado e organizado detalhadamente tudo que se relacionasse aos preparativos para o êxito do congresso.

           Os trabalhos tiveram inicio com a reforma geral da Igreja Matriz, com a demolição de paredes para construção de arcadas nas laterais do altar-mor e do corpo da igreja; restauração do teto com substituição de todo o madeiramento e forro; construção de nichos para entronização de novas imagens; pintura geral do interior com aplicação de tinta dourada em todas as molduras dos altares e colunas; pintura geral na parte externa e outras obras de pequeno porte.

                    Também reorganizou as irmandades do Santíssimo Sacramento e de São José e incentivou a formação da Banda de Música local, que mais tarde se tornaria uma das mais bem aparelhada de toda a região Agreste do Estado. O jovem e dinâmico prefeito municipal, em exercício, Áureo Tavares de Araújo  e seus auxiliares direto tiveram participação ativa para o êxito da festa. O prefeito mandou executar obras de reurbanização nas praças do centro e nas ruas adjacentes. Colocou nas ruas faixas alusivas ao evento, dando boas vindas às autoridades, especialmente, convidadas e o povo em geral.

MATÉRIAS DO CONGRESSO PUBLICADAS NO JORNAL "A ORDEM"

Recortes do jornal "A Ordem". do acervo de Fran Moura

               Finalmente, chega o dia ansiosamente aguardado: 23 de outubro de 1936. Pouco a pouco foram chegando às autoridades e o povo das cidades e povoados vizinhos. Jamais se verificara tamanho aglomerado humano. A presença de tão altas personalidades civis, militares e eclesiásticas do Rio Grande do Norte, entre elas, o governador do Estado,  Dr. Rafael Fernandes Gurjão, o bispo Diocenano, Dom Marcolino Dantas, monsenhor João da Mata, presidente das Assembleia Legislativa, o escritor Luiz da Câmara Cascudo, além de inúmeros  sacerdotes oriundos da capital potiguar e de municípios próximos.

Às 18h instalava-se solenemente o I Congresso Eucarístico Paroquial, ouvindo-se vários oradores. Na manhã seguinte (sábado), às 6h, cerca de mil crianças e adolescentes recebiam a primeira comunhão durante a missa campal celebrada em frente à matriz. Das 10h às15h, ocorreu uma sessão de estudos para senhoras e para homens e, finalmente, às 20h30, a Santa Missa, com pregação.

No dia 25, dedicado a Cristo Rei, foi celebrada missa campal, às 5h30. Em seguida, às 8h em solene pontifical, assistia-se com entusiasmo e fé cristã a ordenação sacerdotal de Manoel Tavares (que chegou a ser bispo), irmão do prefeito Áureo Tavares de Araújo, cuja solenidade foi realizada no interior da Matriz. Às 16h, foi realizada a grande procissão eucarística com bênção campal. Às 22h exposição do Santíssimo Sacramento e finalmente, hora santa às 24h.

Padre Manoel Tavares

O programa do dia 26 não foi menos extenso: a 1h da madrugada, missa e comunhão geral dos homens; às 6h30 o mesmo ato litúrgico para as associações femininas; às 8h30 missa solene celebrada pelo recém-ordenado padre Manoel Tavares; às 18h, sessão solene de encerramento e bênção dada por aquele sacerdote.

Terminava assim um espetáculo de fé que durante três dias emocionou aquela gente humilde e cristã de São José de Mipibu e povoados. Nos seus ouvidos soariam por muito tempo os melodiosos acordes do hino do congresso, um dos mais belos que conhecemos, escrito pelo Cônego Amâncio Ramalho, inspirado nos expressivos versos do padre Paulo Herôncio, que aliava ao seu dinamismo as qualidades de excelente poeta.

Alguns fatos eu presenciei por ser um dos integrantes dos adolescentes residentes nesta cidade que comungava pela primeira vez durante aquelas solenidades e, por conseguinte, tomei parte da maioria dos atos litúrgicos realizados no interior da Matriz, como os desfiles e acompanhamentos de procissões.

  Como é sabido, naquela época, o único meio de transporte regular de passageiros era ferroviário, fazendo o percurso Natal/Nova Cruz/Natal, com parada obrigatória na extinta estação de São José Alto. Pelas estreitas estradas de acesso a São José, transitavam os seguintes veículos movidos a tração animal:  carro de boi,  carroça, cabriolé e charrete, sendo os dois últimos destinados a transporte exclusivo de senhores de engenho, fazendeiros e aristocratas e seus familiares, além de animais arreados com sela ou cilhão para transporte individual.

Trem da época do Congresso - Foto Ilustrativa

Por tudo quanto foi exposto pode-se concluir da grande dificuldade de locomoção da multidão de fiéis procedentes de distritos e povoados do interior do município, para se fazer presente aos atos solenes daquele apoteótico evento. Muitos caminharam em forma de comitiva e a pé, chegando a São José a noite ou pela madrugada. Todos entoavam hinos alusivos ao congresso. A comitiva citada na parte inicial e que compareceu para a abertura das festividades, viajou para esta cidade em vagões de trem especial (chamado também: carro de linha, auto-motriz ou litorina). As demais pessoas aqui chegavam em trens de passageiros, que na época transitavam diariamente - pela manhã e a noite – no sentido Natal/Nova Cruz e vice-versa.

Brasão do I Congresso Eucarístico Paroquial

Vale acrescentar, que em outubro de 1986, para comemorar o cinquentenário do I Congresso, o saudoso Monsenhor Antonio Barros e seus colaboradores, realizaram o II Congresso Eucarístico Paroquial, nesta cidade.

Não entrarei em detalhes pelo fato de que, naquela época residia no Sul do país. Entretanto, meus conterrâneos que assistiram ou mesmo participaram dos atos litúrgicos e demais solenidades me informaram que o evento revestiu-se de pleno êxito e foi bastante aplaudido por toda a comunidade católica mipibuense e grande número de fieis vindos da capital do Estado e de cidades do Agreste e povoados da vizinhança.

                                                                                                                                   Pedro Freire

FONTES DE PESQUISA:

  • História de São José de Mipibu – Editada em 1960 – Autor: Gilberto Barbalho.
  • Pesquisa junto a terceiros e participação do autor em todo evento.

Uma resposta para “O ALERTA: Contando nossa História (4)”

  1. José Olavo Ribeiro disse:

    PARABÉNS caro Dedé, por todos estes anos de existência do jornal, que já é de todos os mipibuenses!