Bruna Torres - Autora e jornalista

Novembro é o penúltimo mês do ciclo 2023 e a ocasião para muitos é um momento também de contemplação. Das coisas que já passaram, dos desafios enfrentados ao longo do ano e de muitas coisas que foram deixadas para trás. Aproveitei o tempo livre hoje (como se esse termo existisse de fato na minha vida adulta) e fiz faxina. Limpei o quarto, tirei a poeira de tudo e ouvi música, que também me ajudava com a organização dos cantos. Limpei os livros, os bibelôs.

E diante dessa organização, também, tirei um tempo para ir ao cemitério visitar o local do descanso eterno da minha avó Severina. Em meio a tantas coisas acontecendo, por dentro, por fora, financeiramente, tento buscar uma conexão com todas essas coisas e lembrar o quanto já avancei desde o começo do ano.

Foram tantas mudanças boas e até os acontecimentos ruins foram necessários para os aprendizados dessa jornada. Mas o que tem a ver a visita fúnebre? Estamos a quase um mês do ano acabar, mais um ano que se inicia traz novos medos, novos desafios e compromissos que não podemos mais adiar – eu tenho vários e em meio a tudo isso, ainda preciso fazer escolhas.

Nossa vida é tão cheia de altos e baixos que naquele instante eu parecia necessitar de um breve retorno ao passado, das velhas feridas que o luto sempre insiste em tirar uma casquinha. Afinal, novembro também traz o Dia de Finados, um momento em que as dores são revividas e as pessoas costumam visitar seus finados entes queridos.

Há algo tênue entre a vida e a morte. Observei no epitáfio da minha avó Severina, que trazia as palavras alusivas ao ato de morrer, mas permanecer vivo no coração daqueles que nos amam. Eu acho que aí está um grande mistério da vida, saudosas lembranças de alguém que não mais voltará. Lembrar das risadas que se transformaram em silêncio e dos momentos que, hoje, são apenas parte de quem somos.

Para o resto da vida iremos carregar pessoas importantes na nossa bagagem, seja em função da distância ocasionada pelo tempo, pela vida e seus caminhos que às vezes divergem ou pela morte.

Somente em uma dessas situações podemos aproveitar a vivacidade para retornar a quem amamos e dizer que sentimos falta, retomar alguns assuntos, pendências… Parece bobo dizer para que as pessoas demonstrem amar enquanto ainda podem, mas elas esquecem do poder da saudade que descansa na vida, daqueles que estão no nosso plano terreno, mas que não mais estão entrelaçados em nosso caminho ao destino.

Todos nós somos findáveis, mas o que construímos ao longo dos anos é o que torna eterna a nossa trajetória neste mundo e no coração daqueles que ainda não partiram.