NOSSO LAR-2, O FILME

fevereiro 18, 2024

NILO Emerenciano – Arquiteto e escritor Eu era só um garoto em 1971 quando a TV Tupi levou ao ar o programa Pinga Fogo com uma equipe formada por jornalistas e intelectuais entrevistando um médium espírita, o mineiro Chico Xavier.


NILO Emerenciano - Arquiteto e escritor


Eu era só um garoto em 1971 quando a TV Tupi levou ao ar o programa Pinga Fogo com uma equipe formada por jornalistas e intelectuais entrevistando um médium espírita, o mineiro Chico Xavier. Fiquei fascinado. Tão fascinado que assisti as mais de duas horas de programa sem um pingo de cansaço.

Um homem pequeno, simples, fala mansa e firme, discorreu sobre todos os assuntos abordados com serenidade e segurança, sempre atribuindo ao espírito Emmanuel o auxílio naquela tarefa.

Algumas vezes fez o público rir, com suas tiradas bem mineiras. Ao final, solicitado, pediu que colocassem uma música, colocou a mão sobre os olhos e pôs-se a escrever em fantástica velocidade um poema de Ciro Costa, poeta morto em 1937. Fiquei fã. Que homem! Que alma! Sem exagero nenhum, aquela entrevista mudou minha maneira de ver a vida.

Em 2008 uma produtora cearense lançou um filme sobre a vida do dr. Adolfo Bezerra de Menezes, um homem profundamente identificado com os primeiros tempos do Espiritismo no Brasil. Conhecido como o Médico dos Pobres, sua generosidade e desprendimento o fizeram amado e respeitado em todo Brasil. O filme chama-se Bezerra de Menezes – o Diário de um Espírito e tinha Carlos Vereza no papel principal.

O filme ficava a meio caminho entre o documentário e a cinebiografia, mas foi uma alavanca para que logo surgissem outras obras com temática espírita. Revelou-se que havia um público carente que correu aos cinemas em busca de ver nas telas o que já conheciam de livros e um pouco de novelas de TV.

Afinal, a novela da Globo A Viagem, (1994) de Ivani Ribeiro, na verdade um remake da novela de igual nome exibida pela TV Tupi em 1975/76, havia conquistado o interesse do público, conquistando altos índices de aprovação e de audiência.

Assim, nessa trilha, em 2010 surgiu o filme Chico Xavier, excelente, com um elenco global, Tony Ramos, Nelson Xavier, Cassia Kiss, Cristiane Torloni, além da direção de Daniel Filho. O filme é uma biografia daquele mineirinho do programa Pinga Fogo de que falei no começo deste texto,

Chico Xavier, autor de mais de 400 livros, apesar de sempre afirmar que os livros não eram dele, mas dos espíritos que escreviam através da sua mediunidade. Por esse motivo, nunca recebeu um real pelos direitos autorais. Chico foi um personagem amado por todos, espíritas ou não, e talvez por isto o filme
tenha sido visto por mais de quatro milhões de espectadores.

A esses se seguiram As mães de Chico, Xavier (2011), Nosso Lar (2010), O Filme dos Espíritos (2014), E a Vida Continua, Kardec: A História por Trás do Nome (2019), mais recentemente Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz. Nosso Lar foi uma produção acurada que obteve sucesso de bilheteria, alcançando mais de 4 milhões de espectadores.

O livro no qual o filme se baseia foi publicado em 1944. Trata do relato do espírito André Luíz, que em vida havia sido médico sanitarista, e agora, em outra dimensão da vida, descreve, como em um diário de viagem, suas impressões da vida além-túmulo. Até mesmo para os espíritas foi uma surpreendente revelação. André Luíz descreve, entre outras coisas, uma colônia espiritual situada em outro plano da existência, com ruas, casas, prédios, parques, e até uma estrutura administrativa.

Em Nosso Lar os méritos são os morais e as conquistas feitas através da prática do bem. Aos que riem, desdenhosos, faço um convite à reflexão: não seria essa realidade nova bem mais lógica e aceitável do que a ideia de passar a eternidade a cantar hosanas e aleluias ocupando uma nuvenzinha cor-de-rosa no
paraíso?

Não parou por aí. André Luíz continuou a nos enviar relatos e o segundo livro, publicado em 1944, trata do seu engajamento em uma equipe que se dirige a terra em tarefa de assistência e socorro. No trajeto, visita algumas instituições e ouve vários relatos no que constitui seu (e nosso) verdadeiro aprendizado. O livro é Os Mensageiros, que deu ensejo ao filme com o título Nosso Lar 2 – Os Mensageiros, ora em cartaz nos cinemas, obtendo extraordinário êxito de público, já tendo superado a marca de 1 milhão de espectadores.

Como explicar tal sucesso? Há, evidentemente, um interesse pelo tema, desde que abordado de forma séria e competente. E também, talvez, uma demanda reprimida por parte de espíritas e não espíritas, ansiosos por ver nas telas assuntos que transcendam nosso cotidiano. Afinal, no fundo fomos todos educados para crer na sobrevivência da alma. Paulo de Tarso desafiava, “oh, morte, onde está seu
agulhão”?

Oramos aos santos, todos mortos há algum tempo, o que implica em acreditarmos que continuam em algum lugar velando por todos nós. O que não sabíamos é como isso se dava, ou seja, a intervenção dos espíritos em nossas vidas. Citando mais uma vez Paulo de Tarso, “somos cercados por nuvens de testemunhas.

A doutrina Espírita, codificada pelo professor francês Alan Kardec, belamente representada na obra conjunta de Chico Xavier e André Luís, nos coloca isso tudo de forma racional e lógica, afastando de vez aquelas velhas ideias de penas eternas, purgatório e inferno e nos coloca frente a frente com as nossas responsabilidades, como autores dos nossos próprios destinos que somos.

Quem ainda não viu, garanto, é uma ótima opção. Compre pipoca, busque um bom lugar no cinema e mergulhe de vez nesse universo ampliado que o nosso querido Chico Xavier, com o amparo dos mensageiros do bem, veio nos descortinar. Você pode não admitir, mas garanto que não vai sair dessa experiência indiferente.

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