Cristóvão Cavalcante - Escritor da história de São José de Mipibu e, atualmente, radicado no Rio de Janeiro

São José de Mipibu na década de 60, era uma cidade muito tranquila e pacata. Porém, à noite, depois das 23h, nem todo mundo se atrevia a permanecer pelo centro da cidade e, muito menos, pelas ruas mais afastadas. Corria o risco de se deparar com algo misterioso. Para alguns, eram coisas mal assombradas, fantasmas. Daí as aparições de figuras do nosso folclore, como: o Jurupari, mula sem cabeça,  lobisomem...

Conta a lenda, que antes de 1740, os frades Capuchinhos, substituíram os Jesuítas. Comentavam que os frades Capuchinhos, eram possuidores de poderes sobrenaturais. Nesse ano, teve início a construção da Igreja Matriz de São José de Mipibu, por iniciativa dos Jesuítas. Eles se envolviam em todos os acontecimentos, inclusive, no traçado do centro da cidade. Tudo, que ia se fazer, teria o aval deles.

Os frades Capuchinhos eram atuantes na construção, não só da Matriz, como na urbanização. O projeto urbanístico traçado por eles contemplava o centro da cidade, com um traçado em forma de cruz, conforme podemos observar: a parte superior da linha vertical, fica localizada a Matriz; a parte inferior, a praça Monsenhor Paiva, o braço direito, fica a Escola Barão de Mipibu e o braço esquerdo, hoje, é a praça Desembargador Celso Sales.

FREI DAMIÃO

Ao escrever este texto me veio à memória as Missões praticadas por Frei Damião, frade capuchinho de origem italiana, que fixou residência no Nordeste, exatamente em Recife, no ano de 1931. A sua grande meta era atrair grandes multidões para pregar a palavra de Deus nos locais mais longínquos.

Os seus sermões, seguidos de aconselhamentos e confissões constituíam sua ação pastoral. Dessa forma, de maneira simples, modesta e acolhedora começou a angariar fiéis que o seguiam com o propósito único de estar perto de uma pessoa de Deus, que transmitia o verdadeiro sentido da religião. A cada dia crescia o número de seguidores que o acolhiam e que o acompanhavam. E foi assim que ele chegou a São José de Mipibu, sendo acolhido pelo então, padre Antonio Barros.

As lembranças que tenho dele é de uma pessoa de estatura baixa, olhinhos azuis, barba comprida, cabelo bem aparado e com a coroinha (usada antigamente pelos padres) no meio da cabeça. Voz baixa e com sotaque italiano. A batina marrom e um cordão branco amarrado em sua cintura. Na ocasião das pregações ele aproveitava para aconselhar, orientava para o matrimônio religioso e para a conversão.

Eram três dias de Missões, acorria gente da redondeza e de municípios vizinhos. E não faltam relatos de causos atribuídos ao Frei Damião. Eu mesmo presenciei um "milagre" atribuído a Frei Damião Este é um dos fatos presenciados por muitas pessoas, que são considerados extraordinários.

Numa dessas noites, uma grande multidão, participava da Santa Missão, muitos acompanhavam a pregação do lado de fora da Igreja Matriz. Enquanto Frei Damião fazia seu sermão. Rapidamente, o tempo mudou e caiu uma chuva torrencial na cidade. Nisso, Frei Damião, pediu para ninguém se afastar. Tirou da batina um lenço branco, e colocou-o sobre sua cabeça e erguendo um dos braços "ordenou" que a chuva cessasse e, que desaparecessem as "maldições", que perturbavam nas noites escuras. A chuva parou, para surpresa de todos.

O desaparecimento dessas figuras "fantasmas" se deu, quando Frei Damião expulsou os espíritos perturbadores da cidade. Alguns não acreditam que Frei Damião tenha acabado com as visões fantasmas, e sim, com a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso em São José de Mipibu, inaugurada no dia 17 de agosto de 1965. Logo, ao anoitecer, os mipibuenses saíram de suas casas vendo, extasiados, ruas e praças da cidade iluminadas, acabando com a escuridão que amedrontava os mipibuenses.

Frei Damião, antes de partir de viagem para suas Missões, abençoou a nossa cidade e a partir daí, começou o desenvolvimento urbano de São José de Mipibu.