Jornalismo com ética e coragem para mostrar a verdade.

maio 26, 2024

Lembranças de minha casa

Jeanne Araujo – Professora e Membro na empresa da Academia Cearamirinense de Letras e Artes – ACLA Passei devagarinho diante da casa.

Jeanne Araujo – Professora e Membro na empresa da Academia Cearamirinense de Letras e Artes – ACLA

Passei devagarinho diante da casa. Ela continua lá, com os janelões e a barra pintada de outra cor, mas era muito mais bonito o vermelho. O coqueiro que havia no beco ao lado, defronte à janela da sala, não existe mais. Era debaixo de sua sombra que a menina brincava de casinha com os irmãos e os amigos da vizinhança. Eu fui a menina dessa casa tão bonita.

Me vejo ali, lavando os batentes da casa, que se enchiam de lama depois da enxurrada das chuvas. Estou lá, pulando academia desenhada em riscos na areia molhada. Os pés sujos de vida. Me vejo correndo pela rua, pés descalços, cabelos soltos, a criançada se alimentando de música e de magia – cai, cai tanajura, que é tempo de gordura – e elas caíam, aos montes.

Estou lá, em cada pedacinho da rua, dos becos, pedras, árvores, que foram meus castelos, minhas cavernas, meus esconderijos. Conheço os riachos que se enchiam na época das chuvas e os barquinhos de papel que nos levavam a outros mundos, navegando felizes em suas frágeis dobraduras.

Tudo era tão mais simples, as brincadeiras, as amizades, a casa dos amigos eram extensões de nossas casas. Os vizinhos se transformavam em nossos tios, avós e padrinhos.

Passei devagarinho diante da casa. Percebi que o tempo não passou. E se passou, foi num universo paralelo, pois a menina que fui continua lá, na casa amarela de barra vermelha. A menina me acena do janelão e meus olhos se enchem de lágrimas. Um dia eu lhe prometi realizar-lhe os sonhos. Alguns eu realizei, outros, não consegui. Sei que ela compreende e sei que, sempre que as coisas ficarem difíceis demais, basta uma visita à casa amarela de barra vermelha. Ela estará lá, me esperando.

4 respostas para “Lembranças de minha casa”

  1. ELZA MARIA FREIRE disse:

    Belíssima crônica, Jeanne Araújo! Verdadeira lindeza ! Você a escreveu com sua alma de criança , que sempre estará bem guardadinha dentro de você. Está tão lindamente escrita, que a gente até passeia junto com você nesse universo de valor incomensurável. Todos , deveríamos tentar escrever uma crônica assim, sobre a casa onde crescemos, e onde um dia depositamos muitos dos nossos
    sonhos . Parabéns! Elza Freire.

  2. José Olavo Ribeiro disse:

    Que belo texto! Parabéns.
    Senti meus olhos umedecidos com essa narrativa, sentimental que sou. Recordações de infância me invadem.

  3. Jeanne Araújo disse:

    Muito obrigada, Elza, que bom que gostou. Essa casinha cheia de afetos, todos nós temos aqui dentro. É só abrir a portinha no coração e adentrá-la. Beijo grande!

  4. Jeanne Araújo disse:

    José Olavo, fico feliz que a crônica tenha emocionado. Procuro, qdo escrevo, chegar ao coração dos leitores. Sem isso, minha escrita não teria importância para mim. Um abraço!