LEMBRANÇAS DA MINHA TERRA

outubro 9, 2022

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa João Câmara, antiga Baixa-Verde, minha cidade de nascimento, é conhecida como a “Capital do Mato Grande”, graças ao seu destaque no crescimento comercial, o que ocorreu depois da falência nas culturas do algodão e do sisal.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

João Câmara, antiga Baixa-Verde, minha cidade de nascimento, é conhecida como a "Capital do Mato Grande", graças ao seu destaque no crescimento comercial, o que ocorreu depois da falência nas culturas do algodão e do sisal. Além do comércio próspero que atende à população local e de municípios localizados nas regiões Central e Litorânea, a cidade ainda se destaca na atualidade, pela concentração dos Parques Eólicos, que contribuem para tornar Baixa-Verde como um dos grandes produtores deste tipo de energia no País.

Parque Eólico em João Câmara - Foto :Blog de Assis

Fundada no ano de 1928, Baixa-Verde ganhou notoriedade devido à grande quantidade de abalos sísmicos verificados em um único dia, conforme registro nos equipamentos instalados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nas imediações do açude Pedra D`água.

O comércio é formado por uma grande concentração de lojas espalhadas pelas ruas, oferecendo os mais variados produtos para o cliente mais exigente. Este comércio, no meu tempo de criança, já era grande, mas não tão grande como nos dias atuais.

Guardo boas lembranças das cigarreiras onde eu comprava revistas em quadrinhos e as lanchonetes espalhadas pelo centro da cidade, onde eu e meus amigos lanchávamos na volta da escola. A parada obrigatória dos jovens, depois das aulas às sextas-feiras, era no Bar de Seu Toinho e no Bar de Miriam.

Eu, particularmente, guardo uma lembrança especial do Bar e Restaurante Leão do Norte, localizado num ponto estratégico no centro da cidade. O local vive na minha memória até hoje, porque no interior do estabelecimento havia um grande tapete na parede, ostentando um enorme leão bordado com um tipo de linha que lembrava ouro. Eu costumava parar diante do restaurante para apreciar o quadro, a cada vez que ia ou voltava da Escola Estadual Capitão José da Penha, estabelecida na antiga Rua do Motor.

Meu pai, Agostinho Florêncio da Silva, muito conhecido na cidade como Agostinho da Prefeitura, contava, que o dono do restaurante era um grande apreciador dos jogos de cartas. Então, decidiu destinar um espaço no local, onde reunia alguns amigos para jogar Buraco, Pife-pafe, Sueca e até Pôquer, entre outros jogos.

Agostinho Florêncio da Silva- Acervo de Nadja Lira

Os amigos costumavam se reunir para a brincadeira e aproveitavam para tomar algumas doses de uísque e jogar conversa fora. Ocorre que, um cidadão da cidade acompanhava todo o desenrolar do jogo, observando as cartas e dando palpites sobre quem tinha ou não tinha boas cartas. Era o chamado "olheiro" – figura detestada pelos jogadores de cartas.

Foto Ilustrativa

Certa noite, conforme relato do meu pai, os jogadores decidiram dar um susto no olheiro. Aproveitaram o momento em que ele adormeceu e fizeram um trato: Apagaram as luzes do ambiente e esperaram pacientemente que o olheiro acordasse. E quando o homem finalmente abriu os olhos e viu tudo escuro, ficou espantado porque os jogadores fingiam que tudo estava normal.

O jogo continuava da forma habitual. O olheiro ouvia o barulho das cartas e das fichas sendo jogadas sobre a mesa, o tilintar dos copos de bebida, tudo seguido pela voz dos companheiros que falavam o linguajar natural de um jogo de cartas: - Este meu jogo está muito ruim; – Esta eu vou ganhar – e outras frases do gênero.

Foto Ilustrativa

O olheiro completamente desperto, olhava atônito para a escuridão que tomava conta do ambiente e não conseguia entender a razão pela qual todos os amigos conversavam como se tudo estivesse normal. Apenas ele não conseguia enxergar o que havia ao seu redor. Então, com o desespero tomando conta dele, gritou a plenos pulmões:

-“Meu Deus, me ajude! Amigos, por favor me digam o que aconteceu. Eu fiquei cego! ”

Todos explodiram numa sonora gargalhada, enquanto o dono do estabelecimento acendia a luz. Só então o olheiro percebeu se tratar de uma brincadeira na qual todos decidiram tirar sarro com a cara dele. A brincadeira também contribuiu para ele perceber que olheiros, em jogos de cartas, não são bem vistos.

Uma resposta para “LEMBRANÇAS DA MINHA TERRA”

  1. Robson Rafael de Freitas disse:

    Ótima crônica, traz boas recordações da nossa cidade João Câmara.