Rosemilton Silva – Jornalista e escritor. Natural de Santa Cruz/RN
Um dia agitado, todo mundo correndo pra um lado e pro outro com seus preparativos de última para a noite de hoje. No pátio da igreja, a barraca está sendo terminada com algumas estacas e palha de coqueiro, não sei se pra enfeite ou pra fazer mesmo a divisão de quem fica fora ou dentro, mas cada um vendo o Natal do Menino Jesus da forma que todos vêem.
Na casa paroquial um entra e sai de moças terminando a prova dos seus trajes para dançar o pastoril ao som de belos cânticos enquanto lá pras bandas do outro lado do rio, os brincantes do boi de reis ajeitam fitas coloridas que vão descer a partir dos ombros e espelhos que vão brilhar nos chapéus enquanto a rabeca está sendo afinada para acompanhar as cantorias do festejo.
No mercado, o cheiro do café se mistura ao do bolo pé de moleque e de macaxeira enquanto na porta do mercado a xixibirra faz a festa com um pedaço de bolo ou um caldo de cana com um pão doce, daqueles que o “espinhaço” brilha mais que a Estrela Dalva. E o cheiro do algodão doce sendo feito na hora ao lado o mexido do milho alho se transformando na pipoca misturada a manteiga da terra. Mais o xodó mesmo era aquela cestinha enfeitada com papel crepom e algumas castanhas de caju dentro. Dá água na boca e uma saudade da gota serena!
A beleza da alegria é refletida no rosto de cada criança mesmo que alguns pais demonstrem preocupação por não poder dar aos filhos o que eles pediram. Mas amanhã todos ou quase todos terão em suas casas alguma lembrança mesmo que seja um carrinho fabricado a partir de uma lata de leite cheia de areia, com um arame passando por dentro e um cordão para puxá-lo pelas ruas empoeiradas da cidade.
E a noite vai chegando. A vida vai tomando outra forma e vai ficando cada vez mais alegre. Enquanto isso a movimentação aumenta. Correria das meninas do pastoril, bares acendem suas luzes, lapinhas vai sendo realçadas com a chegada do Menino Jesus, pacotes escondidos nas árvores de Natal cheia de bolas, fios de algodão enrolados simulando a neve e luzes piscando, aguardam todos dormirem para descerem de cima dos camiseiros, guarda-roupa, camarinhas... E a impaciência vai aumentando pela chegada da hora de dormir. E o cuidado é cada vez maior de modo a que o xixi não estrague o presente.
Ah, meu irmão e irmã, nesse tempo presente sempre nos deixa apreensivo. Ninguém vem nos ver presencialmente e tudo vem através de uma tela fria que se enche de brilho, de luzes, de braços, de corpos, de alma, de palavras... Ah, que saudade da gota de entrar na barraca, ouvir o leiloeiro oferecendo uma galinha torrada de pernas pro ar numa bandeja e embrulhada por papel luminoso vermelho e transparente. Esperar as meninas entrarem no palco cantando “Boa noite meus senhores todos / Boa noite senhoras também / Somos pastoras, pastorinhas belas/ Que alegremente vamos a Belém...” E logo mais na frente “Borboleta pequenina, saia fora do rosal / Venha ver cantar o hino / Viva a Noite do Natal...! Viva a noite do Natal!!!
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Nos meus tempos de criança o dia de natal significava para mim está em profunda e absoluta comunhão com a felicidade.
Que saudade desse tempo!