Jornalismo com ética e coragem para mostrar a verdade.

março 17, 2024

JORNAL O ALERTA 44 ANOS: Sempre Alerta

Texto escrito por Francicláudio Oliveira – Jornalista mipibuense que atua na imprensa da capital.

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é z-7-745x1024.jpg

Texto escrito por Francicláudio Oliveira - Jornalista mipibuense que atua na imprensa da capital. Esta matéria foi publicada no Novo Jornal (agora atualizada). Vamos a sua leitura:

Cláudio Oliveira - Jornalista - Tribuna do Norte

Depois de dois anos atuando como colaborador do jornal O Alerta, periódico mensal que  circula no município de São José de Mipibu, pude conhecer, enfim a redação do jornal. E o que encontrei? Na verdade não é bem uma redação como me acostumei a ver nos jornais da capital, não há vários repórteres lutando contra o tempo para apurar informações relevantes, mas tem a mesma emoção que o repórter sente momentos antes do fechamento da edição do dia seguinte. Tensão, adrenalina e, claro, estresse não faltam.

A redação d’O Alerta é improvisada. Tem apenas uma mesa e um computador com impressora. O espaço é pequeno e chega a ficar apertado com quatro pessoas. Um ventilador serve para refrescar o calor. A sala é ocupada ainda por uma estante e uma mesa, onde José Alves, o Dedé d’O Alerta, que conduz o periódico, guarda catalogadas todas as 526 edições do seu jornal, comendas que recebeu ao longo do tempo pelo trabalho jornalístico, fotografias e outros jornais.

A pequena redação não representa nem de longe, tudo o que o jornal tem para contar em 44 anos de circulação. A redação “ferve” na última semana de cada mês, período em que a edição está sendo concluída para ser publicada no sábado que é dia de feira livre em São José de Mipibu, ocasião adequada para O Alerta chegar aos leitores.

Mas antes de ganhar as ruas, haja fôlego para escrever todas as páginas em tamanho standard, confirmar informações e levar aos leitores notícias atualizadas. Esta foi a semana em que a edição estava sendo concluída e presenciamos a euforia que se repete há mais de quatro décadas.

Um fato curioso é que tudo é feito há mais de 30 km de onde os leitores do jornal residem. José Alves mora há 22 anos no conjunto Cidade Satélite, e é por isso que usa as novas mídias como principal fonte. Os blogs da cidade, por exemplo, servem para pautar suas matérias. Muitas fotografias também são oriundas da internet. Ele faz o rascunho, que chama de “boneca”, detalhando como pretende que seja a diagramação. Depois escreve os textos, a maioria deles resultantes de entrevistas por telefone ou por e-mail. Tudo é enviado para o diagramador que quando termina a sua parte na produção José Alves faz os ajustes finais e envie para a gráfica.

Às vezes novos fatos causam tensão na conclusão do periódico. Ele conta um fato ocorrido anos atrás: a manchete da primeira página estava pendente. A prefeita da cidade tinha anunciado que renunciaria o cargo para concorrer a uma vaga de vereadora. A assessoria de comunicação da prefeitura solicitou que nada fosse divulgado porque ( sem dar explicações) a renúncia poderia não acontecer na data prevista. Ninguém ligado à prefeita falava sobre  o assunto. Era um pacto de silêncio.

Para qualquer repórter, isso imediatamente levantaria suspeitas e foi o que aconteceu. Mas era preciso publicar o assunto e já que não havia certeza, tempo e nem explicações sobre a renúncia, a manchete foi modificada de última hora levantando a questão da possibilidade de não haver renúncia.

Porém, antes que o jornal fosse enviado para a gráfica, uma ligação confirmou a renúncia e outra vez a notícia foi modificada. As ligações são sempre uma constante na hora de fechar o jornal.

CIRCULAÇÃO
O Alerta circula em São José de Mipibu, mas chega a outra cidades próximas. Como a publicação acontece no dia de feira livre (aos sábados), o jornalista aproveita para estar em contato com os moradores e leitores da cidade apurando algumas informações e, dependendo da disponibilidade não dispensa uma entrevista presencial.

O Alerta é o único impresso da cidade ,e possivelmente o segundo mais antigo da região Metropolitana. Tem um tiragem de 1000 cópias, que são entregues em mãos a cerca de 800 leitores cadastrados e o que é vendido nas cigarreiras.

DESEJO DE MUDAR A REALIDADE

A história d’O Alerta está baseada no sentimento de mudar a realidade, sobretudo durante o regime militar. O próprio nome já destaca isso. Foi durante o regime militar em 20 de março de 1980 que a primeira edição circulou pelas ruas de São José de Mipibu com o propósito de apontar os problemas e sugerir soluções, mesma linha que segue até hoje.

Quatro amigos: José Alves, Paulo Palhano, Gilson Matias e Maria Neli queriam mudar a realidade por meio da comunicação. A iniciativa chegou a levar Dedé à Polícia Federal, devido a um texto-crítica feito por Luiz Amaral (in memoriam), militante do MDB (partido de oposição ao governo), em nível estadual e local. Luiz era colaborador  do jornal, escrevia artigos. Foi um processo de censura prévia, mas não causou-lhe grandes problemas.

Com o passar dos anos apenas José Alves continuou com o projeto por conta própria. Dentre as diversas matérias que foram destaque ao longo desse tempo, uma é lembrada com emoção pelo jornalista. “Em 1981 o açude de Santa Cruz transbordou e eu registrei a chegada das águas em São José de Mipibu, inundando o Rio Araraí e rompendo a ponte sobre a BR”, relembra.

O Alerta passou por diversas fases. Até agosto de 1989 a circulação era quinzenal, datilografado em máquina Olivetti comum em estencil, para depois ser “rodado” em mimeógrafo a tinta. Posteriormente, passou a ser impresso em um mimeógrafo mais moderno que imprimia o papel com fotografia. Um avanço para a época. Depois o número de páginas foi ampliado e, já em tamanho 32 cm x 46 cm, os textos passaram a ser digitados em um micro computador, conhecido por “composer” que as direcionava a uma impressora, utilizando esferas. O jornal obteve uma boa aceitação e contou com colaboração de anunciantes públicos e privados.

Em 2002 o jornal foi impresso pela primeira vez em policromia, atraindo a atenção dos leitores para as fotos coloridas. Nesse período, além da digitação em computador, já eram utilizadas fotografias virtuais. Um sonho tornou-se realidade: José Alves abriu uma empresa jornalística - ALERTA COMUNICAÇÕES. Para este ano a ideia é aumentar a tiragem. “Toda vez que o ALERTA completa mais um ano de existência, é motivo de uma grande alegria, principalmente, quando transformamos  em notícias os fatos que fazem o dia a dia de nossa comunidade”, declara.

O jornal se mantém com os anúncios, mas não há muito lucro. Manter um impresso numa cidade com ares de interior e em meio às novas mídias é, segundo José Alves, mais difícil do que aparenta, porém ele diz que o esforço é compensado. “O impresso não vai acabar. Sempre existirão os que querem ter o papel em mão, guardá-lo”, supõe. Para ele, a recompensa vem de outra forma. “Minha maior satisfação é passar por alguém que está lendo meu jornal ou perceber que consegui ajudar a cidade com algo que publiquei”, relata.

FORMATURA 32 ANOS DEPOIS
Apesar de atuar como repórter desde 1980, foi somente em 2009 que José Alves formou-se em jornalismo. Para muitos, não haveria a necessidade, devido à sua experiência e à desobrigatoriedade do diploma para exercer a profissão. Porém, o editor d’O Alerta tem uma visão diferente. “Fiz para me reciclar, para aprender e fazer melhor. Na faculdade acabei me tornando também uma espécie de professor para meus colegas mais jovens”, sorri.

Ele conta que não foi fácil acompanhar a nova geração de comunicadores. Muitas vezes era complicado fechar a edição d’O Alerta, em meio aos trabalhos da faculdade e às suas obrigações no INSS.
O trabalho de conclusão de curso não poderia ser outro: Meu TCC - Trabalho de Conclusão de Curso, teve como tema, “Os 31 anos do jornal O Alerta”, onde conta sobre suas experiências, o papel do jornal ao longo dos anos e como essa prática era justificada na teoria dos grandes estudiosos da comunicação.

Alerta fonte de pesquisa sobre a história de São José de Mipibu

Hoje aos 68 anos, se orgulha em dizer que é jornalista por amor, vocação e formação, dividindo-se entre as tarefas do seu trabalho, a família e O Alerta. “Por mais atividades que tenha, jamais deixei de apurar, buscar novas informações que assegurem uma nova edição. É uma espécie de compromisso que eu tenho com a cidade que eu aprendi a amar e isso é uma coisa que eu pretendo dar prosseguimento enquanto puder”, finaliza.

3 respostas para “JORNAL O ALERTA 44 ANOS: Sempre Alerta”

  1. Didi Avelino disse:

    Valoroso, íntegro, dedicado, e, convicto idealista: assim é JOSÉ ALVES, o nosso Dedé do Alerta.
    Parabéns ao Franciclaudio Oliveira por tão bela e justa homenagem ao Alerta e o seu editor. Uma história que, há quatro décadas, estampa o amor por uma cidade – São José de Mipibu / RN.

  2. Solrac Seraos disse:

    Parabéns nobre escriba.

  3. Luzinete Viégas Nôga disse:

    Nosso querido Jornalista José Alves é um exemplo de perseverança, permeado com estilo e imparcialidade os acontecimentos cotidianos e resgatando com maestria o que lhe convém publicar.
    Quero agradecer a escolha do meu texto para voltar ao seu excelente jornal.
    Fiquei super feliz pq havia o perdido dos meus arquivos. Agora
    so gratidão.
    Sucesso e grandes vitórias Dedé do ALERTA!