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março 21, 2021

JORNAL O ALERTA 41 ANOS: Sempre Alerta

Texto escrito por Francicláudio Oliveira – Jornalista mipibuense e que atua em diversos jornais da capital.

Jornal O Alerta: 511 edições, contando a história de São José de Mipibu

Texto escrito por Francicláudio Oliveira - Jornalista mipibuense e que atua em diversos jornais da capital. Esta matéria foi publicada no Novo Jornal, de 6 de abril de 2012. Vamos a sua leitura:

Depois de dois anos atuando como colaborador do jornal O Alerta, periódico mensal que  circulou com a edição comemorativa aos 32 anos de publicação no município de São José de Mipibu, pude conhecer, enfim a redação do jornal. E o que encontrei? Na verdade não é bem uma redação como me acostumei a ver nos jornais da capital, não há vários repórteres lutando contra o tempo para apurar informações relevantes, mas tem a mesma emoção que o repórter sente momentos antes do fechamento da edição do dia seguinte. Tensão, adrenalina e, claro, estresse não faltam.


A redação d’O Alerta é improvisada. Tem apenas uma mesa e um computador com impressora. O espaço é pequeno e chega a ficar apertado com quatro pessoas. Um ventilador serve para refrescar o calor. A sala é ocupada ainda por uma estante e uma mesa, onde José Alves, o Dedé d’O Alerta, que conduz o periódico, guarda catalogadas todas as 414 edições do seu jornal, comendas que recebeu ao longo do tempo pelo trabalho jornalístico, fotografias e outros jornais.


A pequena redação não representa nem de longe, tudo o que o jornal tem para contar em 32 anos de circulação. A redação “ferve” na última semana de cada mês, período em que a edição está sendo concluída para ser publicada no sábado que é dia de feira livre em São José de Mipibu, ocasião adequada para O Alerta chegar aos leitores.


Mas antes de ganhar as ruas, haja fôlego para escrever 16 páginas em tamanho standard (o mesmo do NOVO JORNAL), confirmar informações e levar aos leitores notícias atualizadas. Esta foi a semana em que a edição estava sendo concluída e o NOVO JORNAL presenciou a euforia que se repete há mais de três décadas.


Um fato curioso é que tudo é feito há mais de 30 km de onde os leitores do jornal residem. José Alves mora há 12 anos no conjunto Cidade Satélite, zona Oeste de Natal e é por isso que usa as novas mídias como principal fonte. Os blogs da cidade, por exemplo, servem para pautar suas matérias. Muitas fotografias também são oriundas da internet. Ele faz o rascunho, que chama de “boneca”, detalhando como pretende que seja a diagramação. Depois escreve os textos, a maioria deles resultantes de entrevistas por telefone ou por e-mail. Tudo é enviado para a diagramadora Iris Araújo. Ela trabalha no projeto gráfico do jornal há mais de 20 anos e quando termina a sua parte na produção se dirige à redação (aquele quartinho) para que José Alves faça os ajustes finais e envie para a gráfica. Até a quarta-feira tudo deve estar pronto.

Edição nº 1, circulou em 20 de março de 1980


Às vezes novos fatos causam tensão na conclusão do periódico. Nesta semana, por exemplo, uma informação, por sinal a manchete da Capa, estava pendente. A prefeita da cidade tinha anunciado que renunciará nesta segunda-feira (2) para concorrer a uma vaga de vereadora, mas a assessoria de comunicação da prefeitura solicitou que nada fosse divulgado porque, sem dar explicações, a renúncia poderia não acontecer na data prevista. Ninguém ligado à prefeita falava sobre  o assunto. Era um pacto de silêncio.


Para qualquer repórter, isso imediatamente levantaria suspeitas e foi o que aconteceu. Mas era preciso publicar o assunto e já que não havia certeza, tempo e nem explicações sobre a renúncia, a manchete foi modificada de última hora levantando a questão da possibilidade de não haver renúncia.


Porém, antes que o jornal fosse enviado para a gráfica, uma ligação confirmou a renúncia e outra vez a notícia foi modificada. As ligações são sempre uma constante na hora de fechar o jornal, de acordo com a diagramadora, uma vez foi preciso esconder o telefone celular dele no lixo para que se conseguisse concluir a edição.

CIRCULAÇÃO
O Alerta circula em São José de Mipibu, mas chega a outra cidades próximas. Como a publicação acontece no dia de feira livre, o jornalista aproveita para estar em contato com os moradores e leitores da cidade. Em eventos apura algumas informações e, dependendo disponibilidade não dispensa uma entrevista presencial.


Basicamente a equipe do jornal se resume à José Alves, à diagramadora e a uma colaboradora que realiza a entrega aos leitores, mas conta ainda com outros que têm espaços fixos para escreverem todos os meses. São colunistas de esportes, cidade e direito jurídico que enviam seus textos por e-mail.


O Alerta é o único impresso da cidade e possivelmente o terceiro mais antigo da região metropolina. Tem um tiragem de 1000 cópias, que são entregues em mãos a cerca de 800 leitores cadastrados. Outras 100 são  utilizadas por uma empresa de transportes para leitura de bordo dos seus passegeiros e o que sobra é vendido nas bancas.

DESEJO DE MUDAR A REALIDADE

A história d’O Alerta está baseada no sentimento de mudar a realidade, sobretudo durante o regime militar. O próprio nome já destaca isso. Foi durante o regime militar em 20 de março de 1980 que a primeira edição circulou pelas ruas de São José de Mipibu com o propósito de apontar os problemas e sugerir soluções, mesma linha que segue até hoje.


Cinco amigos: José Alves, Paulo Palhano, Gilson Matias e Maria Neli queriam mudar a realidade por meio da comunicação. A iniciativa chegou a levar Dedé à Polícia Federal, devido a um texto-crítica feito por Luiz Amaral, militante do MDB (partido de oposição ao governo), em nível estadual e local. Luiz era colaborador  do jornal,escrevia artigos.Foi um processo de censura prévia, mas não causou-lhe grandes problemas.
Com o passar dos anos apenas José Alves continuou com o projeto por conta própria. Dentre as diversas matérias que foram destaque ao longo desse tempo, uma é lembrada com emoção pelo jornalista. “Em 1981 o açude de Santa Cruz transbordou e eu registrei a chegada das águas em São José de Mipibu, inundando o Rio Araraí e rompendo a ponte sobre a BR”, relembra.


O Alerta passou por diversas fases. Até agosto de 1989 a circulação era quinzenal, datilografado em máquina Olivetti comum em stencil, para depois ser “rodado” em mimeógrafo a tinta. Posteriormente, passou a ser impresso em um mimeógrafo mais moderno que imprimia o papel com fotografia. Um avanço para a época. Depois o número de páginas foi ampliado e, já em tamanho 32 cm x 46 cm, os textos passaram a ser digitados em um micro computador, conhecido por “composer” que as direcionava a uma impressora, utilizando esferas. O jornal obteve uma boa aceitação e contou com colaboração de anunciantes públicos e privados.


Em 2002 o jornal foi impresso pela primeira vez em policromia, atraindo a atenção dos leitores para as fotos coloridas. Nesse período, além da digitação em computador, já eram utilizadas fotografias virtuais. Os planos de José Alves é abrir nos próximos anos uma empresa jornalística, com jornais semelhantes a’O ALERTA em outros municípios do interior. Para este ano a ideia é aumentar a tiragem. “Toda vez que o ALERTA completa mais um ano de existência, é motivo de uma grande alegria, principalmente, quando transformamos  em notícias os fatos que fazem o dia a dia de nossa comunidade”, declara o editor.


O jornal se mantém com os anúncios, mas não há muito lucro. No mês passado, por exemplo, sobrou pouco mais de R$ 140. Manter um impresso numa cidade com ares de interior e em meio às novas mídias é, segundo José Alves, mais difícil do que aparenta, porém ele diz que o esforço é compensado. “O impresso não vai acabar. Sempre existirão os que querem ter o papel em mão, guardá-lo”, supõe. Para ele, a recompensa vem de outra forma. “Minha maior satisfação é passar por alguém que está lendo meu jornal ou perceber que consegui ajudar a cidade com algo que publiquei”, relata.

FORMATURA 32 ANOS DEPOIS

Apesar de atuar como repórter desde 1980, foi somente neste ano que José Alves formou-se em jornalismo. Para muitos, não haveria a necessidade, devido à sua experiência e à desobrigatoriedade do diploma para exercer a profissão. Porém, o editor d’O Alerta tem uma visão diferente. “Fiz para me reciclar, para aprender e fazer melhor. Na faculdade acabei me tornando também uma espécie de professor para meus colegas mais jovens”, conta.


A formatura ocorreu há cerca de um mês em uma universidade privada da capital. Como é funcionário público federal, lotado na assessoria de comunicação do INSS/RN, o órgão ofereceu oportunidades de bolsas parciais de estudo aos seus servidores e este foi o incentivo para que no auge dos seus 54 anos reiniciasse o curso que tinha abandonado anos atrás na UFRN.


Ele conta que não foi fácil acompanhar a nova geração de comunicadores. Muitas vezes era complicado fechar a edição d’O Alerta, em meio aos trabalhos da faculdade e às suas obrigações no INSS.
O trabalho de conclusão de curso não poderia ser outro: “Os 31 anos do jornal O Alerta”, onde contou sobre suas experiências, o papel do jornal ao longo dos anos e como essa prática era justificada na teoria dos grandes estudiosos da comunicação.


Hoje aos 57 anos, se orgulha em dizer que é jornalista por amor, vocação e formação, dividindo-se entre as tarefas do seu trabalho, a família e O Alerta. “Por mais atividades que tenha, jamais deixei de apurar, buscar novas informações que assegurassem uma nova edição. É uma espécie de compromisso que eu tenho com a cidade que eu aprendi a amar e isso é uma coisa que eu pretendo dar prosseguimento enquanto puder”, finaliza.

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