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janeiro 28, 2024

INQUIETUDES

Valério Mesquita – Escritor – mesquita.

Valério Mesquita - Foto Blog do Barbosa

Valério Mesquita - Escritor - mesquita.valerio@gmail.com

Dias sem esperança. Quedo-me em silêncio com as minhas dores e odores de mentol e cânfora. Dentro, minha alma grita de inconformações. A terceira idade me oprime e me desgasta mais depressa. Seria mesmo a juventude o “único bem digno de inveja?”. Quantos desejos não sufoco nessa vida de perplexidades e fantasias insaciadas? Percebo o quanto é frágil o ser humano. Vulnerável, mas egoísta.

Salve-se a mulher que, apesar das fraquezas, ainda é a água potável de sempre. O que me domina mesmo é o medo de saber para onde tudo se encaminha. Não há certezas. Só dúvidas e dívidas. Por isso é que me volto, invariavelmente, ao passado, ao ritmo da busca, aos lances exatos sobre os quais falou, certa vez, o saudoso poeta Sanderson Negreiros. O universo que construí nos idos passados não foi destruído. Permanece em mim, intacto, imune às poluições da modernidade.

Não me julguem severamente. Para viver naturalmente preciso me lembrar que não somente existo, mas que existi e já fui feliz. Não sou nostálgico ou antiquado. Por acaso, estudar a história do Brasil ou a Geral é saudosismo? Reler a Bíblia ou os clássicos literários seria pieguismo? Cada um de nós tem uma história de vida com as suas lições imorredouras. Ignorar tais coisas é ser talibã.

Praça da Maré - espaço para encontros de meninas e meninos; construída em 1950 na gestão de Luiz Cúrcio Marinho – Acervo: Folha de Macaíba

Como me alegrava caminhar pelas ruas de Macaíba ao lado do meu pai! Era simples, humano, disponível. Dividia com os moradores da sua Fazenda “Uberaba” o fruto e o usufruto. Aos domingos, promovia no alpendre grande da sua casa o forró “pé de serra” e se divertia vendo os trabalhadores dançar. Era “devoto” das músicas de Luiz Gonzaga. E como era gostoso ouvir à tardinha o berreiro de Gonzagão: “Vai boiadeiro que à noite já vem. Leva o teu gado e vai prá junto do teu bem...”.

Mas, há tantas coisas que eu recordo e não cabem todas nessa procissão de relembranças. Não sei, porém, eu me sentia mais seguro. Talvez, isso esteja explicado dentro do fator tempo, a presença familiar e nenhuma agressão ainda ao meio ambiente. O viver é muito complicado. E fica mais emblemático quando se procura entender o significado do antes, durante e depois. Por favor, passe-me o Vick Vaporub e o Bálsamo Bengüê.

(*) Crônica publicada no livro “Inquietudes” - 2004

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