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dezembro 3, 2023

I Congresso Eucarístico Paroquial realizado em 1936 em São José de Mipibu

Em comemoração ao 87º aniversário do I Congresso Eucarístico Paroquial realizada em São José de Mipibu, no período de 23 a 26 de outubro de 1936, publicamos esse texto do saudoso historiador e pesquisador Pedro Freire (in memoria), no jornal O Alerta nº 351 – novembro de 2006.

Em comemoração ao 87º aniversário do I Congresso Eucarístico Paroquial realizada em São José de Mipibu, no período de 23 a 26 de outubro de 1936, publicamos esse texto do saudoso historiador e pesquisador Pedro Freire (in memoria), no jornal O Alerta nº 351 - novembro de 2006.

Segundo  Pedro Freire, “escreveremos sobre o I Congresso Eucarístico, com fundamento em dados copilados do livro “História de São José de Mipibu”, editado em 1960 e de autoria do conterrâneo mipibuense, Gilberto Barbalho, e mesmo porque já adolescente, presenciei e participei de alguns atos litúrgicos daquele apoteótico evento, que segundo a história e depoimento de alguns conterrâneos que ainda vivem entre nós”.

 O evento constituiu-se num espetáculo de fé cristã que dificilmente se repetirá em nossa cidade, graças ao dinamismo e abnegação do então padre Paulo Herôncio de Melo, vigário da paróquia local.

Em 1º de novembro de 1933, contando ainda, com a cooperação e ajuda financeira das autoridades municipal e de seus paroquianos, o padre Herôncio planejou e organizou detalhadamente tudo que se relacionasse aos preparativos para o êxito do congresso.

Os trabalhos tiveram início pela reforma geral da Igreja Matriz, com os trabalhos de demolição de paredes para construção de arcadas nas laterais do altar-mor e do corpo da igreja; restauração do teto com substituição de todo o madeiramento e forro; construção de nichos para entronização de novas imagens; pintura geral do interior com aplicação de tinta dourada em todas as molduras dos altares e colunas; pintura geral na parte externa e outras obras de pequeno porte.

            Também reorganizou as Irmandades do Santíssimo Sacramento e de São José e incentivou a formação da banda de música local, que mais tarde se tornaria uma das mais bem aparelhada de toda a região Agreste do Estado.

         O jovem e dinâmico prefeito municipal, em exercício, Áureo Tavares de Araújo e seus auxiliares direto tiveram participação ativa para o êxito da festa. Além de mandar executar obras de reurbanização nas praças do centro e nas ruas adjacentes, mandou colocar naqueles logradouros, faixas alusivas ao evento dando boas vindas às autoridades, especialmente, convidadas e ao povo em geral.

           Finalmente, chega o dia ansiosamente aguardado: 23 de outubro de 1936. Pouco a pouco foram chegando às autoridades e o povo das cidades e povoados vizinhos. Jamais se verificara tamanho aglomerado humano com a presença de tão altas personalidades civis, militares e eclesiásticas do Rio Grande do Norte, entre elas: o governador do Estado, Dr. Rafael Fernandes Gurjão, o bispo Diocesano, Dom Marcolino Dantas, monsenhor João da Mata, presidente da Assembleia Legislativa, o escritor Luiz da Câmara Cascudo, além de inúmeros  sacerdotes  vindos da capital potiguar e de municípios próximos.

Às 18h instalava-se solenemente o I Congresso Eucarístico Paroquial, ouvindo-se vários oradores. Na manhã seguinte, um sábado (22 de outubro) às 6h, cerca de mil crianças e adolescentes receberam a Primeira Eucaristia, durante a missa campal, celebrada em frente à matriz.

Das 10h às 15h, sessão de estudos para senhoras e para homens e, finalmente, às 20h30 Santa Missa com pregação

No dia 25, dedicado a Cristo Rei, foi celebrada missa campal as 5h30. Às 8h, em solene pontifical, assistia-se com entusiasmo e fé cristã a ordenação sacerdotal do diácono Manoel Tavares, irmão do prefeito Áureo Araújo, cuja solenidade foi realizada no interior da Matriz. Às 16h grande procissão eucarística com bênção campal. Às 22h exposição do Santíssimo Sacramento e finalmente, hora santa às 24h com pregação.

O programa do dia 26 não foi menos intenso: a 1h da madrugada, missa e comunhão geral dos homens; às 6h30 o mesmo ato litúrgico para as associações femininas; às 8h30 missa solene celebrada pelo recém ordenado padre Manoel Tavares; às 18h, sessão solene de encerramento e benção dada por aquele sacerdote.

Terminava assim um espetáculo de fé que durante três dias emocionou aquela gente humilde e cristã de São José. Nos seus ouvidos soariam por muito tempo os melodiosos acordes do hino do congresso, um dos mais belos que conhecemos. Foi escrito pelo cônego Amâncio Ramalho, inspirado nos expressivos versos do padre Paulo Herôncio, que aliava ao seu dinamismo as qualidades de excelente poeta.

Vale acrescentar, que em outubro de 1986, para comemorar o cinquentenário do Primeiro Congresso, o saudoso Monsenhor Antonio Barros e seus colaboradores, realizaram o II Congresso Eucarístico Paroquial, nesta cidade.

Monsenhor Antonio Barros

Não entrarei em detalhes pelo fato de que, naquela época residia no Sul do país. Entretanto, meus conterrâneos que assistiram ou mesmo participaram dos atos litúrgicos e demais solenidades me informaram que o evento se revestiu de pleno êxito e foi bastante aplaudido por toda a comunidade católica mipibuense e grande número de fiéis vindos da capital do Estado, de cidades do Agreste e povoados da vizinhança.

Em seguida passarei a relatar sobre fatos que presenciei por ser um dos integrantes dos adolescentes residentes nesta cidade que comungou pela primeira vez durante aquelas solenidades e, por conseguinte, tomei parte da maioria dos atos litúrgicos realizados no interior da Matriz, como os desfiles e acompanhamentos de passeatas e procissões

 Como é sabido, naquela época, o único meio de transporte regular de passageiros era ferroviário, fazendo o percurso Natal/Nova Cruz/Natal, com parada obrigatória na extinta estação de São José Alto. Pelas estreitas estradas de acesso a São José, transitavam os seguintes veículos movidos a tração animal:  carro de boi, carroça, cabriolé e charrete, sendo os dois últimos destinados a transporte exclusivo de senhores de engenho, fazendeiros e aristocratas e seus familiares, além de animais arreados com sela ou cilhão para transporte individual.

Por tudo quanto foi exposto pode-se concluir da grande dificuldade de locomoção da multidão de fiéis procedentes de distritos e povoados do interior do município, para se fazer presente aos atos solenes daquele apoteótico evento. Muitos caminharam em forma de comitiva e a pé, chegando a São José a noite ou pela madrugada. Todos entoavam hinos alusivos ao congresso.

A comitiva das altas autoridades que compareceu para a abertura das festividades, viajou para esta cidade em vagões de trem especial (chamado também: carro de linha, auto-motriz ou litorina). As demais pessoas aqui chegavam em trens de passageiros, que na época transitavam diariamente - pela manhã e à noite – no sentido Natal/Nova Cruz e vice-versa.

FONTES DE PESQUISA:

História de São José de Mipibú – Editada em 1960 – Autor: Gilberto Barbalho. Pesquisa junto a terceiros e participação do autor em todo evento. Pesquisa dos recortes de Jornais: Fran Moura

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