Habilidades juninas ocultas
Bruna Torres – Jornalista e Escritora @autorabrunatorres A época mais feliz do ano para alguns nordestinos é o São João, mas para além das festividades, comidas típicas e regionalidades, a minha parte favorita sempre foi a quadrilha junina.
Bruna Torres - Jornalista e Escritora @autorabrunatorres
A época mais feliz do ano para alguns nordestinos é o São João, mas para além das festividades, comidas típicas e regionalidades, a minha parte favorita sempre foi a quadrilha junina.
Os vestidos, as pinturas faciais, com pintinhas e um blush avermelhado nas bochechas, me lembram de uma época de escola onde os problemas da vida adulta ainda não permeavam àquela fase, ainda tão cheia de inseguranças e aspirações que hoje, não me parecem mais tão atraentes. Já quis ser tanta coisa, veterinária, psicóloga, mas ser adulta não era o que eu apreciava, eu aproveitei cada gotinha da infância e da adolescência, tenho inúmeras histórias para contar.
Enfim, quando a época junina chega, as músicas que marcaram gerações e hoje já se tornaram tradicionais, começam a tocar na minha mente quase de forma automática, Canários do Reino, Mastruz com Leite, dentre outros…
Apesar de ter crescido numa família com uma pegada evangélica, vovó não tinha tantas intervenções à festividade, lembro que era comum aos meus parentes às vezes também assistirem ao evento que literalmente acontecia na porta de casa, tínhamos que andar somente para atravessar a rua, pois a minha escolinha da época, ficava nas proximidades de casa.
Eu adorava tudo aquilo, as quadrilhas sempre foram minha parte favorita do São João, seja para dançar ou apenas ver as apresentações que sempre foram atrativas, tanto faz se era matuta, com roupas mais comuns ou as estilizadas, com mais cores, brilhos e riqueza de detalhes nas vestimentas.
Há poucos dias, peguei-me pensando na última quadrilha de escola na qual participei, na instituição que mais aprontei na vida (em breve trago crônicas sobre isso, mas acredito que daria quase um livro inteiro, rsrs).
O ano era 2009, e os ensaios aconteciam no terrenos internos de chão batido da escola, por trás das salas de aula, na época, ainda não tinha a estrutura do ginásio que tem hoje, quem dera tivesse, seria a diversão da garotada no recreio.
Lembro que naquela época, não tínhamos fardas e os alunos podiam usar as roupas do dia a dia para assistir às aulas, eu sempre usei o combo: calça jeans, camiseta e All Star, no caso, rosa claro de glitter.
Nos ensaios da quadrilha, notoriamente, eu nunca fui uma pessoa desprovida de vergonhas, pois ficava meio travada durante os ensaios, que antes da definição dos pares, sempre eram repletos de expectativas "Quem vai ser o meu par?" "Quem vai me chamar?" Lembro que não tive tantas preferências assim, o garoto que eu gostava já ia dançar com outra, então, dancei com um conhecido mesmo, foi tranquilo, em partes.
Durante os ensaios, eu tinha muita vergonha e pouca habilidade para dançar, ficava travada, sem me soltar muito e isso se tornava um desafio para o meu par, que vou chamar de H.L.
Dentre ensaios, surgiu um pouco de insegurança da parte dele, pois eu ficava meio travada e ele tinha receio que passássemos vergonha, algo do tipo, mas tudo mudou quando o dia da festa junina se aproximou. Fiz as tranças, a típica maquiagem de pintinhas no rosto, um vestido vermelho e minhas botas de camurça que iam até as canetas, presente de aniversário de vovó, pois os calçados estavam na moda à época. Lembro quando começamos a dançar e meu par ficou impressionado com minha "moleza" como ele colocou e ainda brincou: "aprendeu, hein?".
Lembro-me de ter me divertido bastante, dancei, tirei fotos na minha antiga câmera digital, também um sucesso da época… Fiz fotos com umas amigas, até hoje perdidas em um pendrive antigo de um parente.
Às vezes gostaria de revisitar esses lugares uma última vez, por isso escrevo sobre esses acontecimentos, como um passe mágico de um breve retorno ao passado.
Alguns momentos da vida acontecem tão rápido que logo parecem se transformar em brasas de fogueiras, espalhadas pelo ar, assim como as memórias se tornarão um dia, uma vaga lembrança.
Por isso, o momento deve ser aproveitado como se todos os dias fossem nossos festejos favoritos.